Um bom tónus para a campanha que aí vem

O debate desta segunda-feira não servirá para que a imagem de António Costa se esvazie, servirá apenas para que a de Rui Rio se revitalize. Pode ser tarde de mais. Mas que o frente-a-frente foi excelente para reavivar a política, animar a discussão e dar vida à campanha, lá isso foi.

A determinado momento do debate entre Rui Rio e António Costa, falava-se da produção do Serviço Nacional de Saúde e perante uma nuvem de números Rio condescendeu: “Empatámos.” Empataram no débito de consultas realizadas nos hospitais ou nos centros de saúde, de euros de investimento ou de despesa corrente, mas, face às expectativas iniciais do debate, Rui Rio ganhou. Ganhou pela diferença mínima não porque fosse mais claro, mais contundente, mais preparado ou mais astuto a aproveitar as falhas do adversário. Ganhou porque provou aos que tinham dúvidas que é dono de um conhecimento sólido sobre os principais assuntos do Estado e de um programa para o país que, não estando nos antípodas do que Costa defende, é ainda assim mais próximo dos velhos pergaminhos do PSD: uma visão mais liberal da sociedade e uma série de propostas políticas mais próxima das empresas.

António Costa esteve bem e só uma vez precisou de recuar no tempo para culpar as heranças da troika. Sabia bem quais eram os flancos de ataque que Rio iria explorar e ensaiou respostas para as acusações da mais alta carga fiscal ou do menor investimento público. Foi inteligente e assertivo na forma como desmontou as dúvidas sobre obras públicas, como o aeroporto do Montijo. Tinha a lição preparada sobre as alegadas vulnerabilidades do SNS e, em geral, dos serviços públicos. Foi particularmente sereno nas respostas e nas explicações. Fez o que se esperava de um primeiro-ministro que, ainda por cima, está à frente nas sondagens.

Rio não tinha activos desta natureza a seu favor. Apareceu neste debate que ele próprio considerou como um “Portugal-Espanha em hóquei” com tudo para perder e muito pouco a ganhar. Já tinha dado sinais em momentos anteriores que se sente melhor neste período de pré-campanha do que a gerir o dia-a-dia da política e a turbulência do seu partido. Na segunda-feira voltou a provar o que outrora Miguel Veiga disse dele um dia: que é melhor quando fica sob pressão. Foi nesta condição que se revelou capaz de cavar as vulnerabilidades do Governo — o país que cresce pouco em comparação com os congéneres europeus no mesmo estágio de desenvolvimento, o executivo que não aproveitou as políticas do BCE ou a conjuntura internacional favorável, a ausência de reformas ou uma gestão que considerou estar apegada ao presente e sem perspectivas de futuro. Mostrou também que é uma pessoa com nervo emocional quando exigiu ao Ministério Público mais eficácia e menos “condenações na praça pública”. E um político normal quando tergiversou sobre a regionalização — no que foi bem acompanhado pelo primeiro-ministro.

O debate desta segunda-feira não servirá para que a imagem de António Costa se esvazie, servirá apenas para que a de Rui Rio se revitalize. Pode ser tarde de mais. Mas que o frente-a-frente foi excelente para reavivar a política, animar a discussão e dar vida à campanha, lá isso foi.

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