“Homofóbico com certeza sou”: declarações de docente da Universidade de Aveiro revoltam alunos

Professor de Física diz que comunidade LGBTQ+ “constitui um dos grandes perigos civilizacionais” e declara que “há muita coisa que só se resolve com violência”. Descontentes, alunos denunciam professor Paulo Lopes por discurso de “ódio” e “discriminação”. Reitoria afirma que “actuará em conformidade, com rapidez e firmeza”.

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Universidade de Aveiro | Facebook

Um grupo de estudantes da Universidade de Aveiro (UA) está a preparar uma acção de protesto contra o comportamento de um professor, que acusam de ter um discurso de “ódio” e “discriminação”.

Em causa está uma publicação (não disponível a todos os utilizadores) que o docente Paulo Lopes fez na sua página da rede social Facebook, na qual critica abertamente a comunidade LGBTQ+, a propósito de uma campanha publicitária que dá a conhecer vários termos relacionados com esta comunidade, como “gay”, “lésbica”, “queer” ou “não-binária”.

Na publicação, o professor de Física escreve a quem “anda distraído” sobre os “atentados à inteligência” e “normalidade” que, diz, são protagonizados por “organizações ‘terroristas’” que “tentam impor à força os seus desvarios”. “Acho que esta bosta tem o nome de ‘ideologia de género’ e constitui um dos grandes perigos civilizacionais que teremos que começar a enfrentar”, escreve.

Paulo Lopes diz ainda que a campanha publicitária “é uma agressão” e que “mereceria umas valentes pedradas nas vitrinas”. “Estamos a precisar urgentemente de uma ‘inquisição’ que limpe este lixo humano (...) todo!”, diz. Já na noite de quinta-feira, em declarações à TVI, disse: “Há muita coisa que só se resolve com violência.” E acrescentou: “Homofóbico com certeza que sou”. Contudo, assegura que a sua postura enquanto professor é, e sempre foi, “100% profissional”.

Em conversa telefónica com o P3, o docente declarou não ter conhecimento do termo “homofóbico”: “'Homo’ o quê? Não sei o que isso é”.

Alunos contra “inacção da Universidade"

A publicação junta-se a outras que o docente fez anteriormente com comentários depreciativos de teor racista e homofóbico, incluindo contra as medidas decretadas pelo Governo para combater a pandemia provocada pela covid-19. Já em 2021, o reitor da UA ordenou a abertura de um inquérito ao docente do departamento de Física, devido às mensagens com teor “discriminatório” com as quais a instituição “não pactua”.

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Ao P3, um estudante, que foi aluno do professor Paulo Lopes, afirmou que, neste momento, “os alunos mostram a mesma ou até uma maior revolta do que aquela que mostraram no ano passado”. “Todas as publicações que [ele] faz criam um enorme clima de desconforto e de insegurança, principalmente pelos principais alvos do discurso dele.”

O aluno diz ainda que a comunidade estudantil está revoltada com a “inacção da Universidade” face à situação e aponta que, apesar do inquérito realizado, nunca houve “uma preocupação com o bem-estar e a segurança” dos alunos. Desagradados com esta situação, os estudantes criaram um grupo na rede social Facebook, que já conta com mais de 700 membros, e afixaram bandeiras LGBT pelo edifício do departamento de Física, como forma de protesto.

A Associação Académica da Universidade de Aveiro (AAUAv) também manifestou o seu descontentamento, declarando que “não é aceitável ter um docente que defende este tipo de valores”.

“Neste momento, a esfera pessoal já está a influenciar a esfera profissional. Os estudantes já não se sentem propriamente seguros em ir para uma sala de aula, já não sentem confortáveis”, afirmou ao P3 o presidente da associação, Wilson Carmo, acrescentando que Paulo Lopes “tem de deixar de ser docente, não só na Universidade de Aveiro, mas na comunidade” universitária em geral.

Após a denúncia da situação, a Reitoria difundiu um comunicado dirigido aos membros da comunidade académica, onde defende a liberdade de expressão e de opinião, consagrada na Constituição da República Portuguesa, reconhecendo a separação das esferas pessoal e profissional.

“Ciente, porém, da importância que um ambiente de respeito e confiança tem para o bom funcionamento da instituição, a Universidade saberá avaliar quaisquer condutas que possam interferir com esses últimos valores e propósitos e que se repercutam negativamente na imagem da instituição - e actuará em conformidade, com rapidez e firmeza”, diz a Reitoria.

A mesma nota refere que actualmente convivem na UA pessoas de “mais de 90 diferentes nacionalidades”, não sendo por isso de tolerar “discursos de ódio, de discriminação ou de incitação à violência, qualquer que seja a sua natureza, origem ou contexto”.

Texto editado por Amanda Ribeiro

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