Óscar Silva é Jibóia. Jibóia é uma viagem encantatória, serpeante (o nome não é fruto do acaso) por um mundo de sons criado para nos atrair. Da guitarra soltam-se chamas de psicadelismo rock’n’roll que avançam sobre as espirais das escalas musicais do Oriente. Sob ela o ritmo, insistente como em rave muito moderna e muito ancestral, e os sons sacados a teclados baratos que, nas mãos de Óscar Silva, se transformam em matéria riquíssima.
Badlav, o álbum de estreia editado em 2014, foi gravado com Ana Miró (a Sequin de Penelope), cuja voz deu ao conjunto um travo de Bollywood subterrânea, misteriosa. Agora é a vez de se apresentar Masala. A Jibóia continua a serpentear, mas os movimentos são mais amplos e denunciados. Ao lado de Óscar Silva encontramos o baterista Ricardo Martins (ex-Lobster, Cangarra, parceiro de Filho da Mãe em Tormenta, álbum que é editado esta sexta-feira).
A música ganhou peso, tornou-se mais negra e ameaçadora. Mas não nos assustamos, mergulhamos sem olhar para trás. O prazer do transe que a música suscita elimina qualquer receio, como comprovará quem se deslocar aos concertos de apresentação de Masala, esta sexta-feira na Galeria Zé dos Bois, em Lisboa (22h, com os portuenses Torto na primeira parte), ou sábado no Teatro Municipal Rivoli, no Porto (22h, concerto inserido no programa Understage do festival Intermitências).
Ao falar de Jibóia, tendemos a olhar para o Oriente, mas há muito mais mundo que o turco ou indiano, as referências habituais, no caminho desta serpente. É prova disso a playlist que Óscar Silva e Ricardo Martins prepararam para o Ípsilon, onde cabe música etíope, jazz norte-americano, folk argentina, afro-beat nigeriano ou electrónica de Baltimore."