A identidade climática digital é o grande vencedor do Prémio IN3+

Entrega do prémio de um milhão de euros promovido pela Imprensa Nacional-Casa da Moeda celebrou a relevância da ligação entre o sector empresarial do Estado e a academia para a inovação e o futuro.

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Nomeados Prémio IN3+ António Saraiva

E se cada pessoa tivesse uma identidade climática digital que a motivasse a mudar o seu comportamento e a contribuir no seu dia-a-dia para um planeta mais sustentável? Esta é a proposta da AYR.ID, a ideia vencedora da 4.ª edição do IN3+. Promovido pela Imprensa Nacional-Casa da Moeda SA (INCM), este é o maior prémio (no valor de um milhão de euros) de apoio à investigação e à inovação em Portugal, com o objectivo de contribuir para que ideias como a AYR.ID, desenvolvida por uma equipa do CEiiA - Centro de Engenharia e Desenvolvimento, se tornem realidade e acrescentem valor à economia e à sociedade.

“Estes prémios falam muito para o futuro, e há aqui um futuro muito imediato em que o IN3+ permite a disseminação [destas ideias] em algo muito concreto”, explicou a Presidente do Conselho de Administração da INCM, Dora Moita, após a cerimónia de entrega dos prémios, que decorreu no edifício da Casa da Moeda, em Lisboa, a 22 de Fevereiro.

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“É fundamental que se dê o exemplo. A INCM, enquanto sector empresarial do Estado, [tem] este prémio que aposta na academia portuguesa e em startups e consegue, pela sua actividade normal, corporizar essas ideias e transformá-las em produto.” Dora Moita, Presidente do Conselho de Administração da INCM

No caso da disponibilização para o público da AYR.ID, “será um passo de gigante para o mundo conseguirmos levar isto avante”, referiu o director de novas tecnologias de negócio do CeiiA, Pedro Gaspar, mas “temos de andar rápido”. O ser humano tem o desafio de, em seis anos, conseguir reduzir em 45% as emissões globais de CO2. Cada cidadão pode, e deve, passar da reflexão sobre este problema para a acção. É aí que surge a AYR.ID, a identidade climática digital de cada um, que quantifica em tempo real a contribuição individual para a sustentabilidade no dia-a-dia, motivando alterações de comportamento.

“Temos de ser capazes de criar novas ferramentas para aqueles que querem ser agentes de mudança”, descreveu Pedro Gaspar. “Quando falamos de evitar emissões, o contributo de cada um de nós parece pouco, mas quando escala em exponencial, o somatório de todos mexe o fiel da balança”, concretiza o director de novas tecnologias de negócio do CeiiA.

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“É fundamental ter parceiros como a Casa da Moeda que nos permitam levarmos [o projecto] para o mundo, senão não vamos ter escala suficiente para responder ao desafio”, Pedro Gaspar, director de novas tecnologias de negócio do CeiiA

Alinhados com os pilares da INCM

O Prémio IN3+, que tem o Alto Patrocínio do Presidente da República e a parceria institucional da Agência Nacional de Inovação (ANI), reconheceu ainda, como segundo lugar, o projeto PeT – Plataforma Privacidade e Transparência, ideia apresentada pelo INESC TEC e que se propõe a resolver este conflito existente no tratamento e disponibilização de dados, contribuindo para maior confiança dos cidadãos nas instituições.

Em terceiro ficou a QUANTSECURE, uma solução de autenticação com identificadores fotónicos quânticos não clonáveis pensada por uma equipa do Instituto das Telecomunicações do Instituto Superior Técnico e do CICECO – Instituto de Materiais da Universidade de Aveiro. O objectivo é solucionar o problema da limitada segurança existente nos procedimentos utilizados na autenticação de dispositivos, objectos e utilizadores.

“As áreas que estas três iniciativas abrangem estão muito alinhadas com os nossos pilares estratégicos: sustentabilidade e descarbonização da sociedade e dos produtos que entregamos aos cidadãos, apostas em materiais e tecnologias completamente novas”, concretizou Dora Moita.

