Twitter volta às origens com opção de publicações por ordem cronológica

A rede social está a disponibilizar um botão para os utilizadores desactivarem o algoritmo que escolhe os conteúdos apresentados.

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Desde 2016 que a rede social mostra uma selecção de publicações feita por algoritmos Reuters/Kacper Pempel

O Twitter quer trazer de volta o seu modelo de organização original em que as publicações de outros utilizadores apareciam por ordem cronológica inversa, em vez de ordenados por um algoritmo que determina quais as publicações mais relevantes para cada pessoa.

Durante as próximas semanas, os utilizadores vão começar a ver um pequeno botão na rede social que permite alternar entre o modelo actual e um cronológico. Até lá, os utilizadores interessados em experimentar a versão clássica do Twitter podem desactivar, nas definições, a opção de mostrar "os melhores tweets" primeiro, uma selecção que é feita por um algoritmo.

A novidade foi anunciada pelo presidente executivo do Twitter, Jack Dorsey. “Se desligarem o sistema de classificação de publicações vão ver todas as publicações das pessoas que seguem por ordem”, explicou Dorsey. 

Foi em 2016 que a rede social deixou de mostrar as publicações mais recentes, primeiro na tentativa de mostrar conteúdo mais relevante ao utilizador, seja de contas muito populares (com milhares de seguidores, likes e respostas) ou de outras contas com quem os utilizadores interagiam muito. O objectivo era aumentar o diálogo. Agora, numa altura em que os algoritmos das redes sociais são acusados de dificultar a difusão de pontos de vista distintos e facilitar a manipulação eleitoral, a rede social volta atrás.

“O plano era equilibrar as publicações mais recentes, com as publicações que mais devem interessar às pessoas, mas nem sempre acertamos no equilíbrio”, justificou a equipa do Twitter num comunicado sobre a actualização. “Por isso estamos a desenvolver uma forma fácil de alternar entre uma apresentação de tweets  relevantes e uma apresentação por ordem cronológica.”

O Facebook foi a primeira rede social a introduzir um algoritmo para organizar a relevância das publicações, em 2009. Desde então, o sistema foi adoptado por outras plataformas, incluindo o Twitter e o Instagram (que é detido pelo Facebook).

Porém, vários investigadores alertaram, ao longo dos anos, que o sistema facilita o “modelo de bolha”. Trata-se da teoria de que as pessoas tendem a privilegiar conteúdos que estão em linha com as suas convicções políticas. Segundo um estudo de 2015 publicado na revista científica Science, de todo o conteúdo visualizado no Facebook por utilizadores identificados como sendo de esquerda, apenas 22% oferecem pontos de vista contrários. Nos últimos anos, situação piorou.

Já num estudo publicado este ano por vários investigadores europeus na revista Association for Computing Machinery, os autores demonstram que a filtragem por algoritmos limita o conteúdo que as pessoas consomem. Com base em 19 milhões de publicações de 6391 utilizadores entre 2011 e 2016, a equipa demonstrou que a rede social dividia, automaticamente, a informação que os utilizadores recebiam sobre temas controversos (como o aborto e o direito de porte de armas) de acordo com as suas preferências ideológicas: 90% dos conteúdos iam ao encontro daquilo em que os utilizadores acreditavam. “Isto demonstra que duas pessoas com ideologias distintas (liberal e conservador) podem estar a ler sobre um mesmo tópico (por exemplo, um debate presidencial), mas recebem pontos de vista distintos do acontecimento consoante as fontes de informação que seguem”, escrevem os autores.

A situação é aproveitada para espalhar a discórdia nas redes sociais para ganhos financeiros ou políticos. Há muitos bots  (sistemas automáticos que simulam comportamentos humanos nas redes sociais) a falar de política e a espalhar notícias falsas nas redes sociais. Em 2017, uma equipa da Universidade de Oxford, que se dedica a investigar o impacto da propaganda computacional na vida pública, notou que de uma amostra de 17 milhões de publicações analisadas no Facebook e no Twitter, 10% eram de máquinas.

A mudança do Twitter chega a cerca de dois meses das eleições intercalares nos EUA.

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