Madrid planeia intervenção na emissora catalã TV3

Estação pública da Catalunha tem sido acusada de não ser neutra.

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Manfiestação pró-independência da Catalunha Gonzalo Fuentes/Reuters

Uma intervenção na televisão pública catalã, a TV3, poderá ser decidida no âmbito da aplicação do artigo 155º da Constituição espanhola, que retira poderes ao parlamento e à Generalitat da Catalunha.

Carmen Calvo, a secretária de Igualdade do PSOE que está a negociar em nome de Pedro Sánchez a aplicação deste artigo, disse que deverá haver uma intervenção nos meios públicos de comunicação social da Catalunha (TV3 e Catalunya Ràdio) para garantir “a neutralidade”. A TV3 tem sido acusada por vários políticos de ser “a voz do independentismo”, como disse o presidente do Partido Popular catalão no parlamento, Xavier García Albiol.

Quanto à aplicação do artigo 155º, fontes disseram ao diário catalão Ara que não sabiam que mecanismos poderão ser accionados para concretizar a medida. O mais provável, antecipam, será “uma via de estrangulamento económico”. O envio de gestores arriscaria um conflito permanente com os trabalhadores, e do outro lado, preparam-se modos de resistir a esta medida: “Temos de ver como é que a estrutura dos funcionários sai a defender a soberania dos departamentos [da Generalitat] e como tornar impossível a aplicação do artigo 155º”, disse o deputado da CUP (Candidatura Unitária Popular) Benet Salellas, citado no jornal El Periódico.

A decisão de incluir um meio de comunicação numa intervenção que vai visar a Economia ou a Segurança assenta na ideia de que esta pode servir para formar opinião.

Num artigo no diário El País, o politólogo Kiko Llaneras mostra os dados das audiências televisivas na Catalunha: 33% dos catalães vê os noticiários nesta televisão, o que é mais do que a percentagem de todos os outros meios combinados (20% não vê informação televisiva). Entre os que vêem a TV3, 75% quer a independência da Catalunha, apenas 18% não quer.

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Estes números são usados, diz o artigo, para “denunciar uma espécie de doutrinação através da televisão”, mas o mais provável é “a relação entre televisão e independência aconteça ao contrário”, ou seja, “não é a televisão que produz a ideologia, mas quem escolhe tem em conta, em parte, a ideologia”.

Os dados mostram ainda que a TV3, cuja audiência vinha a descer, reverteu a tendência e alcançou os melhores números de sempre depois do anúncio do referendo a 1 de Outubro, uma consulta que foi considerada ilegal pelo Governo central.

O artigo do El País acrescenta que “muitas pessoas verão a TV3 porque é a televisão em catalão”. Mas TV3 tem sido vista como a emissora dos independentistas, assim como, por outro lado, a TVE tem sido considerada a televisão dos que são contra a independência.

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