A Porto Business School montou uma horta para tirar estudantes e funcionários do computador

Nem que seja por alguns minutos, uma ida à horta urbana pode ajudar no “espírito de equipa” e na “criatividade”. Sem se terem de preocupar muito com a rega, esperam produzir três toneladas de alimentos por ano com a ajuda das camas de cultivo de uma empresa portuguesa.

Foto

São 72 canteiros espalhados pelo telhado do restaurante que, um dia, querem ajudar a abastecer. A Porto Business School (PBS) tem a maior horta urbana da Noocity em Portugal — e as primeiras alfaces, acelgas, flores comestíveis e ervas aromáticas já foram colhidas.

Implementada em Abril, apenas a sede da Unesco, em Paris, alberga mais “camas de cultivo” da startup portuguesa que a escola de negócios contactou quando decidiu que estava na altura de meter as mãos na terra (isto é, no substrato de fibra de coco). Esperam chegar a uma produção de duas toneladas e meia a três de alimentos por ano” e, assim, também reduzir a pegada ecológica da escola, principalmente no transporte e armazenamento de alimentos frescos.

Foto
DR

Os 114 metros quadrados de área cultivada num telhado na zona da Senhora da Hora, em Matosinhos, exigiram “mil metros quadrados, caso fosse usado um campo normal”, diz Gonçalo Guerra, responsável pelo projecto da PBS. “Também conseguimos ter, com este sistema, uma poupança de água na ordem dos 900 mil litros”, estima.

As “camas de cultivo” da Noocity podem ocupar qualquer superfície e têm sistemas de “sub-irrigação” e de vermi-compostagem integrados. O objectivo é utilizar as minhocas para valorizar o lixo orgânico da cafetaria e restaurante que servem a escola de negócios da Universidade do Porto. A facilidade com que é feita a manutenção dos canteiros, com a ajuda de um membro da equipa, e a “rapidez da instalação” têm convencido cada vez mais empresas a “montarem uma horta empresarial” em Portugal, mas também em França e na Bélgica (e até no Palácio de Belém).

Foto
A horta no telhado da cafetaria em Maio, quando foi implementada DR

Plantar os terraços, telhados e varandas dos escritórios “promove o espírito de equipa” e “ajuda as pessoas a conectarem-se a elas próprias, uns aos outros e aos ciclos da natureza”, acredita Filipa Mendes, a responsável pela manutenção de muitas delas. “Socializar com os colegas”, “falar de outras coisas que não trabalho” e “parar de estar em frente ao computador” são alguns dos benefícios que destaca para os escritórios que pensam em mudanças para o pós-pandemia. “Para quem no seu trabalho tem desafios criativos, ir para a horta ajuda imenso”, garante.

De quinzena em quinzena, Filipa Mendes debruça-se sobre os canteiros da PBS e ajuda “a criar dinâmica e autonomia na horta”. Por agora, costuma ter cerca de 15 colaboradores da escola a voluntariarem-se para “tratar pragas, colher, replantar”. Uma vez por mês, organizam uma sessão temática. “De resto, estamos à espera que tudo cresça”, ri-se.

Este desejo estende-se ao “envolvimento de toda a comunidade estudantil”, o que numa escola “com uma população muito flutuante, tanto de docentes como de alunos”, pode ser mais difícil de conseguir, reconhece Gonçalo Guerra. 

Foto
DR

Ao redor da horta, um lago que armazena a água captada da chuva e um prado, um espaço verde auto-suficiente que dispensa muita atenção, ajudam a captar a atenção de possíveis interessados. “Temos uma escala de voluntários, mas há sempre espaço para entrar mais pessoas”, convida. Por isso é que escolheram um dos telhados “mais acessíveis” e “com maior visibilidade” da escola com paredes de vidro, que deixam a cidade espreitar para os jardins. 

A escola também “quer dar o passo de sair fora da comunidade” e “doar cabazes a associações do Porto”, diz a vice-reitora Patrícia Teixeira Lopes, que acredita que a implementação da horta “vai ter um efeito dominó nos estudantes” e nos “professores, incentivados a incluírem conteúdos dedicados à sustentabilidade nos programas de formação”. “O que acho que pode vir a acontecer é que o impacto será ainda mais alargado, porque vão querer ter um espaço de cultivo em casa, nas varandas, onde tiverem espaço”, diz. 

“Nós somos uma escola e por isso temos uma missão maior do que as outras entidades, de pensar que mundo é que vamos deixar para o futuro. E a vivência também é uma metodologia pedagógica”, lembra.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários