"Professor não me chateie, a Educação Física nem sequer conta para a média…"

A Educação Física não é mais do que nenhuma das outras áreas, mas não é inferior a nenhuma delas.

É mentira! É mentira quando dizem que os alunos não alteraram a sua atitude nas aulas de Educação Física por esta não contar para a média de acesso ao ensino superior.

Quem vos escreve está no terreno, dá aulas todos os dias e nestes cinco anos em que a Educação Física foi remetida para uma posição inferior – responsabilidade de Nuno Crato, o ministro que mais prejudicou as Expressões – vários foram os alunos que proferiram a afirmação que consta no título deste artigo. E se o disseram a mim, certamente que disseram a muitos colegas meus…

Há quem diga que a Educação Física é uma disciplina muito específica… Verdade! Há quem diga que os alunos não têm culpa de não terem jeito para a Educação Física… Também é verdade!

Mas essas verdades não podem colocar em causa a essência do ensino, um ensino que se quer transversal e responsável pela formação completa do aluno, do homem, do cidadão. A Educação Física faz isso tudo, aliás, se há disciplina que trabalha as componentes sociais, cognitivas e físicas em simultâneo é a Educação Física.

Reparem neste simples exemplo…

Para jogar futebol, o aluno tem de calcular e recalcular continuamente as movimentações dos seus colegas de equipa, dos seus adversários, conhecer uma série de regras, aplicar as suas capacidades físicas e técnicas, cumprindo com relações sociais de respeito e cooperação. Todos estes conceitos são aplicados na prática e em milésimos de segundo. Já viram quantas “luzinhas” são acesas no cérebro do aluno só por dar uns pontapés numa bola como alguns dizem? Não se iludam, essas “luzinhas” são transversais a todas ou quase todas as profissões, a Educação Física é isto, a Escola é isto…

O Ronaldo é um génio, o Miguel Ângelo foi um génio, Mozart foi um génio e a genialidade não se mede apenas em números e letras. Existem diferentes tipos de inteligência, e todas elas são importantes, todas elas são semelhantes e todas elas fazem parte de um desenvolvimento salutar de uma crianças/jovem.

Mas eu sou aluno de 18 e 19 valores e não tenho culpa de não conseguir fazer uma cambalhota e assim já não vou conseguir entrar para a faculdade…

Pergunto-vos, alguma vaga de Medicina ou de Engenharia Aeronáutica ficou por ocupar nos últimos cinco anos? Não, óbvio que não!

O que preferem? Um médico com uma média de 19 valores que tirou um 10 a Educação Física ou um médico que tem média de 19 valores e tirou um 15 a Educação Física?

Eu prefiro um médico que saiba trabalhar em equipa, tenha uma elevada inteligência emocional para lidar com os seus pacientes e apresente elevada destreza na sua coordenação fina para realizar as suas operações.

Há também quem afirme que a Educação Física baixa a média a um número significativo de alunos. A esses só lhes peço uma coisa… Provem! Até lá, aconselho ao leitor que visite uma escola e analise as pautas afixadas. Depois digam qual é a disciplina que em média tem classificações mais elevadas…

Não é justo! Quem quer afastar a Educação Física, esquece-se sempre dos alunos que têm dificuldade a Português, Matemática, Inglês, História, Física, Química, Filosofia, etc, por que razão esses alunos não podem abdicar do seu calcanhar de Aquiles para não prejudicarem a sua média? Por que é que só falam da Educação Física??? Alguém que me esclareça pois ainda não consegui perceber como uma disciplina que é fundamental para o desenvolvimento salutar dos nossos jovens, num país que tem uma elevada taxa de obesidade, pode simplesmente ser tão desvalorizada, tão desprezada, até pelos próprios professores das outras áreas curriculares.

A Educação Física não é mais do que nenhuma das outras áreas, mas não é inferior a nenhuma delas. A Educação Física merece o mesmo estatuto, o mesmo respeito, a mesma dignidade e essa dignidade passa pela paridade com as suas parceiras.

Um país que, apesar de ter sido mais uma vez Campeão da Europa, é um país sem cultura desportiva, um país amador que exige medalhas profissionais, um país que passa horas a discutir arbitragens, que vive da calúnia, da polémica, que cria sistematicamente suspeitas, que não sabe perder, não sabe ganhar, um país que precisa com urgência de uma política desportiva ao nível do 1.º ciclo, um país que encara a atividade física como um extra e não como uma necessidade absoluta.

Este é o país que nos últimos cinco anos disse aos seus alunos: Meninos, a Educação Física é só para passar, pouco interessa se tens 10 ou 20 valores, pouco interessa se corres muito ou pouco, pouco interessa se te esforças ou não, é para entreter, é recreio, o que interessa são as outras, essas são as que contam efetivamente para a tua média.

Não! Basta! Queremos um país evoluído? Então a Educação Física que volte ao lugar que merece.

O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico

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