SpaceX adia voo para retirar astronautas “presos” no espaço há nove meses

A próxima oportunidade de lançamento não será antes desta sexta-feira, avisa a NASA. Dois astronautas estão há nove meses seguidos no espaço numa estadia que estava prevista para oito dias.

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Suni Williams (esquerda) e Butch Wilmore na partida da missão para o espaço, em Junho do ano passado Joe Skipper/REUTERS
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A NASA e a SpaceX adiaram na noite desta quarta-feira o lançamento de uma tripulação substituta de quatro astronautas para a Estação Espacial Internacional e que daria início ao tão aguardado regresso dos astronautas norte-americanos Butch Wilmore e Suni Williams – “presos” no espaço há nove meses.

A NASA estava pronta para lançar um foguetão da SpaceX a partir da Florida, levando uma tripulação de substituição para a Estação Espacial Internacional, numa missão que prepararia o regresso à Terra de Butch Wilmore e Suni Williams, retidos no espaço durante nove meses após uma viagem no defeituoso veículo Starliner da Boeing.

O lançamento foi cancelado devido a um problema no sistema hidráulico de um braço de fixação de suporte terrestre do foguetão Falcon 9, da SpaceX, segundo informou a NASA em comunicado. As equipas de lançamento estão a trabalhar para resolver o problema, afirmou noutro comunicado.

A NASA revelou que está a planear novo lançamento, mas nunca antes das 19h03 (ou seja, 23h03 na hora de Portugal continental) desta sexta-feira, depois dos responsáveis pela missão terem negado uma tentativa de lançamento para esta quinta-feira devido aos ventos fortes e à chuva prevista para a rota de voo do veículo Dragon – que transportará os astronautas até à Estação Espacial Internacional, impulsionado pelo foguetão Falcon 9.

Se esta missão, apelidada de Crew-10, for lançada esta sexta-feira, os astronautas da missão Crew 9 (Butch Wilmore e Suni Williams) sairão da estação espacial na próxima quarta-feira, 19 de Março.

A agência espacial norte-americana antecipou a missão em duas semanas, depois do Presidente dos Estados, Donald Trump, e o seu conselheiro Elon Musk, que é em simultâneo director-executivo da empresa SpaceX, terem pedido que Butch Wilmore e Suni Williams fossem trazidos de volta à Terra antes do que estava planeado pela NASA.

Oito dias em nove meses

Butch Wilmore e Suni Williams tinham uma estadia planeada na estação de oito dias, no entanto, o veículo Starliner regressou à Terra no ano passado sem os dois astronautas. “Este é o meu lugar feliz”, disse Suni Williams, numa conferência da NASA em Setembro em que os astronautas lembraram que são treinados para esperar o inesperado – como esta longa incursão imprevista na Estação Espacial Internacional.

O foguetão da SpaceX que levaria a Crew-10 para recuperar os dois astronautas estava programado para descolar do Centro Espacial Kennedy, no Cabo Canaveral (Estados Unidos), às 23h48 desta quarta-feira, com uma tripulação de quatro astronautas (dois norte-americanos, um japonês e um russo). O intuito será trocar os tripulantes da estação internacional.

Butch Wilmore e Suni Williams têm trabalhado em investigação e manutenção com outros astronautas presentes na Estação Espacial Internacional e estão em segurança, explica a NASA. A 4 de Março, Suni Williams disse aos jornalistas que está ansiosa para ver a sua família e os seus cães quando regressar a casa.

“Foi uma montanha-russa para eles, provavelmente um pouco mais do que para nós”, disse Suni Williams sobre a sua família. “Estamos aqui e temos uma missão. Todos os dias são interessantes porque estamos no espaço e é muito divertido.”

A missão Crew-10 seria normalmente considerada como uma rotação normal dos astronautas. No entanto, a política envolveu-se, já que Donald Trump e Elon Musk tentaram – sem provas – culpar o antigo Presidente Joe Biden pelo atraso no regresso de Butch Wilmore e Suni Williams.

“Acabei de pedir a Elon Musk e à SpaceX para irem buscar os dois bravos astronautas virtualmente abandonados no espaço pela Administração Biden”, disse o Presidente norte-americano na rede social Truth Social. Após uma série de acusações, o astronauta Andrew Mogensen reiterou que esta “é mentira”. Na resposta, Musk apelidou Mogensen de “idiota”, afirmando que tinha oferecido directamente ajuda para trazer os astronautas mais cedo.

Ora, isso foi desmentido pelo antigo administrador da NASA, Bill Nelson (demitido aquando da posse de Donald Trump), ao jornal Washington Post: “Não houve qualquer discussão sobre isso. Talvez tenha enviado mensagem a outra pessoa com menos responsabilidades.”

As exigências de Donald Trump e Elon Musk para um regresso mais rápido dos astronautas são uma intervenção invulgar nas operações de voos espaciais da NASA. A missão estava prevista para 26 de Março, mas a NASA acabou por trocar a cápsula da SpaceX que levaria os astronautas e estava atrasada por uma que ficaria pronta mais cedo – aproveitando a interferência do dono da empresa, Elon Musk.

Quando a nova tripulação chegar à estação, Butch Wilmore, Suni Williams e outros dois astronautas (o norte-americano Nick Hague e o russo Aleksandr Gorbunov) poderão regressar à Terra numa cápsula que está acoplada à estação espacial desde Setembro, no âmbito da missão Crew-9. No entanto, embora a cápsula esteja lá, os astronautas não podem partir até que a Crew-10 chegue de modo a que a estação tenha astronautas suficientes para a sua manutenção, explica a NASA.

Butch Wilmore e Suni Williams viajaram para a estação em Junho do ano passado como a primeira equipa de testes do Starliner da Boeing, que sofreu problemas no sistema de propulsão no espaço. A NASA considerou muito arriscado os astronautas regressarem no mesmo veículo – o que conduziu ao plano actual de os trazer num veículo da SpaceX.

A Boeing construi o Starliner ao abrigo de um contrato de 4500 milhões de dólares com a NASA para competir com as cápsulas Crew Dragon da SpaceX, que desde 2020 têm sido o único veículo da agência espacial norte-americana a enviar tripulantes da Estação Espacial Internacional. A missão do ano passado marcou o primeiro voo de teste do Starliner com astronautas a bordo, um requisito antes de a NASA certificar o veículo para missões de rotina.

Os problemas de engenharia e as derrapagens orçamentais têm atormentado o desenvolvimento do Starliner desde 2019, colocando-o muito atrás da SpaceX, desenvolvido com um contrato semelhante com a NASA que valeu pelo menos quatro mil milhões de dólares.