Remodelação no Governo britânico expõe fragilidade de Theresa May

Um ministro convenceu a chefe do Governo a mantê-lo, enquanto outra ministra se recusou a mudar de pasta e saiu. As figuras mais importantes, e controversas, mantiveram-se.

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May idera a primeira reunião do Governo após a remodelação,May idera a primeira reunião do Governo após a remodelação Reuters,Reuters
O ministro britânico dos Negócios Estrangeiros, Boris Johnson, chega a Downing Street para ser recebido por May
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O ministro britânico dos Negócios Estrangeiros, Boris Johnson, chega a Downing Street para ser recebido por May FACUNDO ARRIZABALAGA/EPA

A remodelação governamental levada a cabo pela primeira-ministra britânica era vista como uma oportunidade para Theresa May reforçar a autoridade e apresentar uma equipa inspirada depois de vários desaires nos últimos tempos.

Mas, concorda a imprensa britânica desta terça-feira, não foi nada disso que conseguiu. “Se isto era um modo de mostrar que tinha poder para remodelar o seu Governo, então mostrou exactamente o contrário”, comentou um deputado conservador ao jornal The Independent.

A remodelação começou na segunda-feira com os cargos mais importantes e terminou esta terça-feira com os secretários de Estado. Foi provocada por algumas saídas recentes, como a de Damian Green, que mentiu sobre ter conteúdos pornográficos num computador de trabalho, Michael Fallon (Defesa), acusado de assédio sexual, ou Priti Patel (Desenvolvimento Internacional) que teve reuniões secretas com governantes de Israel.

Mas logo os primeiros indícios foram de confusão, com a nomeação do novo presidente do partido (May é a líder dos tories, o presidente é quem tem a responsabilidade pela organização do aparelho): a conta oficial do Partido Conservador no Twitter anunciou que Chris Grayling (aliado próximo de May) seria o próximo presidente mas depois a mensagem foi apagada. Afinal foi nomeado para o cargo Brandon Lewis.

As mudanças na hierarquia do partido foram, apesar de tudo, as vistas de forma mais positiva nesta remodelação, com Lewis e o seu vice, James Cleverly, a serem indicados como pessoas que podem ter um impacto positivo.

De resto, os ministros mais importantes, e alguns dos mais controversos, continuam no Governo.

Philip Hammond, das Finanças, que May terá querido afastar, manteve-se, tendo sido fortalecido “pela não-implosão do seu orçamento no Outono”, comenta a revista New Statesman.

Boris Johnson, o ministro dos Negócios Estrangeiros, também continua, apesar de ter dado a May “todas as razões para o despedir”, continuava a New Statesman. Não era claro se aludia à publicação de um artigo do chefe da diplomacia com a sua “visão para o Brexit” dias antes de May fazer um discurso com a sua visão, ou a gaffes como a relativa a uma britânica presa no Irão. Johnson disse que ela estava lá a “treinar jornalistas”, deixando-a numa posição vulnerável já que é acusada de sedição pelo regime – entretanto Johnson corrigiu a sua afirmação dizendo que Nazanin Zaghari-Ratcliffe estava de férias no Irão.

Mais estranho foi o caso do ministro da Saúde, Jeremy Hunt, alvo de críticas sobre a gestão do serviço nacional de saúde e a “crise de Inverno”, com cirurgias planeadas adiadas devido à “pressão” sobre o sistema, e que, nos planos de May, deveria ter sido afastado.

Hunt recusou-se a sair e após a reunião com May ficou ainda com mais competências no seu ministério. Hunt, diz a BBC, argumentou de modo tão apaixonado que convenceu May a deixá-lo ficar.

Já Justine Greening, da Educação, recusou mudar de pasta e decidiu  sair do Governo após duas horas de reunião com a primeira-ministra, que a tentou convencer a ficar. Greening é anti-"Brexite a sua passagem do Governo para o Parlamento não é uma boa notícia para May.

A remodelação era vista como uma rara oportunidade para May após uma série de desaires, como as eleições que convocou e nas quais acabou por perder a maioria, e vinha na sequência de boas notícias de Bruxelas (a primeira-ministra conseguiu progressos suficientes para passar à próxima fase de negociações do "Brexit").

Mas, como dizia a editora de política do diário The Guardian Heather Stewart, “no final do dia de segunda-feira Theresa May deve-se ter sentido como todos os outros trabalhadores britânicos que regressaram aos seus locais de trabalho para o novo ano com as melhores intenções, mas logo perceberam que as resoluções que fizeram não iriam resistir à realidade”. Isto porque “as idas e vindas ficaram longe da ideia de renovação radical que vinha a ser apresentada”.

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