Manifestações violentas fazem pelo menos dois mortos

Os protestos, que já duram há sete dias, fecharam portos de mercadorias, fronteiras e o acesso a uma importante exploração petrolífera. Os confrontos com a polícia já fizeram dezenas de feridos.

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Os confrontos em Basra Reuters/ESSAM AL-SUDANI

Há sete dias que os iraquianos saem à rua para pedir água limpa, electricidade, melhores serviços (como recolha de lixo) e oportunidades de trabalho. Os protestos nas cidades ao sul já fizeram pelo menos dois mortos, de acordo com as autoridades. As forças de segurança estão em alerta máximo, decretado pelo primeiro-ministro, Haider al-Abadi, este domingo. A Internet está bloqueada na capital, Bagdade, de acordo com a decisão do Conselho de Segurança Nacional, para impedir que as manifestações progridam.

Centenas de iraquianos unem-se em protesto, ocupando edifícios governamentais, cortando estradas, ateando fogos, impedindo o acesso a uma importante exploração petrolífera em Basra (onde se situam cerca de 70% das reservas de petróleo do país) e fechando o porto de mercadorias de Umm Qasr. Pelo menos duas pessoas morreram em confrontos contra as forças de segurança iraquianas, na cidade de Samawa (a 270km sul de Bagdade), de acordo com as autoridades ouvidas pela Reuters.

“Centenas de pessoas tentaram forçar a entrada num tribunal. Foram disparados tiros contra nós. Não é claro quem estava a disparar. Não tivemos outra opção senão abrir fogo”, disse um polícia à Reuters. Este é um dos métodos usados para desmobilizar manifestantes, a par do gás pimenta e dos canhões de água.

Em Basra, outra cidade a sul, 48 pessoas ficaram feridas depois de a polícia de ter aberto fogo para dispersar uma multidão de centenas que tentou entrar num edifício governamental. Do lado das forças de segurança, registaram-se pelo menos 28 feridos. 

A história é semelhante noutras cidades: numa localidade perto de Amara, a polícia disparou para o ar para dispersar manifestantes depois de estes terem ateado fogo a um edifício municipal. Ficaram 20 pessoas feridas — 13 manifestantes e sete polícias.

O tráfego aéreo esteve suspenso temporariamente na sexta-feira devido aos manifestantes que entraram no aeroporto de Najaf, principal santuário xiita do mundo, no Sul do Iraque. Neste domingo, as companhias de aviação estatais do Kuwait, Jordânia e Irão suspenderam os voos para esse aeroporto, citando razões de segurança. A Flyudubai seguiu-lhes o exemplo: os voos desta companhia estão cancelados desde sábado e até 22 de Julho.

As duas maiores fronteiras — em Safwan, com o Kuwait e em Shalamcheh com o Irão —, foram fechadas a pessoas e bens de acordo com um responsável fronteiriço, que falou à Al Jazeera.

O ayatollah Ali al-Sistani, o mais alto representante da maioria xiita iraquiana, expressou solidariedade para com os manifestantes — também eles maioritariamente xiitas. Uma intervenção rara para um ayatollah que prefere manter-se fora da política, mas que defende que os habitantes a Sul se batem com uma “falta extrema de serviços públicos”.

A pressão aumenta sobre o primeiro-ministro Haider al-Abadi, que tinha esperança de cumprir um segundo mandato. Estes protestos chegam numa altura sensível para o Iraque — que espera a recontagem dos votos das eleições de Maio, vencidas pela coligação formada por Moqtada al-Sadr, antes que se consiga formar um novo governo, explica a ABC News. Foram as quartas eleições desde a invasão norte-americana que depôs Saddam Hussein, em 2003 — para além de terem a adesão mais baixa dos últimos 15 anos, estão envoltas de alegações de corrupção e fraude.

O partido de Haider al-Abadi, Dawa, domina a política iraquiana desde 2003, mas são muitos os que lhe apontam críticas: “O partido Dawa está à frente do Iraque há 15 anos e os seus líderes falharam todas as promessas que fizeram”, disse Ziad Fadhil, desempregado de 38 anos, ouvido pela Reuters.

“Desde a queda de Saddam, em 2003, até agora, a única coisa que os políticos xiitas têm estado a dizer é mentiras”, disse Usama Abbas, 25 anos, desempregado com estudos superiores. Apesar do dinheiro resultante do petróleo, as populações ainda bebem “água imunda” e sofrem com cortes na electricidade: “Já nos esquecemos do que é um ar condicionado no Verão.”

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