“A esquerda liberal foi claramente anticomunista”

Soares era uma referência, mas desconfiavam do Partido Socialista.

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LUIS VASCONCELOS

Em 1984, personalidades diversas deram corpo a um grupo de reflexão com um objectivo concreto. “A designação Clube de Esquerda Liberal foi uma provocação para focar a questão, era uma forma de contestar um tabu”, recorda, ao P2, João Carlos Espada, professor universitário e antigo consultor para Assuntos Políticos dos presidentes Mário Soares e Aníbal Cavaco Silva.

“A referência central para a esquerda liberal era Soares, mas havia a percepção de que o PS não estava compatível com a economia de mercado, era para marcar claramente que a economia de mercado abarcava a esquerda e a direita democrática”, insiste.

“A batalha do Clube era a das ideias, não era um objectivo político-partidário, mas contribuir para centrarmos a ideia de que a economia de mercado e a democracia liberal eram casas comuns da esquerda e da direita liberais”, analisa. Em volta destes princípios, reuniram-se personalidades como José Pacheco Pereira, Manuel Villaverde Cabral, António Costa Pinto, Henrique Monteiro, José Manuel Fernandes, Teresa de Sousa, José Lamego e Pedro Bacelar.

“Soares esteve em duas ou três reuniões do Clube, para a sessão de lançamento no Palácio Foz convidámos Paulo Portas e Jorge Braga de Macedo”, lembra Espada. “Tínhamos uma relação pessoal com Mário Soares muito próxima e agradável, mas nunca colocámos o Clube no domínio da política partidária”, insiste

“Depois da queda do Muro de Berlim [em 1989], a questão ficou assente, mas tentámos contribuir para a vitória intelectual da ideia, depois desaguamos de diferentes formas na praça pública e na cidadania”, descreve. “A esquerda liberal foi claramente anticomunista, daí a grande sintonia com Mário Soares, um homem de esquerda que não tinha complexos em ser anticomunista”, admite. 

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