Pode o próximo líder relançar o PSD?

As primeiras sondagens depois da mudança de líder de um partido podem ser determinantes para a afirmação da nova liderança. Mas serão essenciais para a sua sobrevivência política?

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Rui Rio repetiu a estratégia de António Costa. Quando, em Setembro de 2014, o actual primeiro-ministro esteve frente a frente na RTP com António José Seguro, Costa pegou numa folha A4 com um gráfico: “Quando perguntam aos portugueses quem é melhor primeiro-ministro, António Costa ou Pedro Passos Coelho, a resposta é António Costa. Se perguntam António José Seguro ou Passos Coelho, a resposta é Passos Coelho.” As sondagens serviam de justificação a Costa para avançar numa corrida à liderança do PS, por não se conformar “em oferecer a vitória à direita”. Seguro ainda tentou descredibilizar o estudo de opinião realizado para o Expresso (então dirigido por Ricardo Costa, irmão de António), mas as eleições terminaram com os resultados que se conhecem.

Foi com esta visão de que as sondagens o favorecem que Rui Rio tentou chamar a atenção dos militantes durante a actual campanha interna do PSD — capitalizando os resultados que o davam como o candidato mais bem colocado para disputar umas legislativas contra António Costa. Isto, apesar de tanto Rio como Santana surgirem atrás do actual primeiro-ministro nas pesquisas de opinião já realizadas.

A história mostra-nos que o eleitorado reage bem a mudanças na liderança dos partidos. A investigadora do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade Felisbela Lopes diz que isso se deve ao facto de as “mudanças serem sempre tempo para criarmos expectativas”. Havendo desgaste da imagem dos políticos que estão de saída, a mudança de liderança “pode ser um factor positivo”. Neste caso concreto, o problema é que durante a campanha interna “Santana e Rio acabaram por desgastar mutuamente a sua imagem”, e isso “não ajuda a que haja um aumento da popularidade do próximo líder”.

Depois de Costa ter vencido as eleições primárias do PS, que escolhiam um “candidato a primeiro-ministro”, os socialistas dispararam de uma média de 32% nas sondagens para os 40,1% no período de um mês. Com Passos Coelho, em 2010, aconteceu o mesmo. Os sociais-democratas passaram de uma média de 29,3% para os 39,4% quatro meses depois da eleição de Passos Coelho para líder do PSD.

Para o director do Centro de Sondagens da Universidade Católica, André Azevedo Alves, as primeiras sondagens após a eleição de um líder são naturalmente importantes. “Elas podem traduzir-se numa maior ou menor receptividade do eleitorado ao novo líder. No entanto, não devem ser sobrevalorizadas”, defende.

Um líder de transição

O primeiro efeito de uma mudança na presidência de um partido “é muitas vezes positivo, nomeadamente quando a liderança anterior está desgastada”. Mas Azevedo Alves lembra que só a prazo é que se percebe se essa mudança é ou não positiva, tendo em conta o desempenho da nova liderança e a sua capacidade de afirmação.

Considerando a boa avaliação do actual Governo nos estudos de opinião, os resultados positivos alcançados e a retoma na economia, a possibilidade de o novo líder do PSD ter dificuldades em impor-se surge como cenário provável. Esta semana, em entrevista ao PÚBLICO e à Rádio Renascença, Miguel Relvas falava mesmo numa liderança para dois anos, com o próximo presidente do PSD a ser “posto em causa”, se não ganhar as eleições.

É também esta ideia que faz com que Felisbela Lopes não preveja uma mudança drástica naquilo que têm sido os últimos barómetros políticos: “A principal razão para não serem esperadas alterações significativas nas sondagens é a de haver uma percepção de que estamos provavelmente perante um líder de transição”, percepção essa que não terá sido desfeita nos últimos meses, nem sequer nos debates entre os dois candidatos.

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A própria campanha acabou por ser pouco conclusiva, com muito passado em discussão, mas poucas ideias de futuro. “Nenhum dos candidatos assumiu, de facto, uma ruptura decisiva com aquilo que têm sido os caminhos do PSD, nem apontou para um caminho novo.” E, assim, Felisbela Lopes entende que não existe um ambiente favorável a uma mudança nas intenções de voto.

Cristas leva avanço

Enquanto Passos se arrastou na liderança do PSD no pós-legislativas, Paulo Portas abriu caminho a uma nova liderança no CDS. Assunção Cristas foi, assim, conquistando espaço e eleitorado e teve o seu ponto alto no resultado obtido nas últimas autárquicas, em Lisboa. Cristas somou 20,6% dos votos, o que fez dela a segunda candidata mais votada na capital — um resultado histórico. No discurso após os primeiros resultados da noite, a líder do CDS deixava já uma “ameaça” ao PSD, afirmando: “Em Lisboa, somos certamente os líderes da oposição e a nível nacional tudo faremos para o ser.” Logo aí, a centrista assumiu que lutaria para se demarcar dos sociais-democratas.

Este crescimento da presidente do CDS pode de certa forma atrasar o crescimento do PSD, na opinião de Felisbela Lopes. “Cristas é uma líder muito proactiva nas questões políticas e tem uma estratégia bem definida na forma como a sua mensagem é colocada no espaço mediático.” E essa eficácia na comunicação política não tem sido conseguida por parte do PSD, explica.

Já André Azevedo Alves entende que, apesar do resultado obtido por Cristas em Lisboa, o seu eventual crescimento vai depender muito da capacidade de afirmação da nova liderança dos sociais-democratas. “Não há qualquer garantia de que o que aconteceu numas autárquicas em Lisboa — por muito importantes que sejam — se vá repetir numa dinâmica nacional, em eleições de natureza diferente.”

Para o director do Centro de Sondagens da Católica é provável que, caso a nova liderança do PSD se consiga afirmar, isso limite muito o espaço de crescimento do CDS. Todavia, diz Azevedo Alves, “não há a garantia de que o espaço que era ocupado pelo PSD no passado seja recuperável no futuro”.

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