Chefe de campanha de Trump associado a cedência de informações à Rússia

Paul Manafort, chefe de campanha de Donald Trump em 2016, surge directamente associado à Rússia em mais uma investigação, naquilo que é descrito como uma “ameaça grave à contra-inteligência”.

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Rick Wilking

O quinto volume da investigação à alegada influência russa nas eleições norte-americanas foi divulgado esta terça-feira. O documento de quase mil páginas revela que durante a campanha eleitoral, o governo russo levou a cabo manobras de espionagem com o intuito de fazer com que Donald Trump vencesse as eleições dando conta que pessoas próximas do actual presidente estavam dispostas a ajudar. 

Tal como aconteceu com o relatório Mueller, divulgado em 2019, também o Senado não encontrou provas de uma intervenção directa por parte do governo russo na campanha de Trump. No entanto, o relatório divulgado esta terça-feira identifica um conjunto de contactos entre os conselheiros de campanha de Trump e os serviços de informação russos.

De entre estes contactos, o relatório destaca aqueles conduzidos pelo chefe de campanha de Trump. Segundo o documento, Paul Manafort contactou várias vezes com Konstantin V. Kilimnik, que é identificado como um “oficial de inteligência russo”. Nestes contactos, terá fornecido, alegadamente, documentos e informações confidenciais, o que perfila “uma ameaça grave à contra-inteligência”, como se pode ler no relatório. O comité que conduziu a investigação acredita também que Manafort terá colaborado com Kilimnik e com pessoas pró-Rússia, antes e depois das eleições.

As ligações à Rússia

A relação entre Manafort e Kiliminik é abordada ao longo do relatório. Segundo o documento, o oficial de inteligência russo foi abordado por Manafort de forma a estabelecer e fortalecer ligações com oligarcas ucranianos pró-rússia. Com o passar do tempo, Kilimnik tornou-se o braço direito de Manafort naquela região do globo.

Por isso, em várias ocasiões, Manafort partilhou “informações confidenciais relacionadas com a campanha eleitoral” com o oficial de inteligência. Segundo o relatório, pensa-se terem sido partilhadas informações relacionadas com sondagens e também estratégias de campanha. Ainda assim, o comité acrescenta que foi praticamente impossível aceder às comunicações de Kilimnik, cujo nome pode estar envolvido “no hack da campanha de 2016” que acabou por revelar dados confidenciais dos partidos Democrata e Republicano. No entanto, segundo o documento, Manafort não revelou que informações passou a Kilimnik.

A presença de Kilimnik nestas investigações não é novidade. O relatório Mueller já o mencionava como alguém com ligações directas a Manafort. Esta é, ainda assim, a primeira vez que aparece identificado como um oficial de inteligência russo.

A reunião na Trump Tower

Além disto, o relatório menciona também uma alegada reunião ocorrida em 2016. Nela estiveram presentes membros da campanha de Trump - incluindo o genro e o filho mais velho - e pessoas com ligações ao governo russo, “incluindo os serviços secretos”. No documento, pode ler-se que foi feito um acordo: os Estados Unidos retiravam sanções à Rússia, em troca de informações recolhidas por espiões que poderiam ser úteis à campanha de Trump.

O documento refere também que, em 2015, Donald Trump procurou, através de intermediários, estabelecer uma parceria comercial na Rússia que lhe permitiria encaixar milhões de dólares. Este processo foi conduzido por Michael Cohen, advogado pessoal de Donald Trump à altura dos factos. Enquanto as negociações decorriam, o actual Presidente norte-americano “fazia comentários públicos positivos” sobre Vladimir Putin. Através de um intermediário, Cohen conseguiu chegar a pessoas do círculo próximo do presidente russo.

Com isto, Cohen chegou a um conselheiro de Putin, que o informou acerca de todos os detalhes da proposta no início de 2016. Estas conversas terminaram mais tarde nesse ano, já durante a campanha eleitoral.

Cambridge Analytica

É também feita referência ao caso Cambridge Analytica, concluindo-se que esta empresa, juntamente com a PsyGroup e a Colt Ventures, tiveram um papel activo na campanha de Trump.

Ao longo das 966 páginas do relatório, é revelado que Kilimnik recrutou Sam Patten, um conselheiro político entretanto detido no âmbito do relatório Mueller. Este contacto entre o oficial russo e o conselheiro político foi estabelecido com o objectivo de “organizar uma operação na Ucrânia” com recurso a fundos do Kremlin. Na altura, Patten trabalhava directamente com a Cambridge Analytica. Por isso, a empresa teve acesso a informações relacionadas com sondagens e votações nos estados norte-americanos, conclui o relatório.

Estas informações seriam depois utilizadas por Brad Parscale, um consultor digital da campanha de Trump, que informaria o actual Presidente norte-americano sobre onde intensificar os esforços para ganhar votos.

Apesar destas revelações, não existem, ainda assim, provas que associem directamente a Rússia à Cambridge Analytica ou às outras duas empresas, neste caso concreto.

Texto editado por Ivo Neto 

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