Rajoy vai remodelar governo e mudar a sua estratégia de comunicação

A cinco meses das eleições legislativas, o executivo do PP não vai mudar de política económica mas tentar aproximar-se das pessoas para recuperar os votos perdidos dos “eleitores desencantados”

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Rajoy e o PP têm um grave problema de imagem Juan Medina/Reuters

A Espanha esteve esta quarta-feira suspensa da comunicação de uma remodelação ministerial. O presidente do governo, Mariano Rajoy, teve despacho com o rei Filipe VI a quem comunicou a remodelação que decidiu tendo em vista as próximas eleições legislativas. Ao fim da tarde, o El País informava que ela seria tornada pública “dentro de horas”. Fontes do governo e do PP declararam aos media que Rajoy não tenciona mudar a sua política económica, antes a sua estratégia de comunicação.

A remodelação, que envolveria poucos nomes, seria acompanhada por uma reorganização da cúpula do Partido Popular (PP), tendo em vista aproximá-lo dos cidadãos, “das necessidades sociais” e das “preocupações reais das pessoas”, resume o jornal. Toda a imprensa previa a emergência de Alfonso Alonso, ministro da Saúde, como a figura de perfil dialogante que terá um papel central esta nova etapa. 

O objectivo é “recuperar o voto perdido dos eleitores mais desencantados”, resumia o mesmo jornal. A cinco meses das eleições legislativas, previstas para Novembro, tem pouco tempo para lançar iniciativas. Antes das eleições autonómicas, os seus estrategos eleitorais apostavam que uma campanha baseada na visibilidade da recuperação económica e no medo do radicalismo do Podemos neutralizaria o recuo previsto nas sondagens. Era a linha do seu “guru” político, Pedro Arriola.

Novo tempo político
Ao contrário, o PP sofreu uma “hecatombe” e, apesar de ter sido o partido mais votado, perdeu metade do seu poder autonómico, facto agravado por ter ficado em desvantagem na negociação dos executivos tripartidários ou quadripartidários nas regiões e municípios. Note-se que, perdendo também muitos eleitores, o PSOE conseguiu aumentar o número de cargos, graças ao novo quadro partidário.

O PP tem um grave problema de imagem. Para evitar o risco de nova catástrofe em Novembro, não lhe basta mudar pessoas mas adoptar “medidas de renovação e um maior conteúdo político para combater o descontentamento provocado pela corrupção e pela desigualdade”, escreve uma agência de comunicação política. 

Tanto o PP como o PSOE demoraram a perceber que a Espanha vivia um tempo político novo. Comenta o jornalista Javier Ayuso no El País: “O problema para os populares é que os resultados de 24 de Maio abriram uma válvula de pressão contida durante anos [no equilíbrio] entre as várias correntes (o poder dá sempre estabilidade interna) e geraram uma crise. (...) Quando um partido perde, os seus quadros e dirigentes ficam nervosos.” 

Esperanza Aguirre, líder do PP de Madrid e “inimiga de estimação” de Rajoy, não perdeu tempo a tentar desestabilizá-lo. É uma manobra sem grande futuro depois de derrotada nas eleições e com colaboradores envolvidos em casos de corrupção. O que mais pesa é outra coisa: 50% dos eleitores do PP desejam que o partido apresente outro candidato nas legislativas. No conjunto do eleitorado são 70% a pedir outra liderança.

Lembra o sociólogo José Juan Toharia, presidente do instituto Metroscopia: “Sabemos pelas sondagens que desde 2011 os espanhóis reclamam, acima de tudo, novas maneiras na nossa vida política, que desejariam ver de novo regida pela via da negociação, do pacto e do respeito mútuo.” Toharia não espera que os “partidos emergentes” venham substituir os “dois grandes” ou sequer situarem-se ao mesmo nível. “Mas, há apenas cinco meses, a ideia de um possível quadripartidarismo parecia inverosímil.”

Ruptura na Catalunha
A federação Convergência e União (CiU), que dominou a vida política catalã desde há 37 anos, entrou em ruptura, depois dos militantes democratas-cristãos da União terem aprovado em referendo, por estreita margem, a linha política do seu líder, Duran Lleida, que recusa o plano independentista de Artur Mas, chefe do governo de Barcelona e líder da Convergência. Este plano foi negociado por Mas com a Esquerda Republicana Catalã. É mais um factor de perturbação no processo independentista.

Em causa estão as eleições regionais de 27 de Setembro que Mas transformou num “pré-referendo” sobre a independência. A direcção da União rejeitara na segunda-feira um “ultimato” da Convergência, exigindo que participasse na campanha independentista, que deveria arrancar no próximo sábado. Duran Lleida opõe-se a qualquer plano de independência fora da legalidade. Esta decisão pode levar a uma ruptura do seu partido.
Os três conselheiros (ministros) da União abandonarão os seus cargos. Mas a União assegurará a estabilidade do governo até 27 de Setembro, mantendo os grupos parlamentares da CiU nos parlamentos de Barcelona e Madrid. 

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