"Se todos fossem como os portugueses, recursos do planeta acabavam"

Francisco Ferreira, presidente da associação ambientalista Zero, diz que seriam necessários mais planetas para responder ao consumo de Portugal. Défice ecológico do país deve-se a grau de dependência de recursos ou a utilização excessiva de recursos locais

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Se a alimentação fosse mais à base de legumes, Portugal pouparia recursos Jornal Publico

Se todas as pessoas no mundo usassem os recursos do planeta como os portugueses, na segunda-feira estes acabavam, alertou este domingo Francisco Ferreira o presidente da associação ambientalista Zero, em vésperas do Dia Mundial do Ambiente.

Segundo uma análise divulgada pela Zero, com base em dados da organização Global Footprint Network, se todos os países tivessem a mesma pegada ecológica que Portugal, "seriam necessários 2,3 planetas" para responder ao consumo. O défice ecológico do país aumentou continuamente até ao início dos anos 2000, registou uma redução a partir desde 2006 e "deve-se tanto a um elevado grau de dependência dos recursos e da biocapacidade do exterior como à utilização excessiva dos recursos locais", resume a associação liderada por Francisco Ferreira.

Em declarações telefónicas à agência Lusa, a propósito da sessão Compreender a utilização que Portugal faz dos recursos naturais da biosfera através da contabilização da Pegada Ecológica, que decorre hoje em Guimarães e se insere na Green Week, Francisco Ferreira apontou que os portugueses consomem em excesso os recursos do planeta, em comparação com a média dos habitantes e tendo em conta aquilo que o planeta consegue regenerar.

De acordo com o presidente da Zero, a explicação para este dado tem três motivos, um dos quais relacionado com o tipo de alimentação que os portugueses têm, pois prevalece o consumo de carne e de peixe, o que, do ponto de vista dos recursos, é "significativo". "Em comparação com uma alimentação onde vamos buscar o primeiro nível da cadeia alimentar, com menos carne, menos peixe e mais vegetais, isto tem um impacto muito grande nos recursos", apontou. 

Por outro lado, responsabilizou as emissões de dióxido de carbono, sobretudo ao nível da mobilidade, e a dependência em relação aos combustíveis fósseis, como o petróleo, o gás natural ou o carvão, cujo "impacto é extremamente elevado, por pessoa, principalmente associado ao uso do automóvel, mas também à produção de electricidade".

Em terceiro lugar, Francisco Ferreira destacou a economia circular, apontando que Portugal usa "muitos recursos desnecessariamente", e que os portugueses substituem muito os equipamentos, fazem "demasiadas" compras, desde vestuário aos electrodomésticos, com muitos destes materiais a terem um fim num aterro.

Defendeu, por isso, que é preciso uma mudança de paradigma e de mentalidade "muito profunda". "Devemos substituir o querer mais para dar lugar a palavras como a qualidade de vida, a suficiência e, acima de tudo, o conseguirmos viver de uma forma sustentável e feliz em harmonia com aquilo que o planeta nos é capaz de dar", sublinhou Francisco Ferreira.

A pegada ecológica média de cada português, que relaciona o consumo de recursos naturais e a capacidade de resposta da natureza, aumentou 73% entre 1961 e 2013, ocupando Portugal o 9.º lugar entre os países mediterrânicos.

 

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