“Só estamos a adiar o inevitável, o fecho das escolas”, diz epidemiologista Carmo Gomes

No domingo, dia das eleições, o número de mortes por covid-19 poderá chegar às duas centenas, calcula a equipa do professor da Faculdade de Ciências de Lisboa.

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Rui Gaudencio

“Só estamos a adiar o inevitável, o fecho das escolas”, lamenta Manuel Carmo Gomes, epidemiologista e um dos especialistas que aconselha o Governo, que se confessa “desapontado” com as novas medidas de confinamento apresentadas esta segunda-feira pelo primeiro-ministro, até porque já tinha aconselhado na reunião do Infarmed que, por uma questão de precaução, se colocassem os alunos acima dos 12 anos em aulas à distância.

O professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa revela que as estimativas da sua equipa apontam para cerca de 200 mortes e 14 mil novos casos de infecção no próximo domingo. E os cálculos, ainda provisórios para o período entre 9 e 11 de Fevereiro, apontam para 6100 doentes internados nos hospitais, 840 dos quais em unidades de cuidados intensivos.

O problema, avisa, é que o grupo etário dos 13 aos 17 anos é aquele em que mais tem aumentado a incidência da infecção pelo novo coronavírus nas duas últimas semanas. Uma incidência que é já de cerca de 1200 novos casos por 100 mil habitantes no valor acumulado a 14 dias, colocando estes adolescentes agora em terceiro lugar, a seguir aos jovens entre os 18 e os 24 anos, que lideram a tabela com cerca de 1550 casos por 100 mil habitantes nas últimas duas semanas, e a população activa. 

Por isso, o especialista repete o conselho que já tinha dado na última reunião do Infarmed: “devíamos limitar a circulação dos jovens a partir dos 12 anos e colocá-los no ensino à distância, quando possível”. Se isso não for feito, “receio que tenhamos que fechar as escolas mais tarde”, atira.

Sem compreender por que não se decidiu avançar neste sentido no ensino secundário e nas universidades, o epidemiologista nota que não são só as escolas que estão em causa, porque a população acima dos 12 anos move-se nos transportes públicos e há ainda a questão da socialização, dos encontros, nestes grupos etários mais jovens. Por isso não entende por que razão não se decidiu que os alunos do ensino secundário e das universidades passassem a ter apenas aulas à distância, sempre que possível.

Uma medida que deveria avançar com a maior rapidez possível, uma vez que o impacto não é imediato. “É como um petroleiro que, quando desliga os motores, não pára logo. Mesmo que fechássemos o país todo, só daqui a uma semana e meia é que veríamos o efeito”, ilustra.

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