Rui Moreira garante que não teve pressões partidárias para manter Sampaio Pimentel

Presidente da Câmara do Porto dá o incidente com Sampaio Pimentel como resolvido, Já a CDU diz que “o desfecho não significa o fim dos conflitos, mas a manutenção de clima de coesão simulada que provavelmente conhecerá novos episódios de tensão e divisão".

Foto
Rui Moreira Adriano Miranda

A crise política na Câmara do Porto está superada. Manuel Sampaio Pimentel - o vereador que Rui Moreira diz não ser do CDS, porque “o CDS não concorreu às eleições autárquicas no Porto em 2013” - mantém os pelouros, mas são poucos os que verdadeiramente acreditam que incidentes como este não voltarão a repetir-se.

“Os problemas não desapareceram com o comunicado do CDS a dizer que Sampaio Pimentel mantém os pelouros. Os problemas estão lá e toda a gente sabe que lá dentro há uma questão pessoal entre o vereador da Fiscalização e Protecção Civil [Sampaio Pimentel] e o presidente”, declarou ao PÚBLICO um autarca do executivo camarário, revelando que neste conflito o partido presidido Paulo Portas “engoliu em seco para não perder a influência que tem na Câmara do Porto”.

Ao fim de uma semana marcada por notícias sucessivas que apontavam para a retirada de pelouros ao autarca, militante do CDS, o presidente da câmara fez marcha atrás, esquece as declarações proferidas pelo vereador que chegaram, “por vezes, a raiar a ofensa pessoal”, segundo fontes da câmara, e diz que o incidente está sanado. Moreira revela agora que, após o regresso de férias de vereador, e uma vez que estavam em causa declarações polémicas relacionados com pelouros de que Sampaio Pimentel não é responsável, esclareceu com o próprio "o teor e motivação das suas declarações, tendo o assunto ficado sanado”. Esclarece, por outro lado, que a decisão foi tomada “sozinho e sem influência de quaisquer partido ou voz estranha à governação da Câmara Municipal do Porto”.

Moreira tenta desdramatizar o impacto da clivagem, que poderia vir arrastar a própria vice-presidente da câmara, também ela muito próxima de Rui Rio. Ausente no Dubai, Guilhermina Rego, que tutela pelouros importantes como os Recursos Humanos e as Finanças, reage com alguma indignação sempre que são feitas críticas à forma como o anterior presidente geriu o município. Guilhermina Rego é de facto vice-presidente, mas politicamente não beneficia desse estatuto. Na prática, esse protagonismo é assumido por Manuel Pizarro, com quem Rui Moreira fez uma coligação pós-eleitoral.

No desfecho da crise, não deixa de ser estranho que tenha sido o CDS - uma entidade exterior à câmara – a anunciar que Sampaio Pimentel manteria os pelouros e que o CDS está empenhado na prossecução escrupulosa do manifesto eleitoral do projecto "O Nosso Partido é o Porto". Depois de todas as movimentações durante o dia de segunda--feira para assegurar a continuidade do seu vereador, os democratas-cristãos assumem que “mantêm a total confiança” em Sampaio Pimentel e o “total apoio” ao presidente da Câmara do Porto.

Já a CDU fala de uma “frágil unidade assente em interesses estranhos à cidade do Porto". Em comunicado, a CDU sublinha que “a polémica em torno do mandato e das funções do vereador Manuel Sampaio Pimentel traduz a degradação do ambiente no interior da coligação Rui Moreira/CDS/PS, que resulta de questiúnculas e guerras internas, reflecte a existência de sensibilidades políticas e projectos diferenciados, facto que não impediu nem impede a convergência em opções negativas para as populações”.

“Este diferendo, que envolveu directamente o CDS, torna ainda mais claro que a ‘independência’ das listas de Rui Moreira não passa de um mito que se pretende projectar, havendo, como se demonstra dependência partidária do presidente da câmara”, diz a CDU, frisando que “fica por esclarecer se o desfecho anunciado condicionará opções futuras, reforçando a continuidade em relação à gestão anterior de Rui Rio/PSD/CDS no que diz respeito à gestão de dossiers tão importantes como o Teatro Rivoli e o Bairro do Aleixo, entre outros”.

Para a CDU, “o desfecho não significa o propalado fim dos conflitos internos na coligação Rui Moreira/CDS/PS. Antes pelo contrário, significa a manutenção de clima de coesão simulada que provavelmente conhecerá novos episódios de tensão e divisão”.

Reconciliado com Rui Moreira, o vereador vai passar a estar debaixo dos holofotes mediáticos e o próximo orçamento da câmara para 2015 pode funcionar como um teste à coesão entre os dois autarcas. Vai também ser importante seguir o sentido de voto do vereador da Fiscalização e Protecção Civil relativamente a propostas consideradas estruturantes para a cidade, como sejam, o parque habitacional ou a concessão dos transportes, energicamente defendida presidente. Mas, na opinião de um vereador, onde “Sampaio Pimentel não vacilará será com traições permanentes ao legado de Rui Rio feito pelo novo executivo e aí vamos ver o que vai acontecer”.

Sugerir correcção
Comentar