Manuel Valls quer candidatar-se à câmara de Barcelona pelo Cidadãos

Ex-primeiro-ministro francês foi desafiado por Albert Rivera para se candidatar na cidade onde nasceu e não escondeu interesse. Eleições são em 2019.

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Manuel Valls foi entrevistado pela TVE Ballesteros/EPA

Manuel Valls está a ponderar candidatar-se à câmara de Barcelona, cidade onde nasceu há 55 anos. O antigo primeiro-ministro de França confirmou nesta sexta-feira que está a “estudar” a proposta apresentada por Albert Rivera e pelo Cidadãos para ser o seu candidato nas eleições municipais agendadas para Maio de 2019.

“Interessa-me continuar o debate independentista e vou estudar [a proposta]”, afirmou o antigo dirigente político do Partido Socialista francês, entrevistado pela TVE espanhola. 

Valls nunca renegou as suas raízes catalãs e tem sido uma figura empenhada na defesa do constitucionalismo, em contraposição com a causa independentista. O candidato derrotado nas primárias da esquerda para as presidenciais francesas (2017) defende que “Espanha é um Estado de Direito” e que possui “uma das Constituições mais democráticas do mundo”.

Embora Manuel Valls se tenha naturalizado francês aos 20 anos, o Tratado de Maastricht, de 1992, diz que os cidadãos da União Europeia que residam num outro Estado-membro da UE que não o seu país de origem podem votar e apresentar a sua candidatura às eleições municipais e europeias nas mesmas condições que os cidadãos nacionais desses países, explica o Le Monde. Isso implicaria, no entanto, que o ex-primeiro-ministro francês mudasse de residência - e de foco na sua carreira política.

Talvez essa mudança não fosse assim tão má para Valls. O ex-primeiro-ministro recuperou em Espanha alguma da influência que viu fugir entre os dedos em França. Tem sido uma das vozes europeias a elevar-se mais alto contra o independentismo catalão e a defender que o ex-presidente da Generalitat, Carles Puigdemont, se deve entregar às autoridades espanholas. 

Sobre a crise que mantém a Catalunha sem governo e bloqueada politicamente há vários meses, Valls não tem uma visão optimista: “O projecto separatista morreu com a resposta do rei e da Europa, mas as suas ideias continuarão e o processo será longo, porque a sociedade está muito dividida”, disse.

É por este motivo que está a ser cortejado pelo Cidadãos, um partido claramente anti-independência - e que foi o mais votado nas eleições de  21 de Dezembro na Catalunha, convocadas no âmbito da aplicação do artigo 155 da Constituição espanhola na Catalunha.

"Valls tornou-se o chuchu dos media espanhóis", escreve o Le Monde. Senão vejamos: quinta-feira, debateu com o ex-chefe do governo Felipe Gonzalez, numa conferência organizada pelo El País. E a 23 de Abril, a associação antinacionalista Sociedade Civil Catalã vai outorgar-le o prémio do Bom Senso, partilhado com o presidente do Parlamento Europeu, Antonio Tajani, explica o diário de Paris.

À vitória nas eleições catalãs do final de Dezembro do ano passado, o Cidadãos quer juntar a câmara de Barcelona. O partido de direita nascido em 2006, precisamente na Catalunha, tem vindo a subir a pique nas sondagens a nível nacional – está mesmo em primeiro lugar nas intenções de voto – e quer confirmar esse crescimento alcançando bons resultados nas municipais do próximo ano.

A Cidade Condal é, por isso, bastante apetecível para o partido de Albert Rivera e de Inés Arrimadas, até porque não governa nenhuma das principais cidades de Espanha, nem tem uma presença municipal significativa. A aposta em Valls, que no ano passado trocou os socialistas pelo partido de Emmanuel Macron, é o trunfo que o líder do Cidadãos espera poder apresentar em 2019, para “ganhar as eleições”.

“Se Barcelona tivesse um presidente da câmara como Valls seria muito melhor do que Ada Colau”, defendeu Rivera, citado pelo El Mundo, numa referência à actual detentora do cargo, da plataforma Barcelona en Comú. 

Rivera descreve o antigo primeiro-ministro francês como “um democrata convicto”, “um amigo de Espanha e da Europa” e “uma pessoa que defendeu esses valores em plena crise do separatismo catalão”. E espera que este aceite o desafio que o Cidadãos lhe está a apresentar. “Temos de ter uma candidatura vencedora”, pediu Rivera.

Confrontado com a possibilidade de Manuel Valls poder participar na corrida a Barcelona, o secretário-geral do PSOE – o partido socialista espanhol – afirmou que “os tempos mudam” e afastou-se do programa político do dirigente francês. “Há muito tempo que Manuel Valls abandonou o partido socialista. O nosso projecto político não é o mesmo que ele defende”, disse Pedro Sánchez, citado pelo El País.

Já Xavier García Albiol, líder do Partido Popular na Catalunha, recorreu ao Twitter para criticar a postura assumida pelo antigo chefe do Governo francês em relação a uma possível candidatura. “[Valls] está enganado se pensa que um ayuntamiento serve para continuar o debate identitário. Um ayuntamiento serve para gerir os problemas reais dos vizinhos”, escreveu o membro do Partido Popular naquela rede social, depois de citar o interesse de Manuel Valls no “debate independentista”.

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