As ideias premiadas avançarão agora, com o apoio da INCM, para a concretização através de um financiamento entre os 600 mil euros para o primeiro classificado, 250 mil para o segundo e 150 mil para o terceiro. “Para o público em geral, o prémio tem grande impacto por ser um milhão para a inovação. É uma verba significativa investida para que os projectos se concretizem. Para a INCM tem também um impacto muito grande porque muitos dos produtos que hoje produzimos e entregamos aos cidadãos têm componentes que nasceram do prémio de inovação”, referiu a Presidente do Conselho de Administração da INCM, SA, Dora Moita

Desde o lançamento do IN3+, em 2016, o prémio apoiou 11 projectos, tendo a INCM realizado um valor global de investimento em Investigação e Inovação (I&I) que já ultrapassa os nove milhões de euros.

Esta quarta edição contou com um total de 82 candidaturas, que foram avaliadas por um júri de excelência, dirigido pelo antigo Ministro da Ciência, Manuel Heitor, e que tinha entre os seus membros Alcides Gama, antigo vogal do Conselho de Administração da INCM; Isabel Furtado, Membro do Governing Committee do MIT Portugal; Maria Manuel Leitão Marques, eurodeputada e professora catedrática de Economia da Universidade de Coimbra; Sílvia Garcia, vogal do Conselho de Administração da Agência Nacional de Inovação; Vítor Constâncio, antigo Governador do Banco de Portugal e actual Presidente do Conselho de Escola do ISEG.

Uma ligação necessária entre empresas e investigação

Este que é “o maior prémio de inovação em Portugal permite estabelecer uma ponte fundamental entre a realidade empresarial e o mundo académico”, explicou a Presidente do Conselho de Administração da INCM, Dora Moita, na cerimónia de entrega.

Reconhecendo que, “em muitos casos as empresas não sabem o que as instituições estão a desenvolver e a comunidade científica desconhece o trabalho feito pelas empresas”, a Ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Elvira Fortunato, definiu o Prémio IN3+ e a INCM – com a sua rede de inovação – como “um excelente exemplo” da relação colaborativa que deve existir, porque “investigação e indústria trabalham para o bem comum”. Elvira Fortunato, que foi a vencedora da 1.ª edição do prémio, em 2016, e membro do júri na 2.ª e 3.ª edições, assinalou também que a INCM “tem sido, desde sempre, parceiro dedicado para o desenvolvimento da investigação científica [desenvolvida por portugueses], seja em Portugal ou fora do país”.

O sector empresarial do Estado no futuro

Para Mário Campolargo, secretário de Estado da Digitalização e da Modernização Administrativa, que tem o pelouro da INCM, o Prémio IN3+ “é um testemunho de como uma empresa com sete séculos de história se mantém actual com tão proveta idade e assumindo a inovação como principal referencial para a sua actividade. Uma inovação para reivindicar o futuro – e talvez, criá-lo.”

Num debate sobre Inteligências e Inovação, que decorreu durante a cerimónia, com os contributos de João Gama, Coordenador da Estratégia Nacional de Inteligência Artificial, e de Gustavo Miller, Director de Marketing da Defined.ai, a responsável da INCM sublinhou precisamente a responsabilidade que o sector empresarial do Estado tem em “dar o exemplo na adopção destas novas tecnologias”, como são os projectos inovadores premiados pelo Prémio IN3+. Dora Moita acrescentou ainda a confiabilidade, que fora também referida pelos três finalistas nas apresentações das suas ideias: quando se atribui o selo de aprovação da INCM, “provamos que [estes projectos] são credíveis”.

Mesmo sabendo que alguns têm um “caminho longo pela frente até à sua utilização prática”, a presidente do Conselho de Administração da INCM exemplificou com a perenidade da empresa a que preside: “A Imprensa Nacional tem 255 anos, a Casa da Moeda tem 755 anos. Em regra, o sector empresarial do Estado mede o tempo de forma diferente de uma empresa privada, daqui a 250 anos continuamos a ter moeda, um documento de identificação, não sabemos é em que formato. Temos obrigação de fazer essas apostas.”