Ucranianos retirados da China recebidos com pedras a caminho da quarentena

Presidente ucraniano salienta “o perigo de nos esquecermos de que somos todos humanos”. Autoridades garantem que os 45 ucranianos e 27 estrangeiros foram testados duas vezes e não estão infectados com o coronavírus.

Pelo menos dois autocarros ficaram com janelas partidas
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Pelo menos dois autocarros ficaram com janelas partidas Reuters/VALENTYN OGIRENKO
Wuhan
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Centenas de polícias foram enviados para a região Reuters/VALENTYN OGIRENKO
Novi Sanzhary
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O grupo vai ficar de quarentena 14 dias Reuters/VALENTYN OGIRENKO

Habitantes de uma cidade no centro da Ucrânia envolveram-se em confrontos com a polícia, na noite de quinta-feira, e atiraram pedras contra seis autocarros que transportavam 45 ucranianos e 27 estrangeiros retirados da província chinesa de Hubei, o epicentro do surto do novo coronavírus.

Alguns manifestantes e agentes da polícia ficaram feridos na sequência dos confrontos, diz a agência Reuters.

Os residentes em Novi Sanzhari receiam ficar infectados com o coronavírus, apesar de as autoridades garantirem que não há perigo e depois de um apelo especial do Presidente ucraniano, Volodimir Zelensky.

A Ucrânia não tem nenhum caso de coronavírus.

Os ânimos ficaram mais tensos ao cair da noite após um dia de impasse, com os manifestantes a bloquearem uma ponte que leva ao sanatório onde o grupo vai ficar em quarentena durante 14 dias.

Centenas de polícias e um veículo blindado foram destacados para manter a ordem.

Além dos 45 ucranianos retirados da China, 27 cidadãos de outros países chegaram no avião que aterrou na Ucrânia na quinta-feira, incluindo cidadãos da Argentina, República Dominicana, Equador, El Salvador e Costa Rica.

Uma mulher ucraniana recusou-se a ser retirada da China à última hora por não ter sido autorizada pelas autoridades chinesas a levar o seu cão, disse a embaixada ucraniana em Pequim.

Zelensky apela à empatia

As autoridades ucranianas dizem que todos os passageiros a bordo foram testados duas vezes antes de serem autorizados a entrar no avião, mas isso não foi suficiente para acalmar os manifestantes.

“Não há outro lugar na Ucrânia que possa hospedar 50 pessoas, em aldeias mais ou menos remotas ou em áreas distantes onde não há ameaça para a população?”, questionou um dos habitantes, Iuri Dziubenko.

Um manifestante foi ouvido a sugerir que deveriam ser mantidos em Tchernobil, o local do pior desastre nuclear do mundo, em 1986. Outro sugeriu levá-los para o Parlamento, enquanto outro disse que o Presidente Zelensky deveria abrigá-los ele mesmo se realmente acredita que não há perigo.

Um sistema de saúde frágil, um elevado índice de corrupção e desconfiança em relação às autoridades são comuns na Ucrânia, que recentemente também enfrentou uma epidemia de sarampo agravada pela relutância de alguns pais em vacinarem-se a si mesmos e aos seus filhos.

O protesto levou Zelensky a emitir uma declaração para dizer aos ucranianos que não há perigo de contágio na Ucrânia.

“Mas há outro perigo que eu gostaria de mencionar”, disse o Presidente ucraniano. “O perigo de nos esquecermos de que somos todos humanos, e que somos todos ucranianos.”

A China registou uma queda de novos casos na província que é o epicentro do surto de coronavírus. Há mais de 76.000 casos registados, a esmagadora maioria na China, e 2247 mortes relacionadas com o vírus.

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