Não se pode votar já?

A campanha entrou nos minutos de lixo, só a ironia a torna suportável.

Não nos podemos queixar. Na pré-campanha foram levantadas questões sérias, definidas posições e estabelecidas diferenças. E nas oficiais duas semanas de propaganda houve momentos de esclarecimento. Mas o tempo tudo desgasta.

Houve omissões, temas secundarizados e situações evitadas. Um exemplo gritante: a crise dos refugiados não suscitou o debate que a gigantesca dimensão de débacle humanitária devia implicar. É suposto que as campanhas formem a cidadania para além dos limites da paróquia. Assim não aconteceu.

O desgaste contamina caravanas atreitas ao minimalismo. As televisões lá estão para dar grandeza à pequenez, elevar a notícia o episódio e tornar relevante o mais que acessório.

No Jornal de Campanha da SIC Notícias, na madrugada de 1 de Outubro, Passos Coelho rebaptizou o Cavaquistão de Viseu como Passistão. Portas rectificou para Pafistão. E todos contentes. Também em Viseu, Passos falou do conforto de ter um crucifixo no bolso.

No mesmo canal, Ângelo Correia espantou-se com a conversão e endereçou os parabéns ao atónito democrata-cristão Bagão Félix. Quando a legitimidade de uma opção individual é exibida com sabor a propaganda, a campanha entra nos minutos de lixo. Só a ironia a torna suportável.

E no Jornal de Campanha insiste-se no lamento corporativo do cansaço dos jornalistas. Não se pode votar já?

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