Iglesias, sob pressão, reaparece finalmente no sábado

Líder do Podemos não surge em público desde antes das eleições catalãs. Daqui a dois dias vai analisar a situação actual e a apresentar estratégia para 2018.

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Iglesias, em campanha na Catalunha, com Ada Colau e o líder do En Comú Podem, Xavier Domènech
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Iglesias, em campanha na Catalunha, com Ada Colau e o líder do En Comú Podem, Xavier Domènech Alejandro Garcia/EPA

Onde está Pablo Iglesias? A pergunta impõe-se: afinal o líder do Podemos não aparece em público desde 20 de Dezembro, dia de reflexão na Catalunha e data em que se encontrou com vítimas do franquismo em Valência. Ou seja, Iglesias nem sequer comentou os resultados do movimento catalão que junta o seu partido com o de Ada Colau – e que perdeu três deputados e 40 mil votos face à legislatura iniciada em 2015.

“Quando os presidentes dos diferentes grupos parlamentares tinham ido de férias, Iglesias estava a apresentar a lei das mudanças climáticas [15 de Dezembro] no Congresso… Podemos é um projecto colectivo, às vezes comparece Iglesias, outras vez eu ou a co-porta-voz Noelia Vera. Não há qualquer mistério”, assegura o secretário da Organização do partido, Pablo Echenique, citado pelo El País.

Tudo verdade, como verdade é que o Podemos é o único dos grandes partidos que ainda não tinha reunido a sua direcção desde as eleições que permitiram aos independentistas renovar a sua maioria na Catalunha – depois de uma situação inédita de intervenção do Governo de Madrid na comunidade e com parte dos eleitos detidos ou em Bruxelas para evitar a detenção. Aconteceu na quarta-feira, com a reunião do conselho de coordenação do partido. Mas nem depois deste encontro foi Iglesias a aparecer para falar à imprensa.

Sábado será ele a dirigir o Conselho de Cidadãos Estatal (máximo órgão entre congressos) e a apresentar aos principais dirigentes a sua análise à situação política actual e a estratégia para 2018.

“O nosso principal roteiro, no Estado e nas comunidades, é derrubar [o primeiro-ministro, Mariano] Rajoy”, disse entretanto Vera, enunciando “a blindagem dos direitos sociais” e a “regeneração democrática”, assim como a resolução da “questão territorial, que continuará a marcar 2018”, como prioridades programáticas para manter. Ou seja, apesar dos maus resultados na Catalunha e das dificuldades em fazer explicar a sua posição (defendem um referendo negociado, o que implica alterar a Constituição, mas opõem-se à independência da região), o partido não pretende alterar as suas propostas sobre este tema.

Já se sabia que há divergências internas por causa da Catalunha – aliás, o secretário-geral do partido na região (Albano Dante Fachin) demitiu-se depois da declaração feita pelo ex-líder da Generalitat, Carles Puigdemont, na sequência do referendo sobre a independência de 1 de Outubro. Tudo isto contribuiu para o mau resultado, que Echenique explica com fruto “da enorme polarização” em que se votou (soberanistas de um lado, unionistas do outro).

Mas no mesmo dia em que Iglesias se explica ao partido, o seu parceiro de coligação desde as últimas legislativas, a Esquerda Unida (IU) terá a sua Coordenadora Federal (máximo órgão executivo da direcção) reunida. E de acordo com o manifesto preparado pelo seu líder (a que a Europa Press teve acesso), Alberto Garzón vai lançar um apelo ao Podemos para enfrentar o “desgaste” do espaço político da coligação, visível na perda de apoios nas sondagens.

Garzón quer chegar a Abril com um acordo para enfrentar as autonómicas e municipais de 2019, um pacto que saia “do trabalho colectivo” e garanta “a visibilidade de todos os actores”. “A nossa aposta pela convergência [continuidade da coligação Unidos Podemos] é tão forte como maioritária. Mas é preciso que comece a concretizar-se o mais cedo possível para benefício da esquerda e com uma reacção rápida face ao novo contexto”, defende o líder da federação.

Tendo como certo que a Unidos Podemos desceu até “obter os piores resultados das grandes forças” e que isso se deve em parte aos problemas catalães do Podemos, Gárzon identifica “um enorme desgaste no aliado” e nota que “a simpatia pelo Podemos desceu consideravelmente, enquanto a da IU se manteve”. Por tudo isto, quer um debate aberto mas parece já decidido a exigir maior peso da Esquerda Unida dentro da coligação.

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