Agrupamento de escolas diz que foi o Verão quente e seco que destruiu o “pequeno jardim” de Guilherme

Depois da publicação da reportagem que dava conta da destruição de um projecto de conservação de um espaço verde dentro de uma escola em Lisboa, muitos leitores escreveram ao PÚBLICO e ao Azul enaltecendo a importância de projectos como este na comunidade escolar. A direcção do agrupamento de Escolas das Laranjeiras, a que pertence a Escola Secundária D. Pedro V, divulgou esta terça-feira um comunicado refutando qualquer responsabilidade.

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Imagens antes e depois do espaço verde da Escola Secundária D. Pedro V, em Lisboa, que um aluno recuperou ao longo de dois anos DR

“Um exemplo de amor à natureza, estudo, dedicação, persistência”, “Precisamos de muitos mais projectos destes”, foram alguns das dezenas de comentários de leitores que a reportagem publicada este sábado no PÚBLICO suscitou. Muitos questionaram também a responsabilidade da escola no que terá acontecido ao espaço que o aluno Guilherme Ramos passou os últimos dois anos a recuperar.

A direcção do agrupamento de Escolas das Laranjeiras, a que pertence a Escola Secundária D. Pedro V, publicou esta terça-feira um comunicado no seu site refutando qualquer responsabilidade e atribuindo o desaparecimento do que havia naquele espaço verde ao tempo quente e seco. “O Verão, como todos sabem, foi este ano particularmente quente e seco, pelo que as plantas não resistiram a esta delicada situação e secaram”, escreve a direcção do agrupamento.

“Essa situação foi agravada pela queda abundante de agulhas de pinheiro que formou uma capa espessa de caruma no solo, contribuindo ainda mais para a ocorrência de acidez e secura do solo e das espécies plantadas”, lê-se no comunicado.

Uma justificação que Guilherme Ramos contesta: “Em Agosto havia muitos pinhais com plantas, não é por aí. Não faz sentido. Já havia plantas de porte arbustivo perene, que ficam dormentes, mas não secas”, explica.

Poderia o que havia ali ter simplesmente secado durante o mês de Agosto? “Não faz sentido o espaço estar naquele estado porque secou. Onde estão as plantas secas?”, questiona Guilherme. “Pelas fotografias percebe-se que houve intervenção humana”, acrescentaria David Avelar, biólogo e investigador em adaptação e alterações climáticas na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL), ouvido para a reportagem.

A direcção do agrupamento afirma ainda que a “a escola e a sua direcção nunca obstaculizaram, antes consentiu e facilitou a iniciativa”. “O aluno em causa sempre foi apoiado pela escola no seu desiderato de fazer um pequeno jardim com várias espécies de plantas, ao qual juntou a introdução de alguns pequenos insectos na escola, numa experiência de biodiversidade.”

Porém, em nenhum momento, os responsáveis da escola referem ter tomado qualquer tipo de medida para manter vivo o espaço verde criado por Guilherme Ramos. O aluno reitera o que afirmou na reportagem: ainda que a direcção nunca tivesse impedido a sua actividade naquele espaço, nunca disponibilizou a ajuda necessária. “Se era para isto tudo preferia que me tivessem dito logo que não”, diz.

Imagem do espaço recuperado por Guilherme Ramos, em conjunto com colegas e professores, após o primeiro ano de intervenção. DR
Fotografia tirada no início do mês de Setembro, após o regresso do aluno à escola DR
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Imagem do espaço recuperado por Guilherme Ramos, em conjunto com colegas e professores, após o primeiro ano de intervenção. DR

Pedidos de entrevista do PÚBLICO sem resposta

Antes da publicação da reportagem, o PÚBLICO tentou contactar várias vezes a direcção da escola. Nunca obteve qualquer resposta, nem via email, nem por via telefónica. Só agora, após a publicação do trabalho, o agrupamento decidiu divulgar a sua versão sobre este caso.

Esta terça-feira, após a divulgação do comunicado por parte do Agrupamento de Escolas das Laranjeiras, o PÚBLICO tentou novamente entrar em contacto com a direcção da escola. O director, Amílcar Albuquerque dos Santos, respondeu reiterando que “não houve nenhuma destruição intencional” do projecto do aluno.

Antes da publicação da reportagem, o PÚBLICO procurou também saber junto da Câmara Municipal de Lisboa (CML) qual era a entidade responsável pela manutenção e limpeza dos espaços verdes da escola em questão. Não obtivemos resposta, mas a directora municipal do Ambiente, Catarina Freitas, contactou entretanto o pai do aluno por e-mail, esclarecendo que nem a CML nem a Junta de Freguesia, neste caso das Avenidas Novas, são responsáveis pelos espaços verdes da Escola Secundária D. Pedro V.

A directora municipal do Ambiente deixou ainda em aberto a possibilidade de encontrar um outro espaço em Lisboa, fora da escola, onde o aluno possa replicar o seu projecto. Guilherme Ramos tem recebido pedidos para participar em projectos de sensibilização ecológica e até uma oferta de cedência de plantas e sementes de uma horta escolar de Lisboa. “Seria muito importante dar visibilidade a estas iniciativas, até para sensibilizar a comunidade e as autoridades para a sua importância”, escreve a coordenadora da horta.

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