A “canelada” de Costa, "syrizar" e a importância da cavala

Um filme do último dia da pré-campanha eleitoral para as legislativas.

O Momento: Costa estica a corda
A frase foi dita na quinta-feira à noite por António Costa num comício em Faro: “Não cheguei hoje à política, nem vim de empresas de objecto social obscuro.”

E acrescentou: “Estou há muitos anos na vida política e sei que um político sério só há uma coisa que verdadeiramente acumula ou não ao longo da sua actividade política, que é a sua credibilidade, e esse é mesmo o meu único património.”

Costa não disse com quem se estava a comparar, mas ficou claro para todos que o seu alvo era Passos Coelho e que se referia ao seu envolvimento no chamado caso Tecnoforma.

Costa ainda não tinha ido tão longe nas suas críticas ao primeiro-ministro. A “indirecta” a Passos mostra que a campanha que se inicia neste sábado vai ser durinha e que não será só José Sócrates a ser chamado aos palcos. Pelos vistos, há passados que também vão estar muito presentes.

O problema destas “caneladas” políticas é que chamam outros “sarrafeiros” ao jogo e, até começarem todos a entrar a pés juntos, vai um pulinho.

Já nesta sexta-feira a Tecnoforma voltou a ser lembrada depois do Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa ter decidido não levar a julgamento o ministro-adjunto e do Desenvolvimento Regional, Poiares Maduro, por difamação da empresa. A decisão judicial abrange igualmente o comentador Pacheco Pereira e a jornalista Clara Ferreira Alves. A firma vai recorrer para o Tribunal da Relação de Lisboa.

O caso Tecnoforma remonta a 2004, quando o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho era colaborador da empresa e Miguel Relvas secretário de Estado da Administração Local.

Nesta qualidade, e de acordo com notícias divulgadas, Relvas terá facilitado a adjudicação à Tecnoforma de 1,2 milhões de euros para acções de formação direccionadas para funcionários de aeródromos, tendo o dinheiro saído do programa “Foral”.

A Figura: Heloísa Apolónia
Apesar de já ter participado em muitas campanhas eleitorais como líder do Partido Ecologista “Os verdes” e ao lado do PCP na coligação CDU, nunca Heloísa Apolónia teve tanto protagonismo numa campanha com na noite desta sexta-feira.

Empurrada pela primeira vez para a alta-roda dos debates eleitorais por Jerónimo de Sousa, que recusou o frente a frente com Paulo Portas por a coligação Portugal à Frente ter dois representantes nos duelos televisivos, Apolónia não se saiu nada mal.

Encostou várias vezes Paulo Portas às cordas, deixando-o sem réplica em muitas das críticas que lhe fez, e a estratégia do líder do CDS de aproveitar o debate para “malhar” no PS e em António Costa não lhe saiu bem e esgotou-se rapidamente.

Portas, que quando soube que ia debater com Apolónia se mostrou encantado, deve ter perdido grande parte desse encantamento. A líder do PEV esteve quase sempre ao ataque e o centrista sempre à defesa, embora a tarefa de Apolónia fosse obviamente mais fácil.

Heloísa Augusta Baião de Brito Apolónia, 46 anos, é jurista de profissão e deputada desde 1991. O Partido Ecologista "Os Verdes" nasceu em 1982. O partido é acusado frequentemente, especialmente por CDS e PSD, de ser um movimento satélite do PCP para ter voz a dobrar na Assembleia da República. Ainda nesta sexta-feira, Portas lembrou que o PEV "é como a melancia, verde por fora e vermelho por dentro".

Para memória futura I: Baixar o preço das portagens no interior e no Algarve
Passos visitava uma fábrica na Guarda quando um empresário o questionou sobre se tinha um plano para as portagens. A resposta saiu pronta: “Estamos em condições de fazer isso [baixar o preço das portagens] muito rapidamente."

O líder da coligação PSD/CDS chamou-lhe “descriminação positiva” e até explicou que estava em condições de avançar com essa medida já. Por que não o fez? “Devo dizer que, após termos feito a renegociação toda [com as parcerias público-privadas], podíamos ter logo decidido. Não o decidimos por uma razão: porque, se o tivéssemos feito, as pessoas iriam dizer que o fazíamos por razões eleitorais. Deixámos isso no nosso programa, apesar de termos todas as condições para o praticar já”, explicou, referindo as portagens no interior do país e Algarve.

Passos não revelou, porém, o valor dessa “discriminação positiva” no custo das portagens. Ficou claro que, se a coligação PSD/CDS ganhar as eleições, não acabam as portagens, apenas desce o preço a pagar pela circulação em algumas a auto-estradas. 

Para memória futura II: Revogar as alterações feitas por PSD e CDS à lei de interrupção voluntária da gravidez
António Costa já por várias vezes criticou a aprovação, pela maioria PSD/CDS-PP, em final de legislatura, da revisão da lei de interrupção voluntária da gravidez. Nesta sexta-feira, numa acção de campanha no Seixal, considerou que essa legislação “reabriu uma ferida na sociedade portuguesa” e “humilha as mulheres".

“Reabriremos a nova legislatura com a revogação dessa lei”, prometeu.

Linguajar de campanha: Syrizar
"Nós não estivemos no Governo com nenhum calculismo. Só tivemos uma preocupação: não falhar. Se tivéssemos andado a 'syrizar', como tantos queriam e diziam que seria bom para a Europa e para Portugal, se nós tivéssemos seguido esse caminho, nós teríamos falhado."
Passos Coelho, em Oeiras, 17/9/2015

Paragem gastronómica: Dar na cavala
Com os políticos já em força no chamado roteiro da carne assada, a iguaria que frequentemente é servida nos jantares/comícios dos partidos, a centrista Assunção Cristas foi ao peixe. Ou melhor, a ministra da Agricultura e do Mar visitou as novas instalações da Conserveira Ramirez.

Aprendeu a arrumar sardinhas nas latas e ouviu lamentos dos empresários com a recente redução das quotas de pesca da sardinha. Temem que a redução os deixe sem material para satisfazer o mercado nacional e o da exportação. Assunção Cristas apresentou a solução para a falta de sardinha: é a malta passar a dar na cavala. Por duas razões há muita nas nossas águas e, como estes peixes teleósteos perciformes da família dos escombrídeos (está na Wikipédia) são predadoras da sardinha, pode ser que no futuro haja sardinha com fartura.

Pode, porém, haver um problema se os portugueses seguirem esta sugestão da ministra: tendo em conta que, em 2014, deram entrada 1952 toneladas de sardinha nos portos nacionais, e que só em Junho os portugueses consomem em média 13 sardinhas por segundo, somos povo para extinguir a cavala das águas mundiais. Coitada da cavala…

 

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