Sobe e Desce

Escolhemos algumas escolas que subiram muito nos rankings. Ou que, pelo contrário, pioraram de um ano para o outro. Perguntámos-lhes o que se passou. O que fez a diferença? O que estão a fazer para melhorar?

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Daniel Rocha/arquivo

Campanário, Madeira
“É tudo uma questão de ‘colheita’”

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Manutenção do quadro docente. Aulas suplementares para preparar os exames. Reuniões regulares para afinar estratégias. Um professor extra na sala de aula. Tudo isto vem sendo feito na Escola Básica e Secundária Cónego João Gonçalves Andrade, no Campanário, Madeira. Mas no final, como resume, meio a brincar, o presidente do conselho executivo, Inácio Santos, é tudo uma questão de “colheita”. De alunos, entenda-se.
A escola serve uma freguesia rural do concelho da Ribeira Brava e foi um dos estabelecimentos que mais subiram no ranking do 9.º ano, passando de uma média negativa nos exames (2,52) para uma positiva (3,08). “É o resultado de vários factores”, argumenta Inácio Santos, que não consegue identificar uma causa que tenha contribuído para a melhoria dos resultados.
A escola tem adoptado ao longo dos anos várias estratégias. Há, semanalmente, 90 minutos suplementares para Matemática e Português, para os quais os alunos são propostos pelos professores e até pelos encarregados de educação. Os professores de ambas as disciplinas acompanham as turmas desde o 7.º ano, e semanalmente reúnem-se para “debater estratégias e procedimentos”. Mas, no final, é o “trabalho dos alunos” que faz toda a diferença. M.B.


Pinhel
Professores passaram a reunir-se mais depois de tombo na lista

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Manter os mesmos docentes com as respectivas turmas do 7.º ao 12.º ano não é, necessariamente, bom. “Mesmo os professores mais competentes, com resultados acima da média no 9.º ano, podem, eventualmente, não ter o perfil adequado para ensinar no secundário”, comenta o director do agrupamento de escolas de Pinhel, José Vaz. Foi uma das conclusões a que chegou, quando se apercebeu do trambolhão do agrupamento, quando avaliado na perspectiva da progressão dos alunos entre o 9.º e o 12.º, à disciplina de Português.
Durante três anos, a escola esteve entre as 25% que mais “puxaram” pelos estudantes. Em 2015, ficou entre os 25% em que a progressão foi mais baixa do fim do básico para o fim do secundário. Além de reavaliar a continuidade pedagógica entre os dois ciclos, José Vaz decidiu promover reuniões periódicas entre os professores da mesma disciplina com alunos no mesmo nível de ensino. A aferição e a troca de experiências será permanente e eventuais problemas serão detectados e corrigidos antes dos exames, afirma. G.B.R.

Pombal
Subida a Matemática resultou da “persistência”

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Foi “uma estratégia concertada, muito trabalho e muita persistência”, que permitiram à Escola Secundária de Pombal puxar os resultados no exame de Matemática de 9,03 de média, em 2014, para 14,68, este ano. É disso que está convencido o director, Fernando Mota, que frisa que os alunos que em 2015 fizeram o exame de 12.º são os mesmos que estavam no 10.º ano, quando foram promovidas alterações que considera decisivas. Uma foi a criação de gabinetes de aulas de apoio de níveis 1, 2 e 3, este último para alunos que, tendo 16 ou 17 na classificação interna, pretendem atingir notas ainda mais altas. Outra foi a aplicação simultânea dos mesmos testes de avaliação às diferentes turmas e a promoção de reuniões quinzenais em que os respectivos professores fazem a aferição de critérios e os definem. A realização de testes tipo exame e mais um tempo semanal de apoio no 12.º ano para toda a turma são outras das medidas que, na sua perspectiva, provaram ser eficazes. G.B.R.

Castro Marim
Escola sem explicações para a queda

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No que respeita aos resultados do 9.º ano, a Escola Básica de Castro Marim está entre as que mais baixaram de 2014 para 2015. Com quase o mesmo número de provas (66, mais uma do que no ano anterior) caiu do 362.º para o 998.º lugar no ranking; e a classificação média às duas disciplinas, Matemática e Português, passou de 2,93, quase positiva, para 2,35. O director daquele agrupamento do Algarve, Gonçalves Nunes, não encontra explicação para o caso, mas confirma que a Matemática as dificuldades das duas turmas se fizeram sentir desde o início do ano. “Fez-se tudo o que era possível, até promovemos aulas de apoio, mas parecia que nada resultava”, lamenta. Neste ano lectivo, mesmo sem identificar as causas, a direcção tomou medidas: os alunos do 3.º ciclo têm dois professores na sala de aula durante 90 minutos por semana. O objectivo é garantir “um ensino mais personalizado”. G.B.R.

Barcelos
“O que nos interessa é que a comunidade reconheça a nossa qualidade”

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Não é a primeira vez que Escola Básica e Secundária Vila Cova, Barcelos, aparece nos “radares” dos rankings do ensino secundário. Em 2011, tinha sido notícia por ter subido 534 posições na tabela, ganhando um lugar entre as 20 melhores escolas públicas (65.ª a nível global). Desta vez não consegue uma classificação tão elevada (é 83.ª), mas volta a crescer bastante, subindo 162 posições. “Subir e descer no ranking não é o mais importante”, comenta o director, Alberto Rodrigues. “O que nos interessa é que a comunidade reconheça a nossa qualidade.” Um estabelecimento de ensino como este, situado numa zona rural entre Barcelos e Esposende, “só sobrevive tendo qualidade”. Caso contrário, as famílias vão preferir colocar os filhos a estudar na área urbana. Por isso, o grande prémio do ano em Vila Cova foi o aumento da procura no 10.º ano, o que levou que, pela primeira vez, tenham sido criadas duas turmas. G.B.R.

