Votação esmagadora na Lombardia e no Véneto para pedir mais autonomia a Roma

As duas regiões foram chamadas às urnas este domingo, num referendo com carácter de consulta. Não se trata de uma segunda Catalunha, garantem os presidentes das regiões.

Foto
Roberto Maroni diz que esta não é uma repetição da Catalunha LUSA/MATTEO BAZZI

As regiões italianas da Lombardia e do Véneto votaram este domingo a favor de uma descentralização do poder do Governo central, em virtude de conseguir mais autonomia em relação a Roma. De acordo com as primeiras estimativas dos resultados oficiais, mais de 90% das pessoas apoiam a defesa de mais poder para as regiões. Os números mais recentes citados pelo jornal italiano La Stampa mostram que o “sim” à autonomia em relação a Roma conquistou 95,3% das intenções de votos enquanto o “não” apenas 3,9%. Já os votos brancos reuniram 0,8% dos boletins.

Ambos os presidentes argumentam que as regiões do Norte de Itália, responsáveis por cerca de 30% do PIB italiano (a Lombardia é responsável por 20% e o Véneto, que inclui a turística cidade de Veneza, pelos restantes 10%), gastam a sua riqueza para sustentar as regiões do Sul.

De acordo com os primeiros números, a afluência às urnas na região do Véneto terá chegado aos 57%, quando o mínimo era de 50%. Já na Lombardia a participação foi menos expressiva, com cerca de 40% a acorrerem às urnas, ainda assim um número superior ao objectivo definido por Maroni (34%), detalha a Reuters. Conforme se lia nos boletins de voto, as regiões votaram “formas suplementares e condições particulares de autonomia”.

Os autores da consulta pretendem usar os resultados do referendo para negociar acordos financeiros com Roma, que acusam de ser responsável por “gastar” os impostos e responder com serviços públicos de baixa qualidade.

“Os nossos impostos deviam ser gastos aqui, não na Sicília”, argumenta um dos eleitores, Giuseppe Colonna, de 84 anos, em declaração à AFP. Por seu lado, os críticos do referendo lembram que referendos como o deste domingo implicam uma despesa de milhões de euros, desnecessária quando as regiões já têm previsto o direito constitucional de negociar directamente com Roma.

Ao contrário do referendo na Catalunha, que Madrid considerou ilegal, apesar de ser meramente consultivo, este escrutínio está previsto pela Constituição italiana. A consulta ganha dimensão por acontecer numa altura em que se discute a independência da Catalunha.

É, aliás, o presidente da Lombardia, Roberto Maroni, que aponta as diferenças em relação à Catalunha. “Nós queremos continuar na Itália, mas com mais autonomia, enquanto a Catalunha quer tornar-se o 29.º país da União Europeia. Nós, não. Pelo menos por agora”, afirmou em declarações à agência Reuters.

Alguns críticos do referendo acusam o movimento de ser meramente uma manobra de propaganda eleitoral que antecede as eleições gerais do próximo ano.

Giovanni Orsina, professor de História na Universidade de Luiss-Guido Carli, em Roma, avisa que um “sim” em força poderá recuperar a divisão entre Norte e Sul existente antes do século XIX.

A consulta foi marcada por algumas dificuldades técnicas nos boletins electrónicos, conta a imprensa italiana.

Sugerir correcção
Ler 2 comentários