Plano de vacinação contra covid-19 delineado por grupo de trabalho que integra Forças Armadas

“É difícil dizer em que estado estamos apenas com base em press releases [comunicados de imprensa] sobre a fase III [dos ensaios clínicos das vacinas. Temos de aguardar”, explica membro da comissão de especialistas que vai emitir parecer sobre grupos prioritários a imunizar.

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Reuters/MODERNA INC

O plano de vacinação contra a covid-19 em Portugal vai ser delineado por um grupo de trabalho interdisciplinar encarregado das questões logísticas e por uma comissão de especialistas que emitirá pareceres técnicos. As Forças Armadas e a Protecção Civil estão envolvidas nesta operação e a TAP já se disponibilizou para apoiar no transporte das vacinas, mas ainda pouco se sabe, em concreto, sobre a estratégia deste processo de imunização em larga escala, apesar de a ministra da Saúde ter garantido na semana passada que Portugal está pronto para o iniciar mal as vacinas forem aprovadas. O primeiro-ministro assegurou, entretanto, que Portugal está já preparado para comprar 16 milhões de doses de três vacinas diferentes.

Assegurando que o plano de vacinação português está a ser preparado “há meses”, Graça Freitas especificou esta segunda-feira, na habitual conferência de imprensa para balanço da situação epidemiológica, que, “de acordo com as características da vacina, haverá um ponto de chegada e pontos de distribuição secundários, ou seja, como para todas as outras vacinas e de acordo com um plano pré-estabelecido, as vacinas são enviadas para as farmácias de locais descentralizados” do continente e regiões autónomas. Mas Graça Freitas não queria referir-se às farmácias de rua, abertas ao público, mas sim aos serviços farmacêuticos das administrações regionais de saúde que fornecem os centros de saúde.

As questões logísticas ainda vão, porém, ser analisadas por este grupo de trabalho interdisciplinar que acaba de ser criado. Coordenada pelo ex-secretário de Estado da Saúde Francisco Ramos, esta “task force” integra no seu núcleo duro representantes da Direcção-Geral da Saúde (DGS), da Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed), além das Forças Armadas e da Protecção Civil, e tratará das complexas questões logísticas que uma operação como a vacinação em massa de parte significativa da população vai implicar. Caberá a este grupo determinar “quem se vai vacinar, onde se vai vacinar, onde serão armazenadas as vacinas, como evitar rupturas de stocks, como será feita a farmacovigilância [para monitorizar eventuais efeitos adversos], a definição da estratégia de comunicação”, sintetiza uma fonte ligada ao processo.

Numa fase já mais avançada mas ainda a aguardar informações que vão ser determinantes para poder emitir pareceres, a Comissão Técnica de Vacinação contra covid-19 - que foi nomeada por despacho da directora-geral no início deste mês mas já mantinha contactos desde o início de Setembro -  tem marcada para esta quarta-feira a sua segunda reunião oficial. Cabe a este grupo dar pareceres técnicos sobre as estratégias de vacinação, sobre as vacinas, recomendar prioridades, aconselhar sobre medidas de excepção, entre outras coisas.

Com onze especialistas, nomeadamente médicos, virologistas e farmacêuticos, o grupo aguarda ainda informações dos fabricantes das vacinas, nomeadamente sobre os resultados da fase III dos ensaios clínicos, para poder pronunciar-se. “É difícil dizer em que estado estamos apenas com base em press releases [comunicados de imprensa] sobre a fase III. Temos de aguardar”, explicou ao PÚBLICO Manuel Carmo Gomes, epidemiologista que integra esta comissão. “Há informações que aguardamos por parte dos fabricantes (directamente ou via reguladores) que ainda não temos. A natureza dessa informação, nomeadamente aquela que diz respeito aos resultados da fase III dos ensaios, poderá ser mais ou menos complexa e isso irá condicionar a nossa tarefa”, acrescentou.

Também Hélder Mota Filipe, professor na Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, defendeu, em declarações à Sic Notícias, que se deve olhar para os resultados apresentados com “uma confiança prudente”, porque têm sido adiantados através de comunicados de imprensa e não pela publicação de artigos em revistas científicas para poderem ser verificados por entidades independentes.

Quem será vacinado em primeiro lugar?

Sobre a avaliação dos grupos de risco a vacinar primeiro, a directora-geral da Saúde lembrou, na conferência de imprensa desta segunda-feira, que essa questão está pendente da aprovação da Agência Europeia do Medicamento. Há “vários graus de incerteza”, nomeadamente sobre a quem se destinam as vacinas, qual a eficácia e quantas doses vão ser necessárias, notou.

Na semana passada, a ministra da Saúde afirmou que pessoas “acima de uma certa idade”, com “comorbilidades associadas”, profissionais de saúde e de serviços essenciais (protecção civil e forças de segurança) e, “eventualmente, também profissionais de serviços sociais”, poderão estar incluídas na população-alvo para as primeiras vacinas. No entanto, “a definição concreta” do que “está dentro destas categorias” e a “priorização dentro destas categorias tem de ser agora” mais “especificada e é nisso que os técnicos estão a trabalhar”. 

Adiantando que o plano de vacinação será apresentado no início de Dezembro, Marta Temido explicou que o objectivo é planear, ainda que com “incerteza”, como serão administradas as diferentes vacinas que fazem parte dos acordos da Comissão Europeia e dos fabricantes, dado que implicam diferentes condições de armazenamento (diferentes temperaturas, por exemplo) e de administração (uma ou várias doses). Ainda não se sabe qual das vacinas chegará a Portugal em Janeiro, daí que este planeamento esteja a ser feito “por cenários”. 

Notícia corrigida às 15h35 de 26 de Novembro : Quando disse que as vacinas contra covid-19 serão enviadas para “as farmácias de locais descentralizados”, a directora-geral da Saúde não queria referir-se às farmácias de rua, mas sim aos serviços farmacêuticos das administrações regionais de saúde.

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