A melhoria dos resultados deve-se a um trabalho “que se prolonga” há vários anos, entende o director, destacando o facto de haver dois professores que dão explicações aos alunos, duas tardes por semana, nas disciplinas de Biologia e Geologia e Físico-Química, em que habitualmente havia as maiores dificuldades, e os reforços curriculares a Português e Matemática. A escola já não atribui um prémio em dinheiro a todos os estudantes com média superior a 13 valores, como fazia há quatro anos, mas continua a entregar prémios de desempenho aos estudantes que conseguem entrar no quadro de excelência da escola – 15% do total de inscritos no ano passado. S.S.

Santo Tirso
Edifício requalificado, corpo docente estável

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Há quatro anos era preciso deslizar até à posição 341 para encontrar a Escola Secundária Tomaz Pelayo, em Santo Tirso, no ranking. Dois anos depois, a escola estava em 225.º e, no ano passado, era 117ª. Os resultados deste ano mostram que a melhoria dos resultados na escola de Santo Tirso continua em marcha: a escola sobe mais 53 posições, para o 64.º lugar. “Isto só pode ser sinónimo de que foi feito um trabalho estruturado”, valoriza o director da escola, Fernando Almeida.

As práticas que permitiram esta mudança nos resultados da escola — e que lhe tinham valido a inclusão entre as escolas que receberam o crédito do Ministério da Educação para as mais eficazes — começaram a ser levadas a cabo há vários anos. O edifício foi totalmente requalificado, garantindo boas condições de trabalho e há reforço lectivo às disciplinas que têm exame nacional. Além disso, o corpo docente é estável e a direcção privilegia a continuidade dos professores e do director de turma com o mesmo grupo de alunos durante os três anos do ensino secundário, de modo a garantir “um contacto muito personalizado” com os estudantes. S.S.

Felgueiras
“Muito tempo” a treinar alunos para os exames

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É com uma referência gastronómica que o director da Escola Básica e Secundária de Airães, em Felgueiras, explica os bons resultados conseguidos nos exames nacionais deste ano: “Eu posso comer cozido à portuguesa em muitos sítios e o sabor vai ser sempre diferente. Podem estar lá os ingredientes todos, mas só funciona se eles forem bons.” Desta vez foram. Os “ingredientes”, neste caso, são os alunos. E a turma que concluiu o secundário no ano lectivo anterior era “muito boa”, classifica.

A qualidade dos estudantes que foram a exame este ano é a única alteração significativa na escola face aos anos anterior capaz de justificar uma melhoria de mais de um valor na média global e uma subida de 125 lugares no ranking – valendo-lhe um lugar entre as 100 melhores do país. A escola continua a ser pequena (menos de 100 alunos no ensino secundário) e com “ambiente cordial” e “quase nenhum” problema de disciplina, ao mesmo tempo que mantém a estratégia dos últimos anos: gasta “muito tempo” no treino dos alunos para as provas nacionais e mantém uma “oficina de preparação para exames”, em que os professores trabalham conteúdos específicos das provas nacionais com os estudantes, durante uma hora semanal a cada disciplina. S.S.

Montalegre
“Não há grandes justificações” para a descida

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“Sou apanhado um bocadinho de surpresa”, confessa o director da Escola Básica e Secundária Dr. Bento da Cruz, em Montalegre, quando percebe que os resultados dos seus alunos nos exames do ensino secundário estão entre os piores do país. Aquele estabelecimento de ensino tem a segunda maior descida do ranking, caindo 333 lugares. Só há um caso em que o resultado é pior, o da escola secundária Bernardino Machado na Figueira da Foz, que perdeu 370 lugares face ao ano passado. Porém, a escola de Trás-os-Montes tem uma diferença nos resultados face ao seu contexto ainda mais negativa (-1,6).

Paulo Alves tem dificuldades em explicar o sucedido, apontando uma possibilidade estatística como hipótese: o número de estudantes que realizou o exame foi reduzido — 19 a Matemática, 21 a Português, 14 a Biologia e Geologia —, o que faz com que a média esteja sujeita a “oscilações significativas”, em função da qualidade dos alunos. “Não há grandes justificações, até porque todas as nossas turmas têm aulas de apoio às disciplinas base e há um investimento na preparação dos exames”, resume o director. A escola também tinha sido premiada com 30 horas de crédito horário pelo Ministério da Educação pela melhoria na eficácia e bons resultados no combate ao abandono escolar e tinha conseguido incrementar as notas nos exames nacionais nos últimos anos, o que sublinha ainda mais a surpresa do seu responsável máximo. G.B.R.


São Vicente, Madeira
Da média positiva para a negativa, apesar dos apoios extras

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Talvez tenha sido o aumento do número de alunos por turma. Talvez. O conselho executivo da Escola Básica e Secundária D.ª Lucinda Andrade, em São Vicente, no Norte rural da Madeira, não consegue explicar a descida verificado este ano no ranking do 9.º ano, em que passou de uma média positiva (3,20) para uma nota negativa (2,46).

A escola, situada num concelho de pouca densidade populacional, no lado oposto da ilha em relação ao Funchal, caiu do 144.º posto para o lugar 928, e as estratégias de preparação para os exames nacionais foram as mesmas: apoio semanal à aprendizagem em Matemática e Português a todos os alunos e uma aula extra para os que revelam maior dificuldade nestas disciplinas.

As características individuais de cada aluno podem ter contribuído para esta descida. Os alunos não são os mesmos, claro. E são estas diferenças que podem ter sido o “principal factor” para os resultados mais fracos registados este ano. M.B.

As listas ordenadas das escolas

Como se faz o ranking?

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