Um mar de papoilas recorda os mortos da I Guerra nos 96 anos do Armistício

França coloca fichas militares de todos os soldados de 1914-1918 online

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"Terras Cobertas de Sangue e Mares de Vermelho" é o nome da instalação de Londres JUSTIN TALLIS/AFP
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Paul Cummins (o segundo na fila), o artista plástico que criou a instalação das papoilas Stefan Wermuth/ReUTERS
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Presidente François Hollande tirou "selfies" nas cerimónias junto ao Arco do Triunfo, em Paris FRANCOIS MORI/AFP
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Veteranos franceses da II Guerra participam em comemorações do final I Guerra JEFF PACHOUD/AFP
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Entusiastas com uniformes como os que os soldados franceses usaram até 1916 FRANCOIS GUILLOT/AFP

A Torre de Londres ficou nesta terça-feira rodeada de um mar de 888.246 papoilas vermelho-sangue, em memória de todos os soldados britânicos mortos na I Guerra Mundial. São de cerâmica e é uma instalação do artista plástico Paul Cummins que recorda os campos de batalha da Flandres francesa e belga, onde tantos soldados britânicos encontraram a morte na guerra que transformou a Europa e que terminou oficialmente há 96 anos.

A comemoração de Londres foi talvez de maior impacto visual na cerimónias que aconteceram um pouco por todo o mundo para recordar o dia do Armistício de há um século – o 11º dia do 11ª mês de 1918, em que todas as armas foram mandadas calar-se, às 11h00, após quatro anos de uma guerra mortífera em que terão morrido mais de 37 milhões de combatentes.

França foi atravessada de Norte a Sul durante todo o tempo da guerra (1914-1918) por um sistema de trincheiras que se revelou praticamente imutável, opondo essencialmente o exército alemão aos franceses, britânicos e seus aliados (entre os quais o Corpo Expedicionário Português, que combateu na região na Flandres Francesa). Só a chegada da ajuda americana permitiu desatar o nó. O dia em que se comemoram 96 anos do fim da Grande Guerra foi escolhido para inaugurar uma enorme base de dados online onde foram colocadas as 8,5 milhões de fichas militares dos soldados que combateram com o uniforme francês.

O site Grand Mémorial está disponível a partir do site Memoire des Homes do Ministério da Defesa francês, e nele é possível fazer vários tipos de pesquisa sobre os soldados, com breves descrições físicas, bem como indicações como a profissão ou o nível de instrução, relata o Le Monde. Estes documentos estavam espalhados nos vários Departamentos franceses, mas foram reunidos, digitalizados e indexados, num trabalho iniciado em 2008 e que deverá estar completamente terminado em 2018.

O Presidente François Hollande presidiu às cerimónias oficiais, inaugurando um memorial na Picardia, no Nordeste do país, com o nome dos 579.606 soldados que morreram naquela região, sem distinção de nacionalidade ou religião. O monumento chama-se Anel da Memória. “As novas gerações devem compreender que que o combate pela paz nunca acaba”, disse o Presidente francês ao jornal Voix du Nord.

O governante recordou as guerras da ex-Jugoslávia, mas também a que agora está a acontecer no Leste da Ucrânia, e a ameaça do terrorismo e dos “grupos fundamentalistas que ocupam territórios da Síria e do Iraque para ali instalarem a sua barbárie.”

Mas a actualidade francesa entrou rudemente no que deveria ser uma evocação do que as divisões extremas e a política feita sem uma visão ampla das consequências podem provocar: um avião com uma faixa a dizer “Hollande demissão” sobrevoou o memorial de Nossa Senhora do Loreto, antes de o Presidente o inaugurar, causando um caso político em França. Foi afastado da zona por um helicóptero e um avião da Força Aérea.

Na capital britânica o foco das comemorações foi a Torre de Londres – 17.500 voluntários colocaram as papoilas de cerâmica, e 8000 vão começar a desmontar a instalação na quarta-feira. Algumas vão ser vendidas a 25 libras cada, e espera-se conseguir uma soma perto dos 15 milhões de libras, que reverterá a favor de seis organizações sem fins lucrativos, disse o primeiro-ministro David Cameron. Outras vão andar em tournée, antes de irem para os Museus da Guerra em Londres e Manchester.

Mas um pouco por todo o Reino Unido o país parou uns minutos às 11h00 para recordar as vítimas da Primeira Guerra. Até a selecção nacional de futebol parou um treino para fazer um minuto de silêncio.

O mesmo aconteceu em muitos outros locais espalhados pelo mundo. Em Ypres, na Bélgica – um país especialmente martirizado pela guerra – houve cerimónias, coroas de flores, desfiles militares e de bandas. Na Austrália, na Sérvia, em todos os países que têm uma forte memória da Primeira Guerra Mundial, o dia do Armistício não passou despercebido. 

Notícia corrigida às 17h40. O Armistício foi há 96 anos e não há 100 anos como erradadamente estava escrito anteriormente

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