Lisboa celebra Abril com 180 músicos em palco e a pensar nos próximos 50 anos

O espectáculo Uma Ideia de Futuro leva ao Terreiro do Paço, na noite de 24 de Abril, canções de ontem, histórias de hoje e desejos de amanhã. A direcção é de Luís Varatojo.

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Um momento dos ensaios de Uma Ideia de Futuro EGEAC
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Gaspar Varela junto à orquestra, durante os ensaios EGEAC
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Os 50 anos do 25 de Abril de 1974 vão ser celebrados em Lisboa, na noite de 24 para 25, com um espectáculo subordinado ao mote Uma Ideia de Futuro. O palco é o habitual, o Terreiro do Paço, a partir das 22h, e a direcção e concepção, este ano, volta a ser de Luís Varatojo. Este espectáculo vai ser transmitido em directo pela RTP, mas não na íntegra, já que será intercalado com outro directo, este a partir das celebrações do 25 de Abril no centro da cidade do Porto.

Em Lisboa, as festividades começam com a projecção de um videomapping feito a partir de fotografias de Alfredo Cunha e com música de Rodrigo Leão, seguindo-se o espectáculo que reúne em palco 180 músicos: a Orquestra Sinfonietta de Lisboa, os coros de Santo Amaro de Oeiras e da Escola Artística do Instituto Gregoriano de Lisboa, os solistas Marina Pacheco (soprano) e Mário João Alves (tenor) e os músicos Gaspar Varela (guitarra portuguesa), Pedro Mourato (guitarras), Francisco Santos (baixo eléctrico) e Sertório Calado (bateria).

Intercalado com histórias narradas por seis jovens actores, o espectáculo conta com músicas dos repertórios de Fernando Lopes-Graça (Acordai!), Carlos Paredes (Verdes anos), Adriano Correia de Oliveira (Trova do vento que passa), José Afonso (Traz outro amigo também, Venham mais cinco, Grândola vila morena), José Mário Branco (Inquietação, Queixa das almas jovens censuradas), Fausto Bordalo Dias (A guerra é a guerra), Sérgio Godinho (Maré alta, O primeiro dia) ou Vitorino (Queda do império), a que se juntará um inédito com letra de José Luís Peixoto e música de Luís Varatojo e Filipe Raposo (Abril é sempre Primavera).

Retrato do país

“Nunca tínhamos feito nada com tanta gente”, diz Luís Varatojo ao PÚBLICO. “Mas nós queríamos um coro grande, por isso juntámos dois coros. São 120 vozes, porque precisávamos desse poder vocal, já que vão ser eles a assumir uma parte do repertório, sem solistas. Temos uma parte que é coro infantil, outra juvenil e outra que é adulto. E os arranjos foram feitos no sentido de aproveitar os vários naipes e criar essa dinâmica entre as várias vozes.” Quanto ao repertório musical, acrescenta, “foi escolhido para servir uma ideia, uma narrativa que é construída no espectáculo e as canções vão nesse sentido. Obviamente que é um repertório da época, porque estamos a celebrar o 25 de Abril e só fazia sentido se fosse esse repertório.”

Quanto às histórias que ali serão contadas por actores jovens, Luís Varatojo diz que são elas que vão guiar o espectáculo: “São ficções, mas como se fossem experiências pessoais de malta que nasceu há 16 ou 20 anos, no máximo. No fundo, tentamos fazer o retrato possível do país, hoje, para perceber aquilo que está melhor do que estava antes do 25 de Abril, aquilo que foi conquistado com a revolução, e tentar perceber também até que ponto aqueles três D do MFA (Descolonizar, Democratizar e Desenvolver) foram conseguidos.” As histórias, diz, serão apoiadas por infografias, nalguns casos com dados estatísticos para ilustrar certas situações: “Falamos dos direitos das mulheres, da evolução na educação, no fundo daquilo que mudou para melhor. As canções colocadas entre as histórias tentam, de alguma forma, ilustrar isso.”

Além das histórias intercalares, haverá ainda projecções a acompanhar o espectáculo, explica: “As canções vão ser acompanhadas por vídeos no fundo do palco e que nós compusemos com imagens de época, da RTP, algumas de antes do 25 de Abril, outras da revolução e também do ano a seguir, centradas em 1974-75. Eu tinha oito anos quando foi a revolução e lembro-me muitos desses tempos a seguir, da alegria e daquela euforia toda, e agora fui descobrir imagens do Dia Mundial da Criança, com miúdos a fazerem pinturas murais. Também por isso, queríamos que o coro tivesse muitos jovens e crianças, para dar a dimensão daquele sonho que as crianças tinham na altura, que foi projectado pelo MFA e em que é que isso se concretizou.”

A letra para o tema inédito foi escrita propositadamente por José Luís Peixoto, recorda Luís Varatojo. “A música foi um pedido da EGEAC [empresa municipal dedicada à cultura], porque gostariam de ter alguma coisa que também simbolizasse a ideia de futuro, de apontar para amanhã, para os próximos 50, e a música é um bocado isso, um apanhado desta ideia de futuro. Do que foi, mas também do que queremos que seja, há ali um desejo de que as coisas continuem a evoluir, mas só podem evoluir se acreditarmos nesta ideia de Abril e da liberdade. É essa a mensagem da canção.”

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