Jovens do Porto debatem em Bruxelas o papel da cultura no futuro da Europa

Três estudantes da Escola Aurélia de Sousa foram as participantes portuguesas no programa “Your Europe, Your Say” organizado pelo Comité Económico e Social da União Europeia.

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Mariana Tavares, Iara Rocha e Alice Ferreira DR
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Alice Ferreira, Iara Rocha e Mariana Tavares, estudantes do 11.º ano de Humanidades da Escola Secundária Aurélia de Sousa, do Porto, foram as três participantes portuguesas no programa “Your Europe, Your Say”, organizado pelo Comité Económico e Social da União Europeia para dar a uma centena de jovens vindos dos 28 Estados-membros e dos seis países candidatos à adesão uma oportunidade de debater ideias e apresentar propostas sobre o futuro da Europa — este ano, em concreto, sobre o papel da juventude na promoção da cultura europeia.

A experiência, nos últimos dois dias em Bruxelas, permitiu às três estudantes de 17 e 16 anos conhecer os meandros de uma instituição que, mesmo sem ter actividade política, tem a capacidade de intervir e influenciar as políticas europeias, enquanto representante da sociedade civil organizada. “Um dos propósitos é exactamente o de desmistificar a ideia que existe sobre Bruxelas em muitos países”, explica o vice-presidente para Comunicação do CES, Gonçalo Lobo Xavier, promotor da iniciativa que cumpriu a sua 9.ª edição.

Como disseram ao PÚBLICO as três jovens, a participação no programa permitiu-lhes contactar pela primeira vez com um ambiente que esperam reencontrar no seu futuro profissional, que gostariam pudesse estar ligado às organizações internacionais — Alice quer enveredar por uma carreira ligada à via humanitária e resolução de conflitos, e Mariana está interessada em trabalhar nas instituições europeias, precisamente em matérias ligadas à cultura. Iara quer seguir representação, mas como percebeu em Bruxelas, essa opção não é incompatível com o exercício da cidadania, nem exclui que tenha uma “voz política, por exemplo, no debate dos temas da igualdade das mulheres”.

Sentir-se europeu

Como salientaram no final do programa, os contactos que estabeleceram e o trabalho que executaram em interacção com jovens de dezenas de outros países também lhes permitiram ganhar “uma visão muito mais abrangente do que é a Europa” — e também do lugar de Portugal no contexto europeu, “um país pequeno que é tão importante como os outros”, nota Mariana. “Esta experiência traz-nos uma percepção completamente diferente da Europa. Agora sinto que me posso relacionar mais facilmente com a uma frase de uma das oradoras, a actriz Daphne Patakia, [nascida em Bruxelas e filha de pais gregos] que disse que mais do que identificar-se como grega ou como belga, o que sente é que é europeia”, diz Alice Ferreira.

E no caso de Mariana Tavares, a experiência vai poder prolongar-se: a proposta apresentada pelo seu grupo de trabalho foi uma das três (de um total de dez) mais votadas por todos os participantes no programa, o que lhe garantiu um convite da Comissão Europeia para participar na próxima Semana da Juventude, em Maio de 2019.

No Ano Europeu do Património Cultural, o CES quis que os participantes no programa “Your Europe, Your Say” reflectissem sobre o papel que a cultura pode desempenhar no futuro da Europa. Os jovens participaram em workshops e depois organizaram-se em grupos de trabalho para discutirem as suas visões e elaborarem propostas ou resoluções com acções concretas que respondessem ao desafio: de que forma pode a juventude europeia envolver-se na promoção da sua cultura?

Usar o passado para construir o futuro

Por coincidência, esse já tinha sido o tema debatido na Escola Aurélia de Sousa durante a semana das Humanidades, em que os alunos abordaram a questão da defesa do património, notou a professora Maria Paula Magalhães, responsável pela candidatura ao programa (todas as escolas podem habilitar-se, o processo é uma lotaria) e acompanhante das três estudantes.

O grupo que Mariana Tavares integrou apresentou uma proposta para “preservar a cultura, aprender com o passado e usá-lo para construir o futuro”, que contemplava dois projectos específicos: o estabelecimento de uma “Casa da Gastronomia Europeia” em cada Estado-membro, para promover a degustação de pratos típicos de cada país; e ainda a criação de um novo programa de apoio à produção de artesanato, com o desenvolvimento de uma plataforma e loja oficial online.

Na votação final das propostas, ficou em primeiro lugar, ex-aequo com uma outra ideia para a “descoberta de outras culturas através da viagem”: os jovens pensaram numa fórmula de intercâmbio durante as férias escolares, que passa pela aprendizagem de uma língua estrangeira através de programas que são desenhados de acordo com os interesses culturais associados (por exemplo, em música ou pintura).

Outras ideias foram, por exemplo, para a combinação de programas como o Interrail e o couchsurfing para facilitar o acesso dos jovens ao património cultural; o financiamento de programas de apoio à produção artística; a criação de bases de dados que reúnam livros, músicas ou filmes representativos das diferentes culturas; ou a realização de acções junto dos “influencers” das redes sociais para a promoção da diversidade cultural como forma de combater estereótipos. Várias das propostas insistiam na necessidade de investir na educação — por exemplo, para criar uma rede de intercâmbio de professores, ou para que todas as escolas possam oferecer educação cultural à sua comunidade.

Todas as propostas apresentadas pelos estudantes são publicadas pelo Comité Económico e Social, que adopta as três ideias mais votadas como resoluções, a apresentar aos três órgãos da União Europeia (Comissão, Conselho e Parlamento Europeu). Esses são documentos que Gonçalo Lobo Xavier reputa de preciosos, uma vez que garantem que “a voz e a perspectiva de jovens independentes” chega aos decisores políticos europeus. E, espera, algumas das boas ideias que os jovens defenderam poderão também vir a ser adoptadas por organizações da sociedade civil.

Alice Ferreira também espera que sim. Apesar de o projecto que defendeu não ter sido um dos mais votados, e de se ter sentido nervosa como porta-voz do seu grupo, a jovem não esquecerá a “sensação de ser ouvida” que experimentou em Bruxelas.

 

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