Atirador da Florida confessou crimes. Depois do massacre, refugiou-se num McDonald's

Nikolas Cruz chegou à escola de Uber e depois de abrir fogo desfez-se da arma e misturou-se com a multidão em fuga para escapar do local. É "um ser humano destroçado", diz advogado de defesa no tribunal.

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Nikolas Cruz é acusado de 17 crimes de homicídio premeditado LUSA/SUSAN STOCKER / POOL
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Nikolas Cruz, 19 anos, autor do massacre numa escola secundária de Parkland, no estado da Florida, confessou os crimes à polícia, segundo fontes da investigação. Chegou à escola de Uber, armado com uma arma semi-automática AR-15, comprada legalmente, abriu fogo matando 17 pessoas e ferindo 14 e depois escapou para uma loja Walmart, comprou uma bebida num restaurante Subway e ainda passou por um McDonald's, antes de ser detido. Na quinta-feira, compareceu em tribunal, mãos algemadas ao nível da cintura, num fato-macaco laranja, e apenas falou para confirmar a sua identidade. O resto ficou para os advogados de defesa, que disseram que Nikolas estava "cheio de remorsos" e era "um ser humano destroçado".

As razões para a carnificina continuam por revelar publicamente. Mas as últimas horas serviram para conhecer mais detalhes sobre o contexto em que tudo aconteceu. Nikolas foi acusado de 17 crimes de homicídio premeditado. O FBI admitiu que tinha recebido denúncias contra ele, há cerca de um ano. Aparentemente, Nikolas era um jovem perigoso – e toda a gente sabia. O ataque que perpetrou é o mais mortífero numa escola com arma de fogo desde 2012 nos EUA.

O filme dos acontecimentos é relatado pela generalidade da imprensa norte-americana. O mais próximo do local da tragédia, o Miami Herald, descreve os acontecimentos de forma detalhada, com base em informações reveladas pelo xerife Scott Israel, do condado de Broward. Nikolas chegou ao estabelecimento de ensino (do qual foi expulso em 2017 por problemas disciplinares) às 14h19 locais (mais cinco horas em Portugal continental), transportado por um Uber. Entrou na escola com a arma escondida num saco de desporto preto. Abriu fogo pela primeira vez dois minutos depois, às 14h21. Foi de sala em sala, percorrendo os diversos pisos. Quando o caos estava instalado, desfez-se da arma e do saco, onde ainda havia munições, e escapou do interior do edifício dissimulado no meio da multidão que fugia.

Enfiou-se numa loja Walmart, passou pelo restaurante Subway (onde comprou uma bebida) e ainda visitou um McDonald's. Documentos entregues ao tribunal não adiantam informações sobre as razões que o levaram a este acto. Sabe-se que tinha uma história atribulada. Quando chegou à escola foi reconhecido por funcionários como aquele aluno expulso por um dia ter levado munições numa mochila para o estabelecimento. Quem o conhecia melhor tem vindo a recordar os episódios em que se envolvera. E o facto de a polícia ter ido a casa dele repetidas vezes, algumas das quais por causa do seu comportamento violento. Chegou a molestar um vizinho (atirou ovos ao carro dele) e aparentemente divertia-se a torturar animais, disparando sobre roedores e galinhas.

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Vigília em Parkland, cidade nos arredores de Fort Lauderdale REUTERS/Jonathan Drake

Apesar de todas as descrições feitas por ex-colegas, vizinhos e autoridades, nada é garantido sobre o seu estado de saúde mental. Foi por aí que Donald Trump enveredou quando, horas depois do massacre, comentou a situação. Numa mensagem ao país, transmitida pela televisão, o Presidente dos EUA defendeu que "não chega tomar decisões que nos dêem a impressão que fazem a diferença. Temos mesmo de fazer a diferença", afirmou, prometendo dar prioridade ao tema "segurança na escola" e aos "problemas de saúde mental".

Porém, no que toca a Nikolas Cruz, enquanto não houver perícia, ou registos médicos passados, o argumento é apenas especulativo. Certo é que a arma usada, uma AR-15, tinha sido adquirida legalmente, há cerca de um ano, sendo esta uma versão civil da M-16, de uso militar. Outros ataques com vítimas civis ocorridos nos EUA foram cometidos com o mesmo modelo usado por Cruz, que ficou detido sem fiança, por decisão do tribunal.

Trump prometeu visitar a escola de Parkland, cidade "rica" a 20 quilómetros de Boca Raton e a 30 quilómetros de Fort Lauderdale, a cerca de 70 quilómetros a norte de Miami. A localidade tem sido palco de vigílias desde o mortal tiroteio, que vitimou estudantes e pelo menos um professor, Aaron Feis, cuja morte foi destacada como heróica, porque deu o corpo às balas para proteger estudantes. 

Dos 14 feridos, cinco já tiveram alta e sete continuam em estado crítico, adianta o jornal inglês The Guardian.

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