“Fábrica de trolls” russa acusada de interferência nas eleições americanas

A empresa com sede em São Petersburgo montou operações para criticar Hillary Clinton e “apoiar Bernie Sanders e o então candidato Donald Trump”.

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A acusação foi feita pelo procurador especial Robert Mueller Reuters/Yuri Gripas

A equipa que está a investigar as suspeitas de interferência do Governo da Rússia nas eleições presidenciais norte-americanas, liderada pelo procurador especial Robert Mueller, apresentou esta sexta-feira uma acusação formal contra uma conhecida "fábrica de trolls" russa – uma empresa chamada Internet Research Agency, com sede em São Petersburgo, que executa campanhas de desinformação na Internet através de notícias falsas e comentários em redes sociais e sites de jornais.

A acusação, em nome do Departamento de Justiça dos EUA, visa 13 cidadãos russos, 12 deles ligados à Internet Research Agency, também conhecida como "trolls de Olgino" (devido à zona de São Petersburgo em que foi criada) e kremlebots.

"De 2014 até à actualidade, os acusados conspiraram entre eles de forma consciente e intencional (e com pessoas conhecidas e desconhecidas do grande júri) para prejudicarem os EUA mediante a obstrução de funções do Governo, através de fraude, com o objectivo de interferirem nos processos político e eleitoral dos EUA, incluindo as eleições presidenciais de 2016", lê-se na acusação.

Para além da interferência nas eleições norte-americanas, os media russos noticiaram nos últimos anos a existência de campanhas de manipulação da opinião pública sobre a guerra no Leste da Ucrânia, por exemplo – e ligações desta e de outras "fábricas de trolls" ao Governo russo.

"Eles participaram em operações que tinham como principal finalidade comunicar informações depreciativas sobre Hillary Clinton, denegrir outros candidatos como Ted Cruz ou Marco Rubio [adversários de Trump nas primárias do Partido Republicano], e apoiar Bernie Sanders [adversário de Hillary Clinton nas primárias do Partido Democrata] e o então candidato Donald Trump", dizem os investigadores.

De acordo com o texto da acusação, a equipa de Robert Mueller teve acesso a mensagens trocadas entre os 13 russos durante a campanha para as eleições nos EUA – numa das trocas de mensagens, um gestor de um grupo do Facebook chamado "Secured Borders" ("fronteiras seguras") foi criticado por ter poucas mensagens a criticar a candidata Hillary Clinton.

Ainda antes das eleições, em Novembro de 2016, as agências de serviços secretos norte-americanas avisaram a Casa Branca de que estava em curso uma operação russa com o objectivo de influenciar o resultado.

Com a vitória de Trump, as conclusões das agências de serviços secretos norte-americanas foram desvalorizadas pela Casa Branca, e as sucessivas críticas do Presidente ao então director do FBI, James Comey, levaram à nomeação de Robert Mueller como procurador especial – a principal tarefa de Mueller é determinar se a Rússia interferiu nas eleições, e se contou com a colaboração de pessoas ligadas à campanha de Trump, mas rapidamente passou a incluir também a possibilidade de o Presidente norte-americano ter obstruído a Justiça, desde logo quando despediu James Comey, em Maio do ano passado.

Os 13 russos são acusados de conspiração contra os EUA, conspiração para cometerem fraude bancária e roubo de identidade agravado – de acordo com a acusação, estes russos estiveram nos EUA para obterem informações e fizeram-se passar por cidadãos norte-americanos na Internet para tentarem mudar o sentido de voto de eleitores. É quase impossível que venham a responder perante a Justiça norte-americana, mas o facto de serem alvos de uma acusação formal faz com que passem a ser procurados pelos EUA, o que limita bastante os seus movimentos fora da Rússia.

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