Costa, um animal político meio perdido

O tom com que António Costa falou com o secretário-geral da UGT na última comissão política do PS é um sinal evidente de que está a ser incapaz de lidar com a contestação que chega de quase todos os sectores da sociedade.

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A três meses das eleições europeias, há um ambiente de instabilidade em Portugal – e não é apenas a greve dos enfermeiros. Há um mal-estar generalizado que chega ao primeiro-ministro, que perdeu a sua proverbial frieza pública. O tom com que António Costa falou com o secretário-geral da UGT na última comissão política do PS é um sinal evidente de que está a ser incapaz de lidar com a contestação que chega de quase todos os sectores da sociedade. A greve dos enfermeiros é particularmente dura, mas o ano eleitoral vai ter altos níveis de contestação e o Governo não está a ser capaz de lidar com o assunto.

De António Costa, que foi capaz de negociar o que era considerado inegociável – a sobrevivência de um Governo PS com o apoio dos comunistas e do Bloco de Esquerda – esperava-se que conseguisse lidar com uma sociedade enervada com o mesmo talento com que se sentou à mesa com o PCP e o Bloco e com eles aprovou quatro orçamentos. Mas não está a ser capaz. Parece perdido. Estranhamente, tão perdido como estava durante a campanha das legislativas de 2015 que contra todas as expectativas conseguiu perder para a dupla que governou o país durante os anos negros da troika, Passos e Portas.

Costa tem esta característica, eventualmente irritante como diria o Presidente da República, de baralhar as expectativas: quando se espera que ele ganhe, perde; quando se espera que definitivamente perca, ganha. Foi assim com as legislativas, foi assim com a formação do Governo.

É difícil prever o sucesso ou o falhanço de Costa – ele já baralhou toda a gente antes. Mas, com os dados que existem hoje sobre a mesa e o mal-estar social visível, é muito difícil que Costa venha a conseguir a maioria absoluta. Claro que o primeiro-ministro continua a achar que é capaz, mesmo quando diz que “a maioria absoluta é virtualmente impossível” o está a tentar fazer é que nenhum voto no PS seja desviado por quem acredita que ela seja possível.

As eleições europeias vão ser uma grande sondagem à capacidade eleitoral do PS. Não é que Costa tenha apostado muito nas eleições para o Parlamento Europeu ao escolher para cabeça de lista um ministro, Pedro Marques, que ninguém no país conhece ou conhece apenas de umas acções de propaganda que passaram na televisão. A campanha terá que ser feita pelo primeiro-ministro. Resta saber se não irá para o terreno com o mesmo entusiasmo com que fez a campanha das legislativas de 2015. Isto é, nenhum.

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