Madeira ganha gémea digital no “metaverso” para salvar a natureza

A Madalia é uma cópia digital do arquipélago da Madeira a que se vai poder aceder através do metaverso, um mundo virtual partilhado onde as compras são feitas com criptomoedas e registadas em blockchains. Até agora, o projecto representa um investimento de meio milhão de euros.

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Madalia, a gémea digital da Madeira que promete ajudar a natureza da ilha Karla Pequenino, Carolina Pescada

O governo regional da Madeira está a colaborar na criação de uma versão digital do arquipélago – a Madalia. Por lá, as compras são feitas com criptomoedas, é possível construir em áreas protegidas, pode-se explorar um mundo ficcional (como um videojogo) e há simulações regulares para prevenir desastres naturais no mundo real. Uma pequena parte dos dos fundos (10%) reverte a favor de iniciativas ligadas à preservação da natureza no arquipélago.

A informação foi partilhada esta quarta-feira durante a Immerse Global Summit Europe 2022, uma feira internacional dedicada a tecnologias imersivas a decorrer esta semana no Funchal. A infra-estrutura da Madalia, que estará disponível no final de Outubro, é da responsabilidade do Dimmersions, um estúdio português de soluções em realidade aumentada e virtual.

De acordo com o presidente do Governo Regional da Madeira, Miguel Albuquerque, a Madalia vai ajudar a trazer atenção para os trabalhos de investigação e preservação da natureza que são feitos no arquipélago.

"Nós temos neste momento a maior área protegida do Atlântico Norte​, que é a Reserva Natural das Ilhas Selvagens. São cerca de 2667 quilómetros quadrados. Uma das formas de nós promovermos o trabalho científico desta área é através da realidade virtual e através da Madalia”, explica ao PÚBLICO Miguel Albuquerque durante uma conferência de imprensa depois da apresentação do projecto. E realçou: “A Madeira tem boas bases para apoiar a inovação”, notou. “Temos boas infra-estruturas, temos 5G e temos um bom ambiente tecnológico.”

Imagens da Madalia, a fazer lembrar um videojogo Dimmersions
Imagens da Madalia, a fazer lembrar um videojogo Dimmersions
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Imagens da Madalia, a fazer lembrar um videojogo Dimmersions

Agarrar o “metaverso"

A região quer ser uma pioneira no metaverso, um mundo virtual imersivo e partilhado em que as actividades ocorrerem através de equipamento de realidade aumentada e virtual. Parte do projecto destina-se claramente a atrair fãs do mundo dos videojogos que ao entrar na Madalia podem viajar até uma versão do arquipélago no passado. Mais precisamente, há 18 mil anos, quando não havia qualquer impacto humano na região.

"Não queremos que isto seja só uma moda”, frisou, no entanto, Candy Flores de Freitas, presidente executiva da Dimmersions, a empresa por detrás do projecto. Até agora, o projecto representa um investimento de meio milhão de euros. “A Madalia foi criada em parceria com o governo da Madeira porque é importante que existam regras e controlos nos mundos virtuais. Não queremos que isto seja o velho Oeste digital.”

O projecto assenta fortemente em tecnologia de realidade aumentada que é uma camada de informação digital que se sobrepõe ao mundo real. Esta camada pode ser acedida através do ecrã do telemóvel ou de óculos especiais. Se alguém comprar um hotel na Madalia num terreno que, no mundo real, faz parte de uma área protegida, o hotel só fica visível através de óculos de realidade aumentada.

"Mas vai existir um impacto no mundo real”, garante a presidente da Dimmersions. “Se construirmos um hotel na Madalia, numa área protegida, prometemos construir um hotel para insectos no mundo real”, explica. “Isto é algo que pode ter um impacto. Queremos comprar virtualmente, mas preservar e proteger localmente.”

O mundo virtual da Madalia é compatível com várias blockchains que são bases de dados distribuídas (todos os utilizadores têm acesso) que nasceram com a bitcoin (a primeira criptomoeda) para registar transacções com divisas digitais. As primeiras vendas na Madalia serão feitas em parceria com Exclusible, uma conhecida plataforma NFT (activos registados na blockchain) dedicada às marcas de luxo.

A rentabilidade do projecto dependerá destas aquisições que podem ser feitas através de moedas fiduciárias (como o euro ou o dólar) ou criptomoedas. Para além da parte das receitas para apoiar a conservação da natureza, o governo da Madeira poderá utilizar a tecnologia para fazer simulações virtuais de incêndios ou deslizamentos de terras.

A Madeira não é a primeira região geográfica a tentar entrar no chamado metaverso. Em Novembro de 2021, o governo da Coreia do Sul lançou um plano a cinco anos para criar uma versão digital da capital Seul. No começo de 2022, Singapura também anunciou projectos para criar um gémeo digital do país.

O interesse no metaverso explodiu em Outubro de 2021 quando a gigante tecnológica de Mark Zuckerberg (dona do Facebook e do Instagram) mudou de nome para Meta. O nome foi escolhido para destacar o foco da empresa na criação de realidades virtuais e imersivas; desde então muitas empresas passaram a incluir a expressão “metaverso” na apresentação dos seus projectos.


O PÚBLICO viajou a convite da Dimmersions

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