Universidade de Colúmbia cancela cerimónia de formatura devido aos protestos pró-Palestina

Os alunos vão ser “homenageados individualmente” e longe do campus. Em todo o país continuam as manifestações pelo fim da guerra que, até agora, resultaram na detenção de 2500 pessoas.

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A Universidade de Colúmbia anunciou na segunda-feira, dia 6 de Maio, que a cerimónia principal de formatura foi cancelada depois de semanas de manifestações pró-Palestina no campus da instituição da Ivy League.

Segundo a revista Forbes, o evento que celebra o final das licenciaturas será substituído por cerimónias mais pequenas onde os alunos serão “homenageados individualmente ao lado dos colegas”, escreveram, citando um comunicado da universidade. Vão acontecer num complexo desportivo a cerca de 8 quilómetros de distância do campus da universidade.

"A realização de uma grande cerimónia de formatura no nosso campus suscitou preocupações de segurança que, infelizmente, se revelaram insuperáveis", afirmou o porta-voz da universidade, Ben Chang.

"Tal como os nossos alunos, estamos profundamente desiludidos com este desfecho", acrescentou. A cerimónia estava marcada para o dia 15 de Maio, detalha o comunicado.

De acordo com o porta-voz, a universidade procurou um local alternativo, mas não conseguiu encontrar um espaço com capacidade para acomodar os estudantes, as famílias e os convidados que, normalmente, superam as 50 mil pessoas.

Os protestos em Colúmbia despertaram a atenção nacional e internacional e inspiraram manifestações semelhantes em cerca de 140 instituições de ensino superior dos Estados Unidos, incluindo a Universidade da Califórnia, a do Texas, a Virginia Commonwealth e Harvard. Esta semana na Europa, os estudantes da Universidade Sciences Po, em Paris, e da Faculdade de Filosofia da Universidade de Valência também se juntaram aos protestos. Pelo mundo fora repete-se o mesmo.

Os alunos montaram tendas no exterior das instituições para apelar a um cessar-fogo em Gaza e exigir que as universidades acabem com as parcerias com universidades israelitas e deixem de investir em empresas com ligações a Israel.

Segundo a BBC, que cita a agência Associated Press (AP) cerca de 2500 pessoas foram detidas pela polícia na sequência dos protestos nas universidades norte-americanas.

No caso de Colúmbia, a polícia de choque foi chamada ao local e usou bastões e granadas de atordoamento para retirar os estudantes que ocuparam e hastearam a bandeira da Palestina num dos edifícios principais do campus, o Hamilton Hall, no dia 30 de Abril. Os grupos de defesa dos direitos civis têm denunciado estas tácticas como violações desnecessárias da liberdade de expressão. Ainda assim, a polícia vai continuar no recinto até ao dia 17 de Maio.

Além do cancelamento da formatura, esta universidade acabou com as aulas presenciais, suspendeu os estudantes que participaram nas manifestações e, no dia 1 de Maio, anunciou que os exames finais seriam realizados online.

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Os estudantes ocuparam o Hamilton Hall e mudaram-lhe o nome para Hind's Hall REUTERS/CAITLIN OCHS

Na segunda-feira, a Universidade de Harvard pediu aos alunos que desmontassem as tendas e terminassem os protestos, sob pena de serem suspensos.

"O que há de ameaçador em querer paz?"

Nesse mesmo dia, o rapper norte-americano Macklemore lançou uma nova música intitulada Hind’s Hall que resume muitas das opiniões dos manifestantes. O nome é uma referência à ocupação do Hamilton Hall que os estudantes de Colúmbia renomearam de Hind’s Hall em homenagem a Hind Rajab, que descrevem como “mártir palestiniana assassinada pelo Estado genocida de Israel aos seis anos”.

As pessoas não se vão embora. O que há de ameaçador em desinvestir e querer a paz?”, canta o rapper. “Bloqueiem a barricada até a Palestina ser livre”, continua a letra. O vídeo inclui imagens de protestos em todo o país.

Enquanto as universidades procuram a melhor forma de acabar com os protestos dentro dos campi, organizam-se outras manifestações fora dos recintos. Na segunda-feira, a escassos metros de Colúmbia, cerca de 200 manifestantes pró-Israel reuniram-se para recordar o fim do Holocausto e denunciar o que consideram ser anti-semitismo e assédio antijudaico por parte dos manifestantes das universidades.

"Podemos compreender que existe maldade no mundo e que algumas pessoas podem fazer coisas horríveis e terríveis. Mas como é que podemos compreender a reacção de demasiadas pessoas, incluindo as chamadas elites, as universidades da Ivy League?", questionou Elan Carr, director executivo do Conselho Americano Israelita, durante a manifestação.

Do outro lado da cidade, os manifestantes pró-Palestina marcharam até ao recinto do Met Gala, um desfile anual do Museu Metropolitano de Arte de Nova Iorque que conta com a presença de várias figuras públicas. A polícia disse ter efectuado várias detenções, mas não houve relatos de feridos.

Os protestos surgem como um ponto de tensão política no ano em que se realizam as eleições presidenciais nos EUA que colocam frente-a-frente o presidente democrata Joe Biden e o ex-presidente republicano Donald Trump.

Durante uma visita ao campus de Colúmbia, em Abril, o porta-voz republicano da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Mike Johnson, apontou o dedo aos dirigentes da universidade, acusando-os de terem sido demasiado brandos com os manifestantes. Na segunda-feira, voltou a criticá-los, afirmando que a decisão de cancelar a cerimónia de entrega de diplomas negou a milhares de licenciados o reconhecimento que mereciam.

Johnson também pediu ao conselho de administração da escola que destituísse a reitora Minouche Shafik, uma vez que, defendeu, o cancelamento mostrou que a dirigente preferia "ceder o controlo aos apoiantes do Hamas do que restaurar a ordem".

Os manifestantes do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, em Cambridge, perto de Boston, desocuparam grande parte de um acampamento pró-palestiniano depois de os administradores terem afirmado que seriam imediatamente suspensos se não saíssem.

"Tendo em conta os acontecimentos dos últimos dias, tenho de tomar medidas para pôr termo a uma situação que perturbou o nosso campus durante mais de duas semanas", declarou a presidente Sally Kornbluth, num comunicado que anunciava a ordem de desocupação.

No entanto, horas mais tarde, centenas de manifestantes voltaram ao recinto, derrubaram as barricadas da polícia que cercavam o acampamento e formaram um cordão com os braços.

O anúncio do cancelamento da formatura em Colúmbia aconteceu no mesmo dia em que Hamas e Israel negociaram uma proposta de cessar-fogo na Faixa de Gaza apresentada pelos mediadores, entre eles os EUA.

O Hamas concordou com a proposta, mas o Governo de Israel alegou que as condições não satisfaziam as suas exigências e continuou com os ataques em Rafah. As negociações continuam.

O reacender da guerra entre Israel e Palestina, que dura há sete meses, matou mais de 34.600 palestinianos em Gaza, segundo as autoridades sanitárias deste território. As autoridades israelitas estimam que 133 pessoas continuem em cativeiro em Gaza desde o ataque de 7 de Outubro.

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