Nove “dicas” para aprender a identificar borboletas

1. Escolha um dia de calor e pouco vento
“O vento é o principal inimigo de quem quer observar borboletas, pois quando está muito vento não pousam nas flores”, explica Patrícia Garcia-Pereira, presidente do Tagis – Centro de Conservação das Borboletas de Portugal. Em contrapartida, o calor é bem-vindo para as borboletas diurnas. “Elas precisam de sol e de calor, pois as asas funcionam como uma espécie de painéis [solares] para terem energia para voar”, adianta a também investigadora no cE3c – Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais, ligado à Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

2. Saia às horas mais quentes do dia
A altura ideal do dia para encontrar mais borboletas é nas horas mais quentes, entre as 10h00 e as 16h00. Este será o melhor período do dia para as observar.
Já para tirar fotografias, é diferente. “Ao pôr do Sol, começamos a ver borboletas a pousarem nas plantas, porque vão ficar abrigadas aí durante a noite”, pelo que será mais fácil apanhá-las quietas, garante Patrícia Garcia-Pereira. “Estão mais paradas e são mais fáceis de fotografar.” Pelos mesmos motivos, antes de se começar a sentir o calor, logo pela manhã, é outra boa altura do dia para registar em imagem estes insectos tão especiais.

3. Procure um local botanicamente rico
A diversidade de plantas, em especial se forem nativas, é um bom indicador para encontrar mais espécies de borboletas. “Estas dependem absolutamente da diversidade de plantas. Por isso são consideradas bons indicadores da qualidade do ambiente”, refere a presidente do Tagis. Assim, quando são adultos, é do néctar das flores que estes insectos se alimentam, através de uma espécie de pequena tromba. É também nas plantas que põem os ovos de onde nascerão as lagartas. Estas últimas, por sua vez, vão usar como alimento as folhas das plantas onde nascerem.

4… ou comece por uma estação da biodiversidade
Se não tiver ideias de locais por onde começar, pode experimentar a rede de estações da biodiversidade (EBIO) que agrupa dezenas de pequenos percursos de norte a sul do país, num projecto coordenado pelo Tagis em parceria com municípios locais. São trilhos com um máximo de três quilómetros, ao longo dos quais pode encontrar painéis informativos com a identificação de borboletas e de outras espécies que é provável encontrar. “As Ebio são um bom treino para quem quer identificar borboletas. As pessoas têm a ajuda dos painéis, que oferecem informação de base a partir da amostragem que fizemos previamente nesse percurso. Além disso, o caminho já está marcado.”

5. Leve uma câmara fotográfica
Especialmente para quem está ainda a começar, uma das melhores formas de identificar uma borboleta diurna é fotografá-la, para depois em casa procurar com calma a identificação da espécie. Pode levar consigo uma câmara fotográfica ou mesmo um telemóvel que consiga captar boas imagens.

6. Tenha cuidado com a sombra
Viu uma borboleta pousada numa flor? Então, cuidado com a sombra que faz ao aproximar-se. É que estes pequenos insectos vêem muito bem. “Podemos falar à vontade perto deles, mas, se nos mexermos, eles reagem”, nota a investigadora.
O olfacto é outro sentido que as borboletas têm bem desenvolvido. Mas, nesse caso, o que normalmente acontece é que “o cheiro de uma flor é muito mais forte do que o de uma pessoa.” Há mesmo espécies que “são atraídas por cheiros muito fortes, como, por exemplo, o cheiro de frutos em fermentação”, como acontece com a família das Nymphalidae (ninfalídeos).

7. Arme-se de paciência… e talvez de uma rede
Não é fácil apanhar uma borboleta parada o tempo suficiente para ser identificada. “Quando estamos a começar a aprender, podemos levar muito tempo a tentar tirar fotografias. É preciso muita paciência.” Uma alternativa às fotografias é o recurso a uma rede entomológica. Mas, nesse caso, avisa, há regras importantes a cumprir. “Desde logo, não podemos ficar com a borboleta e levá-la para casa. Depois, não podemos tocar-lhes nas asas, pois estaremos a tirar escamas que são muito necessárias para elas voarem.” O que devemos então fazer? “Só pegar na borboleta pelo corpo, tirar uma fotografia e largá-la logo a seguir”, aconselha.

8. Tenha atenção às cores e aos desenhos nas asas
Para identificar uma espécie de borboleta, tenha atenção a cinco coisas nas asas: as cores, as manchas, as riscas e a posição e a quantidade dos ocelos, que são minúsculas manchas redondas que parecem pequenos olhos e que ajudam estes insectos a enganar possíveis predadores. E, se não conseguir chegar a identificar a espécie, pode sempre tentar identificar as famílias a que pertencem. Por exemplo, as Hesperiidae são conhecidas como as “borboletas cabeçudas”, devido ao formato das cabeças. Já as três espécies da família das Papilionidae que ocorrem em Portugal são conhecidas por terem uma cauda, por exemplo.

9. Saiba o que distingue as borboletas diurnas das nocturnas
Para complicar um pouco, nem todas as borboletas que voam de dia são diurnas. Então, como distinguir entre borboletas diurnas e nocturnas? Muito simples: “É uma questão de estarmos atentos às antenas.” “As antenas das borboletas diurnas são sempre do mesmo tipo: terminam numa bolinha e são filiformes (lineares). As antenas das nocturnas são o mais diversas possível — em forma de pente ou filiformes, por exemplo — e não têm bolinha no final”, nota Patrícia Garcia-Pereira. As antenas são muito importantes para as borboletas porque é assim que identificam o perfume das flores. Algumas espécies poderão usar as antenas para se orientarem durante as viagens de migração. Outra pista para identificar se a borboleta que está a ver é diurna ou nocturna é reparar nas asas: as diurnas costumam fechar as asas quando estão pousadas, colocando-as na vertical. Isto não acontece para quase todas as espécies nocturnas. Em caso de dúvida, pode sempre descarregar a aplicação para dispositivos móveis Insectos Em Ordem, que o ajuda a classificar até à ordem inúmeras espécies de insectos de Portugal, incluindo borboletas. A aplicação, lançada pela Plataforma de Ciência Aberta e pelo Instituto Politécnico de Beja, baseia-se na exposição com o mesmo nome, produzida pelo Tagis.

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Paulo Ricca (arquivo)
Nelson Garrido (arquivo)
Paulo Ricca (arquivo)