Não acredito que os deputados vivam “à custa da mulher que se prostitui”

Gonçalo da Câmara Pereira, vice-presidente do Partido Popular Monárquico (PPM), lavrador e candidato a deputado pelo círculo de Lisboa do partido da coroa portuguesa, tem tido pouco tempo para a campanha.

Segundo o próprio revelou, a sua campanha tem sido a vindima na sua herdade alentejana. Ainda assim, nesta segunda-feira, lá deixou as suas uvitas aos desmandos da natureza e foi fazer campanha para as ruas de Arronches, ali para os lados de Portalegre.

Ó senhor candidato, não leve a mal que lhe diga desde já uma coisa: o pessoal de Arronches não o elege para coisa nenhuma. Vossa excelência é candidato pelo círculo de Lisboa. Tem de vir para a baixa alfacinha distribuir bacalhauzadas e beijocas às senhoras. Dar umas voltitas ao Marquês. Mas pronto, isso agora não interessa nada. Deve ser para não deixar por muito tempo as vides e os borregos. O que interessa é que, em boa hora, a agência Lusa mandou um enviado especial a Arronches acompanhar o candidato do PPM.

E o que tinha Gonçalo da Câmara Pereira para dizer ao país? Que propostas tem para apresentar aos portugueses? Nada disso. O que o candidato tinha era uma “bomba” para largar em Arronches, que a partir de agora entrou para a história da política portuguesa.

Passo a citar: “Eu trabalho, não sou chulo do Estado, não sou senhor deputado, não ganho cinco mil euros para chular os portugueses. Eu quero ir para lá [Assembleia da República] e dizer exactamente isto: ‘vão mas é trabalhar!’”

Fiquei tão abananado que até fui ver ao dicionário o que queria dizer “chulo” para não cometer nenhum erro: 1, “Próprio da ralé; grosseiro; rústico; soez; lascivo; 2, aquele que vive à custa da mulher que se prostitui.”

Não acredito que o candidato se estivesse a referir à primeira parte do que explica o dicionário. Até porque se afirmasse “eu não sou rústico” estava a mentir. “Eu não sou lascivo”, ou “soez” também não soa bem.

Portanto, o que o senhor candidato a deputado queria mesmo dizer é que não “vive à custa da mulher que se prostitui”, tal como o fazem os 230 deputados da nação.

O senhor candidato tem a certeza que aquela gente eleita pelos portugueses para nos representarem na muito nobre casa da democracia, tantas vezes acusada injustamente de tudo e mais umas botas, está toda metida no soez “negócio” de “viver à custa da mulher que se prostitui”?

O senhor candidato descendente de reis e rainhas está a dizer aos portugueses que esta malta vai andar durante 15 dias em campanha de manhã até de madrugada, correndo o país de ponta a ponta, apenas para poder continuar a viver “à custa da mulher que se prostitui”?

Então e o senhor é candidato para se juntar a esta gente?

Vossa excelência desculpe, não é que tenha algo que me faça desconfiar de si, até porque, provavelmente, tem provas para apresentar no Ministério Público, mas não acredito.

Não acredito. O senhor quer que eu acredite que Jerónimo de Sousa, por exemplo, entre a intensa defesa dos trabalhadores, os jogos do Benfica e umas horas para dedicar aos netos ainda tem tempo para gerir uma casa de alterne lá para Pirescoxe. Não acredito.

Mais uma vez não leve a mal que lhe dê um conselho: discretamente, volte lá para as suas uvas e para a bicharada da sua herdade e não se meta mais nisto da campanha.

Desinteresse-se da coisa. Vire-se mais para os fados. Vossa excelência parece não ter nada de jeito para dizer.

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