Casacos pendurados em Lisboa dão agasalho a quem precisa (e sobretudo a crianças)

Quarta edição do projecto Heat the Street acontece a 15 de Dezembro. "Estendal solidário gigante" vai estar na Avenida da Liberdade, em Lisboa.

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No final, os agasalhos sem dono serão levados para outras instituições RODRIGO GATINHO/HEAT THE STREET

Com o Inverno à porta, regressa neste sábado a Lisboa o “estendal solidário gigante” que pretende dar um agasalho a quem precisa – seja um sem-abrigo, uma família que não consegue comprar roupa ou simplesmente alguém que tenha frio. Os agasalhos vão estar pendurados na Avenida da Liberdade (onde podem ser doados ou levados, junto ao Hard Rock Café) no dia 15 de Dezembro, das 14h à meia-noite. O projecto solidário Heat the Street avança assim para a sua quarta edição e este ano haverá mais oferta de casacos e sobretudos para crianças.

Isto porque havia muitos pedidos de famílias em anos anteriores que procuravam roupas mais quentes para os filhos. “A verdade é que as crianças crescem de um ano para o outro e há famílias que não têm dinheiro para comprar roupa”, explica ao P3 uma das criadoras do projecto, Sílvia Lopes. “Às vezes, também há pessoas que, ao comprar roupa para os filhos, não conseguem comprar para elas”, acrescenta. Para ajudar, foram recolhidos agasalhos de antemão nas lojas Zippy.

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RODRIGO GATINHO/HEAT THE STREET

“A necessidade nem sempre está à vista”

“Quem vem ao evento ou vem por uma boa causa ou vem por uma boa razão”, acredita a organizadora, que tem 36 anos e trabalha na área de comunicação e publicidade. “Queremos mesmo promover este espírito de recolha livre porque as coisas não estão na cara. A necessidade nem sempre está à vista e, de repente, de um dia para o outro, podemos ficar sem trabalho e precisar deste tipo de coisas.”

Além disso, “as pessoas que estão em situação de necessidade não têm hipótese de escolha, ficam com aquilo que houver". E aqui acaba por ser "quase como uma loja: podem escolher, podem ver os tamanhos”, refere a criadora. A própria corda estará dividida por secções, tal como num espaço comercial: Homem, Mulher, Criança e Acessórios, onde se incluem cachecóis, luvas, gorros e mantas.

A corda, que estará pendurada no sábado, vai dos Restauradores até à Rua das Pretas e tem mais de uma centena de metros; nas edições anteriores, tem sido ocupada e esvaziada umas três a quatro vezes, diz Sílvia Lopes. Também o evento tem crescido de ano para ano: “São centenas, centenas de pessoas que por lá passam. E este ano acredito que a adesão será ainda maior – criámos o evento no Facebook no dia 4 [de Dezembro] e em dois dias já tínhamos 4000 interessados.”

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Como surgiu a iniciativa?

A ideia nasceu em 2015, quando Sílvia Lopes viu uma fotografia nas redes sociais em que uma senhora tinha saído à rua no Canadá, espalhando casacos pelas árvores, pelos postes. “Isto começou com uma pequena página no Facebook em que convidávamos os amigos e familiares a fazer o mesmo, não tinha a pretensão de se tornar no evento que é hoje em dia”, garante.

“Nós não somos nenhuma associação, somos mesmo um movimento de sociedade, gostamos e fazemos”, garante Sílvia Lopes, explicando que a equipa do Heat the Street é composta por cinco pessoas, contando com voluntários no dia do evento.

RODRIGO GATINHO/HEAT THE STREET
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Neste ano serão ainda distribuídos sacos para quem queira recolher roupa da corda, não só para auxiliar no transporte, mas também para facilitar o controlo: “Assim têm de falar com um dos nossos voluntários, têm ajuda. As pessoas às vezes estão numa situação mais frágil e querem falar, ou até perceber se a roupa fica bem – este ano vamos tentar ter um espelho”, revela a organizadora, que pede para os participantes levarem molas ou cabides. Também está assegurada a distribuição de chá quente da Tetley e a Carris vai oferecer bilhetes de autocarro para as pessoas poderem voltar a casa.

Aqueles que queiram doar ou ficar com um agasalho e não o consigam fazer no sábado poderão passar na loja social Dona Ajuda ou na Associação de Intervenção Comunitária Crescer, ambas em Lisboa.

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Helena Carvalho e Sílvia Lopes, fundadoras do projecto NUNO FERREIRA SANTOS

Artigo actualizado às 16h03 

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