Um sentimento muito feio

“Despeito e frustração por querer e não ter os bens, as vantagens ou os sucessos alheios”, assim se define “inveja”, que o Boss AC lembra, cantando, ser “um sentimento muito feio”.

Cavaco Silva, sentiu-a durante a semana e disse-o: “Nós invejamos a taxa de crescimento económico que recentemente a Irlanda tem vindo a alcançar. Quando ouvimos falar em 5 ou 6 por cento de crescimento económico, não há país na União Europeia que não tenha inveja da Irlanda.” Falava na conferência de imprensa conjunta com Michael Higgins, Presidente da República da Irlanda, no Palácio de Belém, na quarta-feira.

Certamente, não estaria a “morder-se” ou a “roer-se de inveja”, isto é, “furioso e desesperado por não suportar o sucesso de alguém”, mas talvez padecesse do “desejo de posse de algo considerado bom ou vantajoso” ou gostasse “de usufruir de uma situação semelhante à de outrem”.

“Inveja” e “cobiça” são sinónimos, mas também se pode entender por “admiração”. Queremos acreditar que era este último o sentimento que o Presidente português desejava transmitir ao chefe de Estado que o visitava. Preferíamos antes que tivesse “invejado” o desafio proposto por Higgins, o de “desacelerar as injustiças sociais”, e não se concentrasse apenas no PIB.

Canta o Boss AC: “A inveja é um sentimento muito feio/ Mete na cabeça que não ’tou aqui a competir num torneio/ Não é andar aos empurrões para ver quem chega primeiro.” Vale para a política e para o hip hop.

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