Resposta do Governo foi emotiva e precipitada, diz presidente da Liga dos Bombeiros

Entidades como os bombeiros, a Marinha, o Exército, a Força Aérea, a PSP e a GNR devem ser ouvidas antes da tomada de decisões, defende Jaime Marta Soares.

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Nelson Garrido

O presidente da Liga de Bombeiros Portugueses (LBP) acusou este domingo o Governo de ter dado uma resposta emotiva e precipitada sobre os incêndios, mas ressalvou que muitas das medidas aprovadas são reivindicações antigas dos bombeiros.

"Mal vai um país quando é assim governado por emoções, e por decisões [tomadas] porque tem de se dizer qualquer coisa ao país", afirmou Jaime Marta Soares, em declarações à Lusa, após o Conselho de Ministros extraordinário de sábado ter aprovado várias medidas contra incêndios florestais, nomeadamente a profissionalização do modelo de combate aos fogos.

"A emoção não deve deixar de dar lugar primeiro à razão", afirmou, defendendo que não deve haver precipitação nesta tomada de decisões, que entidades como os bombeiros, a Marinha, o Exército, a Força Aérea, a PSP e a GNR devem ser ouvidas antes da tomada de decisões, por se tratar de um problema do país, e de todos os portugueses.

Jaime Marta salientou que a resposta à tragédia dos incêndios, que desde junho vitimaram mais de 100 pessoas, tem de ser consistente: "Têm de ser reformas que, daqui a meia dúzia de anos, não nos estejamos a arrepender, como estamos a arrepender destas, que têm dez anos e que poderiam ter sido melhor se os bombeiros tivessem sido ouvidos."

O presidente da Liga criticou o Governo por não parar "uns dias" para reflectir e por anunciar que os bombeiros "vão fazer isto ou aquilo" sem antes falar com estes operacionais que, lembrou, "não são propriedade do Estado".

A Liga apoia a profissionalização dos bombeiros, uma medida anunciada sábado, mas alerta para a necessidade de antes ser necessário explicar ao país que essa é uma consequência do "mau tratamento" e da situação "dramática" em que sucessivos governos deixaram a floresta.

"Dou só o exemplo do Pinhal de Leiria, que é estatal, uma vergonha nacional", afirmou, explicando que a partir do momento em que o Governo anuncia a necessidade de profissionalização "de um momento para o outro, aparenta que os bombeiros não foram capazes".

O presidente da Liga disse ainda que, se há contas a pedir sobre os incêndios dos últimos meses, que as peçam às estruturas do Estado e não aos bombeiros, que "fizeram bem aquilo que tinham que fazer" e com o seu "sentido de missão".

Jaime Marta considera também positiva o novo papel das Forças Armadas na prevenção de incêndios, mas disse esperar que essa actuação seja também no rescaldo dos incêndios, uma função que considera dever ser das forças armadas. "Pena é que com tanto know how que têm, com tantos efectivos, já não estivessem no terreno como sempre pedimos", afirmou.

Também está de acordo com a Força Aérea a gerir os meios aéreos, mas alertou que é necessário saber que quantidade de aparelhos o Estado vai adquirir e como vai ser feita a sua gestão ao longo do ano: "Não pode ser só por um calendário de épocas, temos de estar preparados para qualquer momento", frisou.

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