Devo confessar (e desculpem-me o plebeísmo) que tenho pouca pachorra para o “affaire” Lula da Silva nos termos em que ele tem sido acaloradamente discutido. Mas, independentemente das reações e para lá da espuma dos dias, interessa-me sobremaneira a discussão sobre o subtexto de toda esta polémica. Sejamos claros. A única coisa verdadeiramente relevante que temos estado a debater, com maior ou menor consciência disso, é a deliberada, reiterada e já estafada vontade de associação das cerimónias do 25 de Abril a uma interpretação, seguramente legítima, mas com toda a certeza particular e muito pouco inclusiva, do que significou e significa a revolução de 1974. Interpretação e conceção essas que ficam aliás muito bem condensadas na ideia, simplista, pueril e perniciosa, de que o 25 de Abril foi uma conquista exclusiva de, da e para a esquerda.