Viúva de Helmut Kohl queria Orbán, e não Merkel, a discursar no funeral

Cerimónia pública está marcada para o dia 1 de Julho e vai decorrer em Estrasburgo.

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Kohl e a segunda mulher, pouco antes da morte do estadista alemão EPA

Menos de uma semana depois da morte de Helmut Kohl, estalou uma polémica entre a sua viúva, os seus filhos e o seu partido (CDU) sobre o funeral e o legado do estadista alemão que liderou a Alemanha no período do fim da Guerra Fria e da reunificação. Segundo a revista Der Spiegel, a segunda mulher de Kohl, Maike Kohl-Richter, tentou impedir a chanceler Angela Merkel de discursar na cerimónia, tendo proposto o primeiro-ministro húngaro, Viktor Órban.

Para além de ter sido mentor de Angela Merkel, Helmut Kohl foi também mentor de Viktor Órban depois de 1989, quando este era um político liberal, nos primeiros anos após o colapso do Leste europeu comunista. Mas Orbán foi mudando e tornou-se um primeiro-ministro anti-União Europeia e autoritário, o que para muitos é a antítese do legado de Kohl.

Maike Kohl-Richter também está em choque com um dos filhos do estadista, Walter, que acusou a viúva de não o ter recebido na casa do casal para falar dos preparativos do funeral – o que ela desmentiu.

O cristão-democrata foi aclamado por ter sido o estadista que agarrou a oportunidade do colapso do poder soviético no Leste da Europa para fazer o que muitos pensavam ser impossível: reunificar a Alemanha. Na próxima semana, Kohl terá um funeral de Estado europeu pelo papel que desempenhou na integração que fez nascer a União Europeia e a moeda única.

Kohl ficou isolado quando saiu do poder, em 1998, e o seu legado ficou manchado devido a um escândalo de financiamento ilegal da CDU.

O antigo chanceler voltou a casar-se em 2008, depois da morte da primeira mulher, Hannelore, em 2001. Trinta e quatro anos mais nova do que o marido, Kohl-Richter protege com muito zelo o legado dele, guardando em casa muitos documentos oficiais.

Kohl distanciou-se também do partido. Nunca perdoou a Merkel a punhalada nas costas que levou ao seu afastamento no auge do escândalo das doações ilegais. Merkel era a secretária-geral do partido e afastou-o com um artigo num jornal em que disse que o partido tinha de aprender a viver sem "o seu velho cavalo de batalha".

Muitos dizem que Kohl já estava muito fragilizado quando se aproximou de Orbán, agora um crítico da política de portas abertas de Merkel em relação aos refugiados sírios. Mas Orbán fez rasgados elogios a Kohl: "Ainda o vejo à minha frente – o meu querido amigo e mentor – a dizer 'Europa, Europa'", escreveu Viktor Orbán na carta de condolências que enviou à viúva.

Kohl-Richter foi convencida a abandonar as objecções contra Merkel. Um porta-voz do Governo confirmou que a chanceler falará na cerimónia fúnebre, que se realiza em Estrasburgo a 1 de Julho.

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