Morreu Lee Kuan Yew, o arquitecto da Singapura moderna

Tinha 91 anos e estava internado com uma pneumonia. Foi primeiro-ministro entre 1959 e 1990 e transformou a cidade-estado num centro financeiro mundial.

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O funeral vai decorrer no próximo domingo MOHD FYROL/AFP
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Lee Kuan Yew, o primeiro chefe de Governo de Singapura e principal responsável pela transformação da cidade-estado de uma colónia britânica num centro financeiro mundial, morreu nesta segunda-feira, aos 91 anos.

A morte de Lee Kuan Yew motivou reacções um pouco por todo o mundo. O Presidente dos EUA, Barack Obama, descreveu o antigo líder político como "um verdadeiro gigante da História", que aconselhou inúmeros líderes políticos internacionais ao longo dos anos.

Apesar dos elogios pelo desenvolvimento económico, Lee foi alvo de muitas críticas internas por não permitir a liberdade de imprensa e por reprimir manifestações e opositores políticos.

Primeiro-ministro entre 1959 e 1990, Lee Kuan Yew tinha deixado de surgir em público com frequência há alguns anos, mas continuava a ser uma figura influente no Governo do actual primeiro-ministro e seu filho mais velho, Lee Hsien Loong.

"O primeiro dos nossos pais fundadores desapareceu. Ele inspirou-nos, deu-nos coragem e trouxe-nos até aqui", disse o actual primeiro-ministro, visivelmente emocionado, numa comunicação transmitida pela televisão. "Para muitos cidadãos de Singapura, e para muitos outros, Lee Kuan Yew era a própria Singapura", afirmou.

A cidade-estado vai estar oficialmente de luto até ao funeral, marcado para o próximo domingo – depois de uma cerimónia privada só para a família, o corpo do primeiro chefe de Governo de Singapura estará em câmara-ardente no Parlamento, de quarta-feira até sábado.

Apesar do choque pela morte de um dos políticos mais influentes da Ásia nas últimas décadas, a notícia não foi propriamente uma surpresa, devido à idade avançada do antigo líder e ao facto de ter sido recentemente internado para ser tratado a uma pneumonia.

"Estou muito triste. Ele é o meu ídolo. Tem sido muito bom para mim, para a minha família e para toda a gente. A sua maior conquista foi ter construído a actual Singapura a partir do nada", disse à agência Reuters Lua Su Yean, de 64 anos.

Lee Kuan Yew, também designado como "o arquitecto de Singapura", chegou ao poder em Junho de 1959 e liderou a sua formação política, o Partido de Acção Popular, de centro-direita, em oito vitórias consecutivas, até Novembro de 1990.

Quando foi eleito primeiro-ministro, Singapura estava ainda sob o poder britânico, embora com autonomia sobre todas as matérias internas. Em 1963, na sequência de um referendo de que não constava a opção "Não" (eram propostos diferentes graus de autonomia e 95,82% votaram a favor do mais elevado), Singapura passou a integrar a Malásia, mas a união durou pouco tempo – em 1965, por decisão das autoridades malaias e contra a vontade de Lee Kuan Yew, que via essa integração como fundamental para o desenvolvimento de Singapura, o território passou a ser um Estado independente.

A falta de recursos naturais – e a consequente dependência da Malásia – deixou Lee Kuan Yew com o governo de um território muito frágil, e foi a transformação operada nas décadas seguintes que lhe valeu os louvores nacionais e internacionais.

Nascido em 1923 e baptizado como Harry Lee Kuan Yew, licenciou-se em Direito em Inglaterra, na Universidade de Cambridge. Apesar de elogiado pelo "milagre" económico de Singapura, liderou o território com mão pesada em relação aos seus opositores políticos, com o argumento de que eram necessárias leis duras para garantir a segurança do país. "Temos de prender pessoas, sem julgamento, independentemente de serem comunistas, chauvinistas da língua ou extremistas religiosos. Se não fizéssemos isso, o país estaria em ruínas", disse Lee Kuan Yew em 1986.

Entre outro tipo de medidas, Lee proibiu os homens de usarem o cabelo comprido na década de 1970, o que levou a alguns protestos, com o cancelamento de concertos de bandas como os britânicos Led Zeppelin e os Bee Gees. Ainda hoje, é proibida a venda de pastilhas elásticas e os graffiti são punidos com castigos corporais. As relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo são consideradas um crime punível com pena de prisão até dois anos.

"Ele conseguiu criar um sistema a partir do caos, nos primeiros tempos de Singapura", disse à Reuters Isaac Seow, de 29 anos, um jovem que aguardava notícias sobre o estado de saúde de Lee à entrada do hospital. "Para mim, o seu traço mais importante era a sua vontade indomável. Ame-se ou odeie-se, a verdade é que ele conseguiu fazer o seu trabalho."

O fascínio que Lee Kuan Yew exerce sobre várias gerações de líderes políticos fica demonstrado nas manifestações de pesar, que chegaram a Singapura de Washington a Pequim, passando por Londres.

"A morte de Lee Kuan Yew é uma perda tão grande para a comunidade internacional como para Singapura", disse o Presidente chinês, Xi Jinping.

Em comunicado, o Presidente dos EUA acrescentou que "os pontos de vista de Lee sobre as dinâmicas da Ásia e a gestão da economia eram respeitados por muitos em todo o mundo, e muitos líderes políticos desta e de outras gerações pediram-lhe conselhos sobre governação e desenvolvimento".

Também o primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, enviou as suas condolências: "O seu lugar na História está assegurado, como líder e como um dos principais estadistas do mundo moderno. Foi sempre um amigo do Reino Unido, embora por vezes tenha sido um amigo crítico, e muitos primeiros-ministros britânicos, como eu, beneficiaram dos seus sábios conselhos."

Depois de ter saído da chefia do Governo, em 1990, Lee Kuan Yew continuou a marcar presença no executivo até 2011 e foi deputado até à sua morte.

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