Riscos do directo na política

Paulo Portas, que não acredita na pedagogia das multidões, nada prometeu.

É o sal e pimenta da campanha. Quando os políticos descem à rua é uma faca de dois gumes: exercício de humildade, legitimador do voto, mas sobressalto de desditas.

A campanha teve a antecâmara da pré. Um período indefinido, mas não menos importante e formal, que as duas semanas legais reservam à formalidade da propaganda. Por isso, são acompanhadas, revelam incómodos, definem estilos e exibem episódios.

Em oito dias, os principais protagonistas tiveram a sua prova de fogo. A 4 de Setembro, no Entroncamento, António Costa foi confrontado no mercado local com a memória das directas do PS de há um ano. Uma vendedora de fruta desejou-lhe sorte. Mas acusou-o de passar a perna a Seguro. Costa fez cara de poker, sorriso de Buda e aguentou. O silêncio foi o seu acerto.

As palavras comprometem. Disso se esqueceu Passos Coelho, a 12 de Setembro, em Braga, quando prometeu encabeçar uma subscrição pública a favor dos lesados do papel comercial do Grupo Espírito Santo sem recursos para recorrerem aos tribunais. Como candidato, político e primeiro-ministro esqueceu-se que o acesso à Justiça é um direito constitucional e não fruto de benfeitorias ou estados de espírito.

Paulo Portas, que acompanhava Passos e não acredita na pedagogia das multidões, nada prometeu. A 6 de Setembro, já abandonara a escola de quadros do CDS/PP em Ofir, entre sirenes e muita pressa, driblando os afectados pelo “dono disto tudo”. Riscos do directo na política.

 

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