Trump ataca FBI por causa de ataque a escola, alunos atacam Trump

Presidente norte-americano acusa a agência de ter “ignorado todos os sinais emitidos pelo atacante da escola na Florida” enquanto perdia "demasiado tempo" a tentar provar um “conluio” que não existe.

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Emma Gonzalez, um dos principais rostos da contestação dos alunos à actuação de Trump Reuters/JONATHAN DRAKE
Angelina Lazo, uma estudante de 18 anos do liceu onde foram mortas 17 pessoas, num protesto que pede mais controlo no acesso às armas em Coral Springs, Florida
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Angelina Lazo, uma estudante de 18 anos do liceu onde foram mortas 17 pessoas, num protesto que pede mais controlo no acesso às armas em Coral Springs, Florida Reuters/JONATHAN DRAKE

Nas manifestações que se seguiram ao ataque no liceu Marjory Stoneman Douglas, na Florida, pediram-se regras mais restritivas e fizeram-se críticas ao Presidente Donald Trump por receber apoios da National Rifle Association (NRA), poderosa organização que tem feito lobby para que não sejam impostas limitações à compra de armas.

"Precisamos de perceber que este não é só um assunto de saúde mental. Ele não teria magoado tantos alunos com uma faca", afirmou a aluna do último ano do liceu Emma Gonzalez (no vídeo, em baixo), num discurso emocionado perante colegas e professores. "Temos de parar de culpar as vítimas e culpar as pessoas que permitiram que isto acontecesse. E não estou a falar do FBI, estou a falar de quem vivia com ele, dos vizinhos que o viram com armas, de quem lhe vendeu as armas..."

Gonzalez dirigiu-se directamente ao Presidente para afirmar que se ele lhe dissesse "que lamenta a tragédia" e "que não há nada a fazer", ela lhe perguntaria quanto recebeu da NRA durante a campanha. Um dos grandes financiadores de Trump, a NRA investiu 11,4 milhões para ajudar a elegê-lo, parte dos 14,5 milhões que usou em anúncios para candidatos republicanos.

Já Donald Trump repreendeu o FBI por ter “ignorado todos os sinais emitidos pelo atacante da escola na Florida”. Na sua conta na rede social Twitter, um dos palcos preferidos do Presidente, critica esta agência federal por não ter evitado o ataque (que resultou em 17 mortos e 14 feridos), apesar de ter sido alertado, atribuindo esse facto à investigação que está a conduzir para provar que existe uma ligação da Rússia à campanha que o levou à Presidência.

“É muito triste que o FBI tenha falhado todos os sinais dados pelo atirador da escola na Florida. Isto não é aceitável”, escreveu. “Estão a gastar demasiado tempo a tentarem provar o conluio russo com a campanha Trump. Não há conluio nenhum. Concentrem-se no essencial e deixem-nos a todos orgulhosos!”

Depois das declarações de Trump no Twitter, alguns alunos da escola secundária onde aconteceu o ataque reagiram, indignados. "Sabe o que é que é inaceitável?", perguntou uma estudante ao Presidente, no Twitter — "Culpar toda a gente, à excepção do atirador e da falta de controlo de armas no nosso país. Até culpou os estudantes. Nós denunciámo-lo [o atirador], nós tentámos. Mas como é que poderíamos saber o que iria acontecer?". "Os meus amigos foram brutalmente assassinados e tu tens a lata de fazer com que isto seja sobre a Rússia. Não acredito nisto", disse outra aluna.

Críticas ao FBI 

Em Janeiro, o FBI recebeu uma pista de que Nikolas Cruz, o jovem de 19 anos que é o autor confesso do mais recente tiroteio num liceu americano, poderia tentar algo deste género. A informação chegou através de uma pessoa próxima do estudante, que fora expulso do liceu Marjory Stoneman Douglas por mau comportamento. A agência federal não investigou essa suspeita, como admitiu em comunicado na sexta-feira, e não a deu a conhecer à delegação de Miami.

Entre os “sinais” que o FBI terá “ignorado”, para usar a palavra escolhida pelo Presidente, estão mensagens que o estudante publicou nas redes sociais e o facto de Cruz ter acesso a uma arma.

De acordo com a Fox News, as falhas no caso Nikolas Cruz, entretanto acusado de 17 crimes de homicídio premeditado, levaram já o procurador-geral dos EUA, Jeff Sessions, a ordenar uma revisão dos procedimentos do FBI. Diz ainda esta televisão e a agência de notícias Associated Press que Marco Rubio, republicano que é senador pela Florida, pediu ao Congresso que lançasse uma investigação às operações desta agência federal que tem estado debaixo de fogo desde que Trump chegou à Casa Branca.

Outro republicano, Rick Scott, o advogado que é o actual governador da Florida, pediu já ao director do FBI, Christopher Wray, que se demita.

Trump e os republicanos que o apoiam têm criticado o FBI nos últimos meses. Não gostaram que a agência não acusasse Hillary Clinton de crime no caso dos emails – a candidata democrata à presidência usou servidores pessoais para trocar mensagens electrónicas durante o seu mandato como secretária de Estado, entre 2009 e 2013 – e acreditam que falta imparcialidade ao procurador especial Robert Muller, que investiga as suspeitas de interferência russa nas eleições norte-americanas.

Na semana passada, na sequência do trabalho desenvolvido por Muller e por uma grande equipa de investigadores, 13 russos foram acusados de interferência. Trump tem negado constantemente qualquer ligação ou interferência de Moscovo.

O tiroteio no liceu Marjory Stoneman Douglas, o mais mortífero numa escola americana desde 2012, reiniciou o debate, aliás recorrente, sobre a lei que regula o acesso a armas nos Estados Unidos. 

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