Prémios PÚBLICO na Escola: “A democracia requer leitura”

A edição deste ano contou com uma novidade: um prémio para o melhor trabalho sobre Liberdade, “uma palavra com tanta importância e que às vezes dizemos como se fosse um dado adquirido”.

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Rodrigo Sousa e Lara Costa receberam o prémio do Comunica - Jornal Digital, do Agrupamento de Escolas de Freixo, em Ponte de Lima, que inclui também projectos de rádio e podcasts Rui Gaudêncio
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Onze jornais escolares - uns mais recentes, outros mais antigos e com dinâmicas e conceitos distintos - foram esta terça-feira premiados pela sua singularidade no âmbito do projecto PÚBLICO na Escola, cujo objectivo é promover a literacia mediática e o conhecimento junto dos mais novos. O Concurso Nacional de Jornais Escolares, que recebeu mais de 100 candidaturas, contou este ano com uma novidade: o Prémio 25 de Abril para o melhor trabalho sobre Liberdade, a propósito dos 50 anos da revolução.

O ministro da Educação realçou a importância da iniciativa, sobretudo numa altura em que a educação enfrenta um contexto "desafiante". Para João Costa, a escola desempenha um papel fundamental na promoção do conhecimento e da democracia, já que permite aos mais novos aprender sobre "as conquistas que Portugal fez ao longo destes 50 anos". "Quando olhamos para a democracia, não estamos a falar de opiniões, mas de dados que precisam de ser conhecidos por todos nós que não temos a memória, felizmente, do que é viver sem ser em liberdade ou em democracia", continuou.

O ministro relembrou que, "quando a memória desaparece e já não é concreta, mais facilmente nos tornamos vulneráveis a discursos" antidemocráticos e à conversa do "antigamente é que era bom".

João Costa voltou a realçar a importância da leitura na vida dos mais jovens, dizendo que a "democracia requer leitura". João Costa, mencionando os resultados do PISA, disse que ao longo dos anos são cada vez mais visíveis as dificuldades dos alunos "de distinguirem factos de opinião quando lêem e de não praticarem a leitura extensiva de um enunciado", o que potencia a "manipulação e o crescimento da desinformação".

Apesar de os jornais desta edição terem "diferentes dinâmicas, mais ou menos meios, [serem] mais aventureiros ou mais conservadores, [terem] estruturas já bem sólidas ou ainda a dar os primeiros passos, todos têm algo em comum: vontade de fazer. E isso não é pouco", afirmou Luísa Gonçalves, coordenadora da iniciativa PÚBLICO na Escola.

Projectos marcados pela curiosidade e a ousadia

O Escrita Irrequieta, do Agrupamento de Escolas de Branca, em Albergaria-a-Velha, foi o grande vencedor na categoria de Melhor Jornal de Agrupamento. As alunas Mariana Alves e Letícia Vilar, do 9.º e 10.º ano, aproveitaram o momento para incentivar os colegas a participar, dizendo que o projecto as ajudou a "desenvolverem-se como jornalistas e como pessoas".

O 2.º prémio na mesma categoria foi entregue ao Comunica - Jornal Digital, do Agrupamento de Escolas de Freixo, em Ponte de Lima, que inclui também projectos de rádio e podcasts. Rodrigo Sousa e Lara Costa, ambos do 6.º ano, reafirmaram a premissa do projecto: é um jornal que "está sempre de portas abertas para quem quer escrever notícias".

Na categoria Melhor Jornal de Escola, Se Bem nos Lembramos, da Escola Secundária Vitorino Nemésio, na Praia da Vitória, na ilha Terceira, foi distinguido com o primeiro prémio pelo segundo ano consecutivo. Ana Beatriz Pereira, actual coordenadora do jornal, afirmou estar "incrédula" com o galardão. A aluna do 10.º ano lembrou os tempos em que o jornal começou a dar os primeiros passos, sempre com "enorme curiosidade e ousadia", há seis anos: "Nada era fácil no início, nem os artigos, nem a equipa, nem a colaboração com os professores, nem perceber como é que este jornal se ia enquadrar na nossa escola."

A última edição da revista Coisas B(r)oas, da Escola Secundária São Pedro, Vila Real, foi essencialmente focada na saúde mental e nos vários problemas associados, valendo-lhe o 2.º prémio na mesma categoria. Segundo Beatriz Eira, do 7.º ano, a revista procurou "dar voz aos alunos e também incentivar outros que estejam a passar por problemas, como o bullying, para não terem receio de contarem os seus problemas e de darem voz à sua situação".

João Pinhal, da Escola Secundária de Sampaio, recebeu o prémio de Melhor Reportagem pelo conjunto de três trabalhos publicados no Jornal CREscendo: “A educação por quem a trata por tu”, “Educação Sexual: Nas grelhas? Há. Nas salas de aula? Nem tanto” e “Reportagem especial 25 de Abril. O Silêncio que Multiplica as Vozes”. O aluno do 12.º ano explica que nas reportagens é possível encontrar um "reflexo do ensino que, infelizmente, continua focado em preparar e formatar alunos para exames, negligenciando outras competências de muito valor para a sociedade". João Pinhal criticou a cultura do exame e as "graves carências na educação sexual", que continuam sem respostas, e pediu propostas aos partidos.

Durante a cerimónia de entrega dos prémios, os alunos presentes no auditório do PÚBLICO assistiram ainda a uma conversa entre o almirante Martins Guerreiro e o estudante João Pinhal a propósito dos 50 anos do 25 de Abril. Questionado sobre se os jovens ainda têm espaço na sociedade para lutarem pelo seu futuro, o almirante respondeu que sim. "São os jovens os agentes da transformação. Vocês têm de fazer hoje o que nós fizemos há 50 anos", disse, apelando à criatividade e capacidade crítica dos mais novos para fazer face aos movimentos antidemocráticos.

O prémio 25 de Abril foi entregue ao trabalho "Liberdade, porque a temos e queremos chamá-la nossa", publicado na segunda edição do jornal Margem Certa, da Escola Secundária de Cacilhas-Tejo, Almada. A autora da ilustração da capa realça a importância da liberdade, uma "palavra com tanta importância, pesada e que às vezes dizemos como se fosse um dado adquirido". A ilustração visa mostrar "o quão bonita a liberdade é, mas ao mesmo tempo o quão frágil é, sendo ela um casulo, algo que se deteriora".

Projecto True: uma iniciativa que "superou" as expectativas

A grande novidade deste ano foi a existência de uma plataforma gratuita que promove e facilita a criação e o desenvolvimento de jornais escolares. A True permite que os alunos possam escrever as suas notícias e reportagens num backoffice semelhante ao que é utilizado pelos jornais, como o PÚBLICO.

Bárbara Simões refere que "a adesão superou de longe" as expectativas, apesar de a plataforma estar em funcionamento apenas há cerca de dois meses. Até ao momento, já foram realizados "mais de 140 acessos", sendo que metade deles são relativos a jornais criados de raiz na True.

​A coordenadora da iniciativa PÚBLICO na Escola destacou ainda a diversidade que caracteriza cada um dos jornais: "Temos jornais de turma, de um professor que faz um jornal para as turmas que tem, temos jornais de agrupamento, jornais em papel com muitos anos de existência que agora decidem aventurar-se no digital, temos jornais que estavam a ser feitos em outras plataformas e que agora mudaram." O PÚBLICO na Escola prosseguirá.

Texto editado por Rita Ferreira

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