Março de 2024 é o décimo mês de recordes de temperatura sucessivos

Há quase um ano que estamos a viver temperaturas médias recorde, tanto do ar como dos oceanos, diz o serviço europeu Copérnico, que salienta a urgência de reduzir as emissões de gases de estufa.

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A Primavera chegou em força a Moscovo em Março MAXIM SHIPENKOV/EPA
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Março de 2024 foi o mais quente a nível global de qualquer outro mês de Março desde que há registos: a temperatura média no planeta foi de 14,14 graus Celsius, ou 1,68 graus acima do que se estima ter sido a média de valores deste mês no período 1850-1900, o período de referência pré-industrial, quando começámos a lançar para a atmosfera gases com efeito de estufa.

É o décimo mês seguido a bater recordes: há quase um ano que todos os meses têm sido sucessivamente os mais quentes de sempre, comparando com os valores conhecidos para a mesma época, salienta um comunicado do programa europeu de monitorização do clima, Copérnico. Este Março bateu por 0,10 graus os valores registados em 2016, o ano que até agora tinha tido este mês mais quente, e é provável que não fiquemos por aqui.

“Em Março de 2024 continuou a sequência de recordes climáticos ultrapassados, tanto para a temperatura do ar como do oceano à superfície, sendo o décimo mês consecutivo a ultrapassar recordes. Para travar o aquecimento, é necessário que haja reduções rápidas nas emissões de gases com efeito de estufa”, salientou Samantha Burgess, vice-directora do Serviço de Alterações Climáticas (C3S) do Copérnico.

As emissões de gases de estufa, no entanto, não estão a fazer essa curva descendente. Em 2023, o ano mais quente a nível global desde que há registos, aumentou a quantidade de dióxido de carbono (CO2) e outros gases (como o metano) emitidos pela indústria de produção de energia, que detém a parte de leão das emissões que espessam a camada protectora do planeta, fazendo com que a luz do Sol torne a atmosfera cada vez mais quente.

Segundo a Agência Internacional de Energia, as emissões relacionadas com a produção de energia cresceram 1,1% em 2023, para chegar a um novo recorde 37.400 gigatoneladas (Gt, ou milhares de milhões de toneladas).

A temperatura da água do mar, como salientou Burgess, continua a estar anormalmente elevada, apesar de o padrão climático El Niño, que faz com que a água do mar à superfície apresente temperaturas acima do normal, estar a dissipar-se no Leste do Pacífico, ao nível do equador. A temperatura média global da água do mar em Março, excluindo as regiões polares, foi de 21,07 graus: o valor mensal mais elevado desde que há registos, só marginalmente mais alto do que em Fevereiro (21,06 graus).

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A temperatura média em Março de 2024 no continente europeu esteve 2,12 graus acima dos valores médios para este mês no período 1991-2020. Foi o segundo Março mais quente desde que há registo na Europa, mas por muito pouco: em 2014, o termómetro subiu mais duas décimas. Foi na Europa Central e de Leste onde a anomalia de temperatura foi maior.

Para além da Europa, as temperaturas estiveram acima da média no Leste da América do Norte, na Gronelândia, Leste da Rússia, América Central, partes da América do Sul, e muitas zonas de África, Sul da Austrália e da Antárctida.

Se este Março foi quente, foi também mais húmido do que a média em várias regiões, como a Península Ibérica e de resto toda a Europa Ocidental. Algumas zonas da Escandinávia e do Noroeste da Rússia viram também mais chuva. Mas na Noruega, por exemplo, este foi um mês bem menos chuvoso do que o habitual.

Algumas regiões da América do Norte e do Sul, na Ásia Central, Japão e grande parte da Península Arábica, Madagáscar e Austrália tiveram também um mês de Março excepcionalmente chuvoso.

Pelo contrário, algumas áreas do centro dos Estados Unidos, Canadá Ocidental, Norte do México, a Ásia central, China, Sudeste da Austrália e a maior parte da América do Sul e da África do Sul tiveram condições mais secas do que o costume para a época.

Quanto ao gelo nos pólos, continuam as tendências dos últimos anos. A extensão máxima de gelo do ano no Árctico foi atingida a 14 de Março, com valores abaixo da média. Segundo o Centro de Dados sobre Gelo e Neve dos Estados Unidos, a extensão média de gelo no Árctico em Março foi de 14,8 milhões de quilómetros quadrados (km2). Mas, no início de Abril, já tinha diminuído em 278 mil km2.

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Incluindo os valores de 2024, a tendência linear de redução na extensão de gelo no Árctico em Março é de 2,4% por década, relativamente à média entre 1981 e 2010, fazendo antecipar que, dentro de alguns anos, o oceano no topo do mundo pode estar livre de gelo no Verão. “Desde 1979, a perda de gelo no Árctico em Maço é de 1,6 milhões de km2, o que é mais ou menos o equivalente às dimensões do Irão ou do estado [norte-americano] do Alasca”, diz o Centro de Dados sobre Gelo e Neve dos Estados Unidos.

Na Antárctida, no Pólo Sul, a extensão de gelo esteve 20% abaixo da média – foi o sexto Março com os valores mais baixos desde que se iniciaram as observações por satélite. A falta de gelo é especialmente visível no Norte do mar de Weddell e no mar de RossAmundsen, ambos na zona da Antárctida Ocidental.

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