Estas novas maçãs são à prova de tempestades e ondas de calor

Não se sabe quando é que os consumidores encontrarão as novas variedades de maçãs resistentes a fenómenos extremos, mas os investigadores dizem que podem garantir a sua produção em Setembro de 2026.

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Douglas Price, 49 anos, que faz parte da equipa do Walsh Lab, quer cultivar árvores naturalmente anãs que não necessitem de poda, reduzindo assim os custos de mão de obra Maria Luz Bravo/ The Washington Post
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Nem tudo está bem para a segunda fruta mais popular dos Estados Unidos (as bananas são as primeiras). Prevê-se que a produção mundial de maçãs diminua quase 5% este ano. A produção dos EUA também tem registado uma tendência decrescente, com a última época de colheita a produzir os níveis mais baixos desde 2013.

Trata-se, em grande parte, de uma questão meteorológica, com as ondas de calor a danificarem as colheitas de maçãs desde o estado de Washington até à China nos últimos anos, enquanto as tempestades diminuíram também as colheitas na Nova Zelândia. Mas não se trata apenas de um problema causado pelo mau tempo: a escassez de mão-de-obra, o aumento dos custos dos combustíveis e das máquinas e uma doença bacteriana destrutiva (Erwinia amylovora também denominada praga-do-fogo) estão a afectar a produção.

Duas novas espécies de maçãs, uma vermelha e outra amarela, desenvolvidas na Universidade de Maryland pelo investigador Chris Walsh, podem resolver alguns destes problemas. Para já, chamam-se MD-TAP1 (a amarela) e MD-TAP2 (a vermelha), muito longe das melífluas Golden Delicious ou Pink Lady.

Isso mudará quando um viveiro comercial as licenciar e lhes der um nome mais doce e mais rápido e começar a vender as árvores directamente aos produtores. Não se sabe exactamente quando é que os consumidores encontrarão estas novas variedades nas mercearias locais, mas Walsh diz que o pomar dos investigadores as produzirá para serem colhidas nos mercados locais dos agricultores de Maryland em Setembro de 2026.

Walsh tinha um objectivo ambicioso: desenvolver maçãs tolerantes ao calor, mas também resistentes ao fogo bacteriano, e em árvores suficientemente pequenas para serem facilmente podadas ou colhidas do solo.

Tudo começou com um simples cruzamento, disse ele, sobre as maçãs que está a cultivar num pomar no Centro de Investigação e Educação de Western Maryland, em Keedysville, Maryland.

Amadurecer com calor sem ficar em papa

"Estávamos à procura de uma variedade que amadurecesse em tempo quente e não se transformasse em papa. Muitas variedades são verdes num dia e caem no chão no dia seguinte. A Jonagold, uma variedade maravilhosa do norte, quando a cultivamos aqui em baixo bum está no chão", explica Chris Walsh. Segundo acrescenta, a semente-mãe da maçã amarela é a GoldRush, e a Fuji é a semente-mãe da maçã vermelha.

O seu primeiro cruzamento foi de uma McIntosh anã com uma Gala. Esse cruzamento deu origem às árvores-mãe em 1991, a que chamaram Compact Gala Macs. Estas, por sua vez, foram utilizadas como progenitoras com a GoldRush e a Fuji para criar árvores de segunda geração e estas novas maçãs.

As duas variedades de maçã que estão a ser cultivadas no Centro de Investigação e Educação do Oeste de Maryland da Universidade de Maryland foram designadas e patenteadas como MD-TAP1 e MD-TAP2 Maria Luz Bravo / The Washington Post
A primeira geração de maçãs cultivadas no pomar foi um cruzamento entre maçãs Gala (variedade de clima quente) e maçãs McIntosh (variedade de clima frio) Maria Luz Bravo / The Washington Post
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As duas variedades de maçã que estão a ser cultivadas no Centro de Investigação e Educação do Oeste de Maryland da Universidade de Maryland foram designadas e patenteadas como MD-TAP1 e MD-TAP2 Maria Luz Bravo / The Washington Post

A MD-TAP1 é grande e tem um aspecto e um sabor suaves, como a Golden Delicious, com frutos que amadurecem no final de Setembro. A MD-TAP2 é doce, com baixa acidez, como a Fuji, e amadurece mais tarde, em Outubro.

O investigador espera que essas duas novas maçãs patenteadas prosperem num mundo mais quente e seco, invadindo o domínio das Gala (18% da produção total dos EUA), Red Delicious (14%) e Fuji (10%).

Chris Walsh, que está no negócio da maçã há cinco décadas, iniciou o Programa de Arquitectura de Árvores na universidade para criar novas variedades de maçã com o intuito de resolver problemas locais emergentes, mas rapidamente se apercebeu de que estava a desenvolver soluções para problemas a nível nacional e mesmo global.

Menos trabalho

A fruta sempre exigiu muita mão-de-obra para ser colocada no mercado, com árvores que precisam de ser tratadas, podadas e cujos frutos possam ser colhidas à mão. Com a escassez de mão-de-obra em todos os sectores da agricultura, a cultura da maçã tem sido uma das mais afectadas, com um aumento acentuado dos custos laborais.

De acordo com a USApple, a associação sem fins lucrativos da indústria da maçã, também está a tornar-se mais difícil encontrar mão-de-obra: de 2016 a 2021, o emprego médio anual na produção agrícola caiu 3% em geral, mas, nos pomares de maçã, o declínio foi de 22%.

De acordo com Chris Walsh, estas duas novas espécies crescem em árvores muito mais curtas, o que torna mais fácil a colheita, e exigem muito menos poda e outros trabalhos manuais do que outras maçãs. "Não fazem cruzamento de ramos, pelo que é necessário muito menos trabalho", afirmou Walsh. "Detesto podar, e todos os produtores com quem lido dizem que a sua equipa não consegue percorrer todo o pomar para podar no tempo que é suposto."

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Chris Walsh iniciou o Programa de Arquitetura de Árvores no Centro de Investigação e Educação do Oeste de Maryland da Universidade de Maryland para criar variedades de maçãs que pudessem prosperar com as alterações climáticas Maria Luz Bravo / The Washington Post

Nas últimas décadas, segundo Walsh, muitos produtores de maçãs utilizaram a técnica da aramação para que os ramos se aguentassem sob grandes colheitas e condições climatéricas adversas.

"A indústria ficou louca com treliças [estruturas compostas por unidades triangulares] e arame", disse ele. "Estas novas árvores serão auto-sustentáveis."

Os consumidores são inconstantes quanto ao que gostam numa maçã (embora, como sublinha Chris Walsh, "os consumidores procurem crocante, crocante, crocante. Ninguém quer uma maçã farinhenta ou com grumos"). Durante mais de 50 anos, a Red Delicious foi a rainha, mas foi destituída em 2018 pela Gala, mais sumarenta e de pele menos amarga.

Mas agora, os 15 minutos de fama da Gala estão a diminuir, com a Pink Lady e a Honeycrisp a perderem popularidade. É difícil prever se a TAP1 e a TAP2 encontrarão o seu caminho para a ribalta, perturbando mais uma vez o diversificado menu de maçãs. Uma coisa é certa, terão de mudar de nome.

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