Ferro considera 2017 "inesquecível", Marcelo fala de "ano contraditório"

Presidente da Assembleia da República foi a Belém desejar boas festas ao chefe de Estado.

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LUSA/Tiago Petinga/Arquivo

O presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, considerou nesta terça-feira que 2017 foi "inesquecível" também por maus motivos, e o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, descreveu-o como "um ano contraditório".

Durante uma sessão de apresentação de cumprimentos de boas festas da Assembleia da República ao Presidente da República, no Palácio de Belém, em Lisboa, os dois elogiaram o relacionamento entre os respectivos órgãos de soberania, em termos institucionais e no plano pessoal.

Ambos fizeram um balanço de 2017, e concordaram que houve progressos económicos e financeiros e que a imagem externa de Portugal melhorou. Ferro Rodrigues falou numa "renovada imagem positiva" do país e Marcelo Rebelo de Sousa numa "nova maneira de internacionalmente se ver o país".

Segundo o Presidente da República, este "foi um ano cheio, talvez cheio de mais", e "foi um ano contraditório, feito de notícias agradáveis e feito de choques muito profundos". "Teríamos dispensado boa parte daquilo que foi vivido no ano que está a terminar. Mas não teríamos dispensado, obviamente, os sucessos que tivemos, quer os sucessos no domínio económico e financeiro, quer os sucessos em termos de reconhecimento internacional", declarou o chefe de Estado, acrescentando: "Esse é um facto indiscutível, e que nos alegra como portugueses".

Relativamente aos aspectos negativos do ano, o presidente da Assembleia da República, que interveio primeiro, lembrou a morte de Mário Soares, em Janeiro. "O ano de 2017, que está a terminar, foi um ano marcado por alguns acontecimentos que muito nos entristeceram. Em primeiro lugar, logo no início do ano, o falecimento de Mário Soares, fundador da democracia e da nossa Constituição da República e grande lutador", afirmou.

Ferro Rodrigues referiu-se depois aos fogos que mataram mais de cem pessoas: "Tivemos em Junho e Outubro fogos de enorme dimensão que causaram muitas mortes, muito sofrimento a muita gente e que destruíram uma parte da nossa riqueza florestal". "Portanto, este ano é inesquecível também por esses maus motivos", concluiu.

Por sua vez, Marcelo Rebelo de Sousa disse que Portugal teve em 2017 "momentos de profunda tristeza, de que os dois mais salientes, embora não únicos, mas de longe mais salientes, foram as tragédias de Junho e de Outubro".

Quanto aos "momentos de alegria", além dos progressos económicos e financeiros, o Presidente da República apontou as eleições autárquicas de 1 de Outubro: "É sempre um momento de júbilo, porque é um momento de valorização de uma das componentes essenciais da nossa democracia constitucional".

O presidente da Assembleia da República enunciou "boas notícias" em matéria de emprego, crescimento económico, investimento e exportações, dívida pública e assinalou a saída do procedimento por défice excessivo. "Isso não nos deve fazer esquecer que temos problemas estruturais", ressalvou, no entanto, Ferro Rodrigues, defendendo que Portugal precisa de prosseguir "este élan que vem de 2017".

No plano pessoal, o chefe de Estado afirmou que se tem relacionado "de forma especial" com o presidente da Assembleia da República: "Não tendo existido uma amizade anterior, tem-se criado essa amizade". Em termos institucionais, qualificou o relacionamento entre os dois órgãos de soberania como "singularmente positivo".

No mesmo sentido, Ferro Rodrigues disse que era "um momento de gosto e prazer" estar em Belém e manifestou empenho em continuar "este magnífico relacionamento".

Em nome do Parlamento, desejou ao chefe de Estado "um óptimo Natal e um ano novo muito feliz", considerando: "Um ano novo feliz para o senhor Presidente da República será um ano novo feliz também para todos nós e para Portugal".

O Presidente congratulou-se por se manter em Portugal a tradição de desejar "um feliz Natal", quando "noutros países já só se deseja um bom período de férias, ou de festas". "Um feliz Natal e um ano de 2018 que consiga ter o melhor de 2017, não tendo o pior de 2017", pediu.

Na sua intervenção de dez minutos, o Presidente da República afirmou que o Parlamento tem um papel fundamental para evitar populismos e xenofobia e advertiu para a importância de se acompanhar os movimentos sociais, não se deixando espaço para contestações inorgânicas.

Perante o presidente da Assembleia da República e representantes de todos os partidos com assento parlamentar, na Sala dos Embaixadores do Palácio de Belém, Marcelo Rebelo de Sousa  disse-lhes que "é fundamental" o seu papel como deputados e o papel dos respectivos partidos políticos para "evitar populismos, xenofobias, surtos de contestação inorgânica, quer no plano laboral, quer no plano político, que têm percorrido outros países". No seu entender, "isso não tem acontecido em Portugal, por mérito, naturalmente, da Assembleia da República, dos seus deputados, dos partidos políticos, dos parceiros económicos e sociais, naturalmente também do Governo".

Marcelo Rebelo de Sousa acrescentou que, como Presidente da República, "tem tido essa preocupação constante, de prevenir que chegue a Portugal aquilo que, num momento de perturbação, de maior choque, de maior trauma, de maior indefinição, de maior hesitação tem justificado realidades que, apesar de tudo, pesam hoje mais na cena europeia do que pesavam há cinco, há dez ou há quinze anos".

O chefe de Estado defendeu que "isso depende da capacidade do sistema político de se afirmar, na área do Governo, como na área da oposição", e reiterou que tanto o executivo como a oposição devem ser fortes constituindo opções alternativas e "não deixando interstícios" que possam ser ocupados por movimentos fora do sistema. O Presidente da República advertiu para "os movimentos sociais que aqui e ali podem despontar e que o sistema político e o sistema social em geral têm a obrigação de integrar, no sentido de estar atento àquilo que se move na sociedade portuguesa".

Já antes, a propósito dos incêndios deste ano, Marcelo Rebelo de Sousa tinha falado na importância de os representantes do povo, como os deputados e o Presidente da República, acompanharem "o pulsar do sentir colectivo", sem descurar os "momentos mais dolorosos".

Além de Ferro Rodrigues, estiveram nesta apresentação de cumprimentos de boas festas os vice-presidentes da Assembleia da República José Matos Correia, Jorge Lacão, José Manuel Pureza e Teresa Caeiro, e os líderes parlamentares do PSD, Hugo Soares, do PS, Carlos César, do CDS-PP, Nuno Magalhães, do PCP, João Oliveira, e do PEV, José Luís Ferreira. Estiveram ainda presentes nesta sessão de sessão de cumprimentos, que foi seguida de um almoço com o Presidente da República no Palácio de Belém, a deputada Mariana Mortágua, em representação da direcção da bancada do BE, o deputado do PAN André Silva e os secretários e vice-secretários da Mesa da Assembleia da República.

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