Cartas ao director

"Sem mitra nem solidéu"

Na sua crónica dominical (PÚBLICO, 15-7-18), a pena lúcida e rigorosa de Frei Bento Domingues dá-nos a conhecer a personalidade cativante, nobilíssima, dum sacerdote: Pedro Casaldáliga. Despojado de ostentações institucionais ou pessoais, empenhou-se a fundo em servir pastoralmente os pobres e excluídos da diocese brasileira que Paulo VI lhe confiou. Convocado em 1988 ao Vaticano, para explicações, o invulgar devotamento e singeleza do “bispo descalço sobre a terra vermelha”, proveu-o duma também invulgar coragem e impávida autoridade moral para dialogar tranquilamente com a arrogância do poder eclesiástico.

Comove e anima a pedagogia viva de alma tão admirável. É reconfortante o seu contraste, face ao bolor da infeliz expressão “príncipe da Igreja”, usada arcaicamente num jornal portuense ao noticiar a nomeação dum novo cardeal (aliás respeitado por se mostrar salutarmente pastor, imune a ocas vaidades de “príncipe”).

João Xavier de Almeida, Vila Nova de Gaia

O bónus

Noticia o PÚBLICO que há uma empresa em Portugal com 161 trabalhadores, dos quais 21 directores, “altamente cilindrados” em bólides familiares, com gasolina e portagens à discrição, que ainda contabiliza gastos com o pessoal na ordem dos 8,3 milhões de euros. Para fazer o quê, se funções como a contabilidade, a informática, o apoio à gestão e reporte de obrigações legais, o patrocínio judicial e a ajuda nos planos de negócio estão entregues a especialistas em outsourcing? Mesmo a gestão e cobrança de créditos oriundos do BPN, função para a qual se “inventou” a Parvalorem, se encontra entregue a serviços externalizados, mas de eficácia duvidosa, como se constata pela permanente perda de valor dos activos detidos e pela alienação a preços da chuva de outros bens, enquanto se alijam garantias como quem sacode a caspa. Pois a culminar tudo isto, o Estado deu um bónus de meio milhão, a título de progressão de carreira por mérito, a metade dos efectivos. Não é que o bónus desse para novas estradas, investimentos vultuosos ou fazer justiça com os professores, mas, não esquecendo o rombo que o BPN, na altura integrando alguns destes “trabalhadores”, deu nas contas públicas, pergunto: qual foi o mérito que se premiou?

José A. Rodrigues, Vila Nova de Gaia

Com papas e bolos se enganam os tolos

O Parlamento chumbou o projecto de lei que punha fim ao adicional ao Imposto sobre os Produtos Petrolíferos (ISP). Engraçado que, há dias atrás, todos os partidos, à excepção dos socialistas, defendiam uma redução do ISP, inclusive esse tal projecto de lei que foi agora rejeitado. Hipocritamente, dois dos partidos "amigos dos pobres" que compõem a "gerigonça" mudaram de posição e de voto, esquecendo que o aumento deste imposto, em 2016, com o objectivo de compensar a queda da receita fiscal por causa da redução do preço do barril de petróleo, era temporário e sujeito a ajustamentos. Há gente neste país que se deixa seduzir com papas e bolos, mas há outros que começam a ficar fartos de tanto oportunismo, de tanta patranha política.

Emanuel Caetano, Ermesinde